sexta-feira, abril 27, 2012

À Moda Antiga


Hoje eu não quero
saber de computador
Só vou brincar no quintal
Vou pintar o sete com lápis de cor
Pra colorir o meu mundo real
Hoje eu vou fazer de conta
Que o vídeo-game não liga
E que a televisão pifou
Vou me divertir à moda antiga
Como a minha vó me contou
Pique-esconde, amarelinha, cabra-cega
Duro ou mole, Polícia e ladrão
Barra-manteiga, três-Marias, pega-pega
Eu vou voltar no tempo
e na imaginação
Quando a gente é inventava as regras
E inventava a moda,
sempre de pé no chão
Não tinha celular, não tinha internet
Mas tinha bicicleta, rolimã e patinete
Não tinha DVD, não tinha MP3
Mas tinha cantiga de roda e "Era uma vez"
Eu quero por um dia ser feliz
como foi o meu avô
Rodando pião, jogando iô-iô
Pique-esconde, amarelinha, cabra-cega
Duro ou mole, polícia e ladrão
Barra-manteiga, três-Marias, pega-pega
Eu vou voltar no tempo
e na imaginação
Quando a gente é que
inventava as regras
E inventava a moda
Sempre de pé no chão
Marcelo Quintanilha



FIM DO MUNDO, de Cecilia Meireles

A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.


Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.


Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.


Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste - mas que importância tem a tristeza das crianças?


Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.


Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.


O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos - além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.


Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.


Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus - dono de todos os mundos - que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos - segundo leio - que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.


Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos - insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.


Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês...






Texto extraído do livro "Quatro Vozes", Distribuidora Record de Serviços de Imprensa - Rio de Janeiro, 1998, pág. 73.









quinta-feira, abril 26, 2012

E a vaca foi para o brejo...

Expressão também bastante conhecida... rsrsrs

Certa vez, Mestre & Discípulo peregrinavam por distantes pastagens quando um dia
encontraram acolhida em um casebre habitado por uma família muito simpática
mas que (sobre)vivia em parcas condições de miséria.
Embora fossem boas pessoas, seus recursos materiais eram aparentemente limitados,
a pobreza era o seu cotidiano e mal se sustentavam graças a uma única
e magrela vaca a qual fornecia o leite que servia de alimento
e o pouco que sobrava era vendido por uns trocados.
Na hora de partirem, o Discípulo apiedado da situação daquelas pessoas,
perguntou ao Mestre se algo podiam fazer por eles.
O Mestre em sua sabedoria disse:
- Jogue a vaca no precipício....
- Mas Mestre... interpelou o Discípulo.
- Jogue a vaca no precipício.... ou suma com ela! Reiterou o Mestre.

O discípulo, sem compreender a intenção do Mestre cumpriu seus desígnios
ainda que muito contrariado.
E assim, a vaca sumiu...e a família ficou sem ela.
Os anos se passaram.
Desde aquele incidente o Discípulo não mais tivera paz em seus dias,
sentindo remorso por ter privado aquela família bondosa de sua única fonte de sobrevivência.
No intuito de se redimir e obter o perdão,
o Discípulo resolveu então voltar àquela erma região
e encontrar aquelas pessoas que com as quais havia cruzado o caminho
e interferido em suas vidas de forma tão brusca.
Mas, para seu espanto, o Discípulo não conseguiu reconhecer a região.
Onde antes havia uma região árida, encontrou terras cultivadas.
Próximo de onde era o casebre, um palacete.
Sua angústia tornou-se então ainda maior.
Supôs que a família fora obrigada a vender a casa e o terreno,
visto que não tinham mais a vaca para sobreviver.
Decidido então encontrar pistas do paradeiro daquela pobre família,
o Discípulo resolveu interrogar os novos moradores.
Aproximou-se da bela casa e encontrou seus proprietários na piscina, divertindo-se.
O discípulo então levou o maior susto: Eram as mesmas pessoas, aquela "mesma" família que antes encontrara, agora com aparência mais saudável e feliz.
Sem nada entender, o discípulo perguntou pelo milagre ocorrido naquele lugar.
- Que milagre que nada...
- respondeu o pai de família, com sorriso no rosto.
- Certo dia, quando acordamos descobrimos que aquela nossa vaca,
da qual tirávamos nossa sobrevivência, havia desaparecido.
Diante disso, arregaçamos as mangas em busca de novas soluções,
trabalhamos muito, voltamos a estudar e criar formas alternativas
de produção e fomos ao longo do tempo prosperando
e hoje somos donos de todas essas terras que nos cercam...
"Tudo isso começou depois que a vaca foi para o brejo"...
É o dia em que deixamos a acomodação de lado e decidimos agir e viver a plenitude de
nossas potencialidades !!!
E o Discípulo, então, compreendeu a sabedoria do Mestre!
Com o Fraternal Carinho de sempre
Beijos azuis no coração
Abraços de Luz,
Paz sempre,
Amor tb,