PEDAÇOS DE VIDA



O CASO DE HOJE
Depois de ter estado a falar com o meu querido amigo Carlos Gil, decidi abrir um blog,
para nele debitar, todas as coisas idiotas ou nem tanto, que me vão acontecendo no dia a dia.
Só que, para construir este blog, não dei dois nem três passos, dei por aí uns quinhentos...
Dá realmente vontade de rir. Quando disse ao Carlos que não era capaz de abrir o blog, ele, ó tristeza, ó infortunio,
ó isulto vil, maior de todos os insultos, chamou-me LOIRA!!!!.
 Logo eu, que tenho os cabelos da cor da neve!
Depois de muito fazer, apagar, refazer, lá consegui construir o blog, não é muito ao meu jeito,
não era isto que eu queria, mas, seguindo o conselho de quem sabe mais do que eu nestas coisas
de bloguisses, este vai dar para eu me familiarizar nestes eventos (acho que são inventos, serão?)
bom seja lá o que for aqui está o meu blog, novo, acabadinho de sair da forja, ainda com um cheirinho,
 a talco e água de colónia, como um recém-nascido que se presa.
A partir de agora, é só dar largas á imaginação, e cá vou eu, embalada nas doces e suaves ondas da net. Net,maravilha das maravilhas! Companheira de jornada já lá vão uns bons seis anitos.
Jé nem saberia viver sem ela; modernices como diria a minha querida e santa Avozinha.
E, como já estou aqui "agarrada" ao PC, navegando, há um bom par de horas,estou cansada, e,
com uma forte dor no pescoço e nas costas. Estas desbragadas noites de navegação, já não são para a minha idade, ou serão? Lylybety
******************

Premonição, intuição, impressão? Ou simples coincidência?
Chamem-lhe o que quiserem, só posso garantir que aconteceu.
Há muitos anos, vivia eu em Moçambique de onde nunca pensei voltar, mas infelizmente voltei; esta historia aconteceu em véspera de Natal, com um casal nosso conhecido. Devo esclarecer que eu apenas conhecia a senhora, encontravamo-nos no cabeleireiro, na cooperativa enfim, onde nós mulheres costumamos ir sem os maridos, rsrsr.
Este casal tinha 2 filhos, um rapaz e uma rapariga, que por sinal eram colegas de escola dos meus filhos.
Nessa altura a filha estava em casa duns amigos em Lourenço Marques, hoje Maputo, e o pai queria ir buscá-la, ou então queria que fossem lá passar o Natal, mas queria ir de motorizada, ao que a esposa se opunha.
Ela queria ir sim mas na camioneta da carreira Teresa Lino & Filhos, assim se chamava a dita.  Discutiram, quase chegaram a vias de facto, ela tirou-lhe a chave da motoreta, mas ele teimou e foi. A última coisa que ela lhe disse foi:
- Queres ir vai, mas vê se és como o fumo, que vai e não volta mais.
Penso que o demo ouviu, porque ele assim fez, não voltou mais.
Toda a gente da família e amigos, viveram numa aflição sem tamanho, porque do Abílio, assim se chamava ele, não havia nem sinal.
Nem na policia nem no hospital, nada, havia sumido como o fumo sem deixar vestígios.
Sem deixar vestígios, é forma de expressão, porque alguém, que em vésperas de Ano Novo, vinha de Louramço Marques para Xinavane, ao passar em Vila Luísa, despertou-lhe a atenção uma motoreta caída na berma da estrada. Aproximou-se e constatou que era a do Abílio, pois tinha no porta-bagagem toda a sua documentação. Verificou ainda que a dita motoreta, não tinha vestígios de ter sido abalroada por qualquer viatura, pois apenas tinha o punho direito ligeiramente esfolado, também não havia sinal de derrapagem. Então dirigiu-se ao hospital para ver se alguém lá dera entrada, só havia um desconhecido, que dera entrada na véspera de Natal em coma, e havia falecido instantes antes. Essa pessoa teimou em ver o corpo e assim identificou o amigo e vizinho.
O Abílio, tinha um ferimento na base do crânio como se tivesse levado uma pancada. Mas, mediante o estado da motoreta, se levou a pancada, estava parado, pois de outro modo haveria sinais de derrapagem. O relógio estava intacto e a roupa que vestia na altura, também não tinha vestígios de ter caído em andamento. Que se terá passado? Nunca o soubemos.
Passados uns dias, eu que nunca dormia a sesta, adormeci e sonhei com o Abílio, e ao vê-lo perguntei:
- Então sr. Abílio que lhe aconteceu?
Ao que ele respondeu:
- Eu vinha de Lourenço Marques, e cruzei-me com o Ribeiro, ele parou e eu parei também, e ele….
Nessa altura chegou o meu marido que me acordou, devo acrescentar que acordei muito mal disposta, tremia como o trigo açoitado pelo vento.
Então perguntei ao meu marido, se ele sabia, se o tal Ribeiro tinha visto o Abílio, ao que ele me respondeu:
- Sim viu. E nem imaginas como ele está. Está em casa do filho, e ninguém consegue trazê-lo para Xinavane, pois ao passar a Vila Luísa, ele fica muito transtornado. E não conseguem que ele passe ali.
Mais tarde, soube-se que esse tal Ribeiro, pessoa amiga do casal, andara a cortejar a esposa do Abílio, e que lhe disse que tinha tal ódio ao marido dela que era capaz de o matar. Seria?
Foi um mistério que nunca se descobriu.
E como é que eu sonho com alguém que nunca vi?
Passados alguns, senão muitos anos, havia na TVI, um programa da Fátima Lopes, subordinado ao tema paranormal. Casualmente eu estava a assistir, e oiço a Fátima chamar uma senhora, para mim completamente desconhecida.
Mas, quando a vi, lembrei-me do caso do Abílio. E não é, que quando a dita senhora, presta o seu testemunho, fala exactamente desse caso?
Contava ela, que eram amigos, ela tinha sonhado com ele, e no sonho, ela terá previsto a morte dele, de modo violento. Sabia que seria assassinado, só não viu por quem. O que me encafifou, neste caso todo, foi a imediata associação que eu fiz, da dita senhora e deste caso que acabei de contar.
O tal Ribeiro acabou por enlouquecer, e não voltou a Xinavane, pois não havia força capaz de o fazer passar em Vila Luísa.
E é tudo por agora.
Beijinhos
Lylybety



UM PRESENTE DE NATAL

É comum os hospitais, na semana que antecede o Natal, tentar mandar para casa o maior número possível de pacientes. No entanto, alguns sempre necessitam permanecer.
Esses são atendidos pelos médicos que se oferecem como voluntários para trabalhar na véspera e dia de Natal ou que obedecem à escala pré-fixada pela instituição hospitalar.
Naquele Natal, Raquell estava um tanto chateada. Por ser solteira, fora escalada para trabalhar naqueles dias, permitindo assim que seus colegas ficassem com seus cônjuges, filhos ou pais.
No dia de Natal, vários grupos de pessoas apareceram nas enfermarias e distribuíram lembranças aos pacientes. Contudo, ao cair da noite, eles encontravam-se em suas casas.
O imenso hospital ficou em silêncio. Muitos leitos vazios. As poucas lâmpadas acesas nas mesas-de-cabeceira pareciam ilhas de luz na escuridão.
Raquel ia de um paciente a outro verificando o soro, indagando sobre sintomas, oferecendo medicamentos para a dor ou para dormir.
O Natal é uma época de muitas lembranças e vários dos pacientes desejavam falar sobre elas. Ela ouviu, naquela noite, muitas histórias.
Tristes  umas, emocionantes outras. Até que chegou ao leito de Júlio. Era um homem velho, a respeito do qual ninguém tinha bem certeza da idade.
Um andarilho, um desamparado. Nada mais trazia, quando chegara ao hospital, que a muda de roupa que o vestia.
Portador de enfisema crônico, os médicos  mantinham-no hospitalizado, evitando que ele retornasse ao frio intenso das ruas.
Era tímido e gentil. Alegrava-se por qualquer coisa e  mostrando-se agradecido pelos cuidados que recebia. Ele sorriu, ao vê-la.
Estendeu a mão, abrindo a gaveta da velha mesa-de-cabeceira, onde estavam guardados seus tesouros: um canivete, uma escova de dentes, uma lâmina de barbear, um pente, algumas moedas e duas belas laranjas, que recebera naquela tarde.
Ele pegou uma delas, estendeu para Rachel:
Sra. doutora, feliz Natal.
Seus olhos demonstravam o enorme prazer que ele estava sentindo em ofertar-lhe a fruta. E, de repente, muitas lembranças acudiram à memória da médica.
Recordou de sua infância, dos Natais em que sentia essa mesma alegria em dar presentes. Algo seu. Especialmente preparado, para alguém.
Tudo parecia tão distante. E tão perto. Lembrava-se de que tinha aprendido muitas coisas desde então, mas que também esquecera outras tantas.
Há muitos anos, seu avô lhe ensinara aquela mesma maneira de viver que Júlio mostrava agora. Entretanto, ao longo dos seus anos de formação acadêmica, a voz de seu avô acabara sendo sufocada pelas vozes de seus familiares, de seus colegas, de seus professores.
Ela estendeu os braços e recolheu o presente, extremamente agradecida.
Feliz Natal, Júlio. - Disse comovida, os olhos cheios de lágrimas.

* * *
É preciso muito tempo até que nos consciencializemos de que os bens preciosos que temos para dar não foram aprendidos nos livros.
Também que a sabedoria de viver bem não é conferida aos alunos mais destacados nos estudos avançados. Nem que o dinheiro possa ser importante, para se ser feliz
Os verdadeiros professores andam por toda parte.
Basta saber colher as lições que sua sabedoria nos transmite, nos gestos desprendidos, simples, despojados.
Um gesto simples como estender a mão, sorrir, desejar feliz Natal.
Repartir o presente recebido, num gesto espontâneo de profunda gratidão.

O NATAL DO SIMÃO

Na aldeia, que ficava junto do rio, bem no coração da grande mãe África, estava uma tarde quente, abafada, que prometia chuva.
As mamanas, estendiam-se langorosas debaixo da velha ancua,
que ficava mesmo no centro da aldeia, estendendo os seus braços grandes e fortes sobre ela, como que a protegê-la de alguma calamidade. Os madalas andavam na machamba, cortando cana doce.
As crianças, semi-nuas brincavam alegremente. Apenas o pequeno Simão estava ocupado a transportar água do rio, para regar a pequena machamba, onde a sua família ia buscar algum alimento.
Simão era um menino tímido, com grandes olhos negros como ébano, e um lindo sorriso branco como a neve. Não era muito dado a brincadeiras com os outros meninos, nos seus inocentes oito anos, já sentia o peso de alguma discriminação que pousava sobre ele, muito embora ele não entendesse porquê. Órfão de mãe, ainda bebé, acabou por ficar órfão de pai aos seis anos, quando este apanhado pelo fogo cruzado da guerra civil entregou a alma ao Criador. Sem mais ninguém que cuidasse dele, ficou a cargo da mamana Teresa, uma viúva já velhota, que tivera pena do menino e o acolhera.
Na savana, não se ouvia senão o barulho das cigarras e dos grilos, toda a aldeia estava em absoluto e quase letárgico silêncio.
Subitamente ouve-se um enorme ruído, Simão habituado ao silencio da aldeia, foi o primeiro a ouvir, e, correu para casa amedrontado com aquele barulho que ele nunca tinha ouvido, nem mesmo quando a chuva caía e o trovão ribombava medonho nas alturas.
Surpreendido viu uma coisa enorme, um animal para ele desconhecido.
Simão correu para a sua palhota, e ficou a espreitar pela frincha da pequena janela, aquele animal que nunca vira. Olhou, olhou, e de surpresa em surpresa, foi verificando que aquele animal andava sobre umas patas estranhas, e não tinha pernas. Depois abriu-se uma porta, e da barriga do animal saíram umas pessoas também muito estranhas, pareciam-lhe dois madalas e uma tombozana, mas muito diferentes dos que ele conhecia. Eram completamente descorados, tinam uma coisa na cabeça que em nada se parecia com cabelo, a ele fazia-lhe lembrar barbas de milho. Parecia que não tinham olhos, pois estes eram tão claros, que mal se viam.
As mamanas correram a dar as boas vindas aquelas estranhas criaturas, com grande alarido, falando uns sons esquisitos que Simão nunca ouvira. Contudo pareciam entender-se.
Um pouco a medo, mas curioso, Simão foi-se aproximando do tal animal, pensando de si para consigo que não devia ser mais feroz do que um leão. E ainda por mais, estava calado, parado, parecia inofensivo. Cada vez mais perto, reparou que o bicho tinha uma coisa que pareciam orelhas, o garoto chegou bem perto duma, e, quase deu um grito de espanto, dentro da orelha, estava o rosto de alguém, também esquisito, era um pouco mais escuro que as pessoas que haviam saído da barriga do animal, mas não tinha a bonita cor de canela da sua gente. Aquele rosto tinha um ar também assustado, Simão deu um salto para trás, e a cara também saiu da orelha.
Foi espreitar na outra orelha, e, lá estava a tal cara assustada, já mais tranquilo o menino fez uma careta, e a cara fez também. Fez um sorriso, e a cara também fez. Correu para a outra orelha, e lá estava ela a sorrir para si. Que estranho, pensou, aquela cara andava de um lado para o outro, mas onde estavam as mãos? E os pés? Estariam dentro das orelhas?
Andava o garoto nesta azáfama, quando mamana Teresa chamou:
Simão, buia alene! Parecia zangada, porque seria? Ele não tinha feito nada de mal, e a machamba estava toda regada e fresquinha…
Pé ante pé, com muito medo o garoto aproximou-se daquelas estranhas criaturas. A que parecia uma tombozana, correu para ele e começou a abraça-lo e a beijá-lo, enquanto chorava.
Mamana Teresa também chorava. Que estranho era tudo aquilo. A senhora sem cor, emitia uns sons, que ele não entendia, era uma espécie de dialecto que ele nunca tinha ouvido. Ao fim de alguns minutos, abraçaram a mamana Teresa, pegaram no garoto meteram-no dentro do estranho animal e foram pela savana fora, numa correria doida, nem a chita ou a impala corriam tão depressa. Simão estava tão assustado que nem conseguia chorar, apenas se encolhia, nos braços que teimavam em abraçá-lo,  e, onde estranhamente ele se sentia muito bem. Nunca o tinham abraçado assim. Acabou por adormecer ao som do ronronar daquele estranho animal.
Quando abriu os olhos era noite. Espantado viu que estava num lugar muito estranho, havia umas casas grandes, e parecia que todas as estrelas do céu tinham descido para ficarem penduradas nas ruas, nas casas e nas árvores.
Estava atordoado, mas estava também maravilhado. Nunca tinha visto nada assim. Naquela aldeia grande, as pessoas eram todas sem cor, mas eram bonitas. Havia umas mais escuras do que outras, para seu espanto.
A senhora que o abraçava, levou-o pela mão para uma casa muito grande, á porta estavam duas pessoas iguais ás da sua aldeia, mas ele não os conhecia. Começaram a falar com ele, e explicaram-lhe que aquela senhora que o abraçava era irmã de seu pai, que tinha desaparecido no mato quando começou a guerra civil. Simão fora levado pelo mainato, para que nada de mal lhe acontecesse, mas este morrera, e, julgavam que o garoto também havia morrido. Disseram-lhe também que seus pais estavam na metrópole, e que o seu velho mainato, antes de morrer tinha tido tempo de ir á cidade grande, e, comunicar ás autoridades onde tinha escondido o menino. Mas só agora que a guerra tinha acabado, chegara ao conhecimento da tia, o lugar onde o encontraria. Então ela fora buscá-lo. Simão compreendeu então que pertencia á tal raça maldita de quem falavam os homens e as mulheres mais jovens da sua aldeia, e contra os quais combateram,  nessa guerra que ele nunca vira, mas na qual morreram quase todos esses jovens. Compreendeu, porque era discriminado, e porque o seu “pai”, não era bem visto por eles, é que o seu pai achava que os “brancos” nem todos eram como a propaganda dizia. Ficou a saber também o que era a “metrópole” e o melhor de tudo compreendeu e sentiu que tinha família e que essa família o amava.
Aturdido, Simão descobriu que afinal tinha mãe e pai, como os outros meninos da sua aldeia. Aqueles que ele julgara serem seus pais eram afinal os empregados dos seus pais verdadeiros. Enquanto ia falando, a jovem criada, ia levando Simão para uma outra casa, onde havia uma grande kuana cheia de água, morninha, onde ela depois de lhe tirar os farrapos que ele vestia, o mergulhou.
O medo tinha passado. Simão estava encantado com tanta coisa nova. Depois do banho, vestiram-lhe umas roupas novas, e bonitas. O garoto nunca tinha visto nada assim, descobriu que o seu cabelo não era igual ao da senhora, mas também não era igual ao da criada, era negro como asa de corvo, de caracóis suaves e macios.
Depois de pronto, a jovem negra levou-o a ver-se numa espécie de janela, que ela dizia ser um espelho, e imagine-se o espanto do garoto, quando verificou que nele estava aquela cara, que ele vira nas orelhas do animal barulhento.
Josefina, assim se chamava a jovem negra, explicou-lhe então, que, aquele era ele próprio. Pobre Simão nunca tinha visto um espelho, lá na sua aldeia, não havia espelhos nem muitas outras coisas.
Assim, o pequeno Simão começou a passear na cidade grande, maravilhando-se com tudo o que via e ouvia. Também com o correr do tempo foi aprendendo a falar aquele idioma para ele esquisito, e já ia entendendo o que lhe diziam, sobretudo porque as manifestações de amor e carinho eram tantas…
A Josefina, contou-lhe então que, a tia estava a tratar da sua ida para o pé dos pais, que o aguardavam junto dos avós, dizia-lhe ela, que iria lá passar o Natal.
- O Natal? O que é o Natal?  Pergunta ele
- É a festa de aniversário de Nosso Senhor
-E Nosso Senhor, é o Xicuembo?
- Sim é esse mesmo.
Que lindo! Que festa maravilhosa, tantas luzes, tanta gente, tantas lojas!
A tia comprou-lhe roupas, brinquedos, doces, enfim Simão andava nas nuvens, com tanto carinho e entusiasmo.
Havia também uma coisa esquisita, que tocava fazendo rim…rim… e que quando ele punha no ouvido saíam de lá vozes, vozes que a Josefina dizia serem do pai e da mãe, era engraçado como eles cabiam naquele bichinho esquisito e pequeno.
No dia aprazado, ele e a tia embarcaram para o Porto, os pais de Simão viviam na Régua, ao chegar ao aeroporto, Simão agarrou-se muito ás saias da tia, com medo daquela enorme ave, que parecia engolir muitas pessoas, o pequeno não conseguia entender como cabiam tantas, no papo da ave. Começou a tremer e a chorar, então a tia explicou que aquilo era um avião, e esse avião o levaria para junto do pai e da mãe, aquelas palavras, pai e mãe, foram um tranquilizante para o garoto.
E, lá embarcaram. E quantas surpresas maravilhosas mais, para o garoto, ele era ir junto da nuvens, ele era ver pessoas a correr e a cavalgar numa parede, mas só ás escuras, porque quando vinha a luz, tudo desaparecia, a tia explicou-lhe que era cinema. Eram umas senhoras que lhe trouxeram comida, e o mais excitante, ele podia andar e correr dentro daquela coisa que parecia um pássaro, e que a tia dizia chamar-se avião. Por fim Simão adormeceu, e sonhou com a sua aldeia, até que ouviu a mamana Teresa chamar:
- Acorda Simão, acorda!
Mas ele não queria acordar, ele não queria carregar mais água para a machamba…
Sentiu os lábios da tia na sua face, e abriu os olhos, não ele não iria mais carregar água, ele estava com a tia e ia conhecer os pais, que afinal não não tinham morrido como ele julgava.
Já toda a gente começava a sair, até chegar a vez deles, a tia tinha-lhe vestido uma roupa muito quente, mas que coisa estranha ele não tinha calor. Quando chegou á rua, estava a cair do céu uma coisa branca e fria, não era chuva, mas era agradável. A tia disse-lhe então que era neve. E que linda era a neve…
Já na rua esperava-os os seus pais, os outros tios, os primos os avós, enfim mais gente do que havia lá na sua distante aldeia.
Aquela cidade era muito diferente do sitio de onde ele vinha, havia árvores, todas iluminadas, cheirava bem, um cheiro que ele não conhecia, mas que ficou a saber, ser de castanhas assadas.
Quando chegaram a casa, tudo tinha um ar de festa, havia muita comida, uma árvore com muitas luzes bolinhas e laços de fita, era linda! Havia também uma aldeia pequenina, que a mãe lhe disse ser um presépio.
Foram todos jantar. Quanta comida! E era boa. Era diferente da comida da casa da tia, mas muito boa também. Depois do jantar, o pai sentou-se com ele no chão junto do presépio, e começou a contar-lhe a história do nascimento do menino Jesus, até que o garoto, completamente exausto devido á viagem e a tantas emoções acabou por adormecer, feliz com tudo o que lhe estava a acontecer.
A mãe acordou-o de manhã, dizendo, vem Simão, vem depressa, vem ver o que o menino Jesus te colocou no sapatinho!
Simão meio ensonado, correu para ver, e eram tantas coisas maravilhosas, coisas que ele nem imaginava que existissem. Mas de tudo o que Simão mais gostou, foi dum pedaço de papel onde estava o seu “pai” negro, com um bebé, ao colo. Disse-lhe o pai, que esse bebé era Simão.
Simão emocionou-se e chorou, um choro baixinho e sentido. Ele pensava que nunca mais iria ver o seu “pai negro” mas afinal, o seu pai branco tinha-o guardado naquele pedaço de papel, e Simão podia olhar para ele sempre que quisesse.
Por fim acabou o Natal, e a tia teve de voltar para Maputo. Simão, estava feliz com seus pais, gostava de brincar na neve, com os outros meninos vizinhos, mas tinha muitas saudades do sol da sua terra natal, e jurou a si mesmo que havia de lá ir um dia passar o Natal na sua aldeia……

Arroja, 20 de Novembro de 2008-11-20
Maria Isabel Galveias



A DAMA DO MONTE


Não estava lá!
Ainda não tinha chegado
Aquela paisagem agreste e linda, sem ela perdia todo o encanto.
Fazia falta, sentada naquela pedra, com o olhar vago, perdido  na planície...!
Mas quem fazia falta?- perguntarão.
Ela!  Era ela, quem fazia falta ali no monte, ela que fazia parte daquela linda e agreste paisagem.

Era uma senhora de meia idade; ainda se podiam ver nela, vestígios de uma beleza, que, havia já algum tempo tinha perdido o fulgor.
Quem visitasse o monte da Piedade, num Sábado aquela hora, decerto a veria, ensimesmada, com o olhar perdido em longínquas paragens. Quem sabe, se recordando momentos felizes da sua juventude?!
Ás vezes quando a observava mais atentamente, notava-lhe nos lábios um sorriso enigmático, enquanto lágrimas cristalinas lhe deslizavam pelo rosto, sereno, sem uma contracção ou franzimento.  Que recordaria ela? Que acontecimento no seu passado, a faria chorar e sorrir em simultâneo?
Outras vezes, com um caderno  assente no colo, escrevia...escrevia, quase em frenesim como se quisesse agarrar as lembranças antes que estas desaparecessem.
Qualquer que a visse, sentia uma enorme curiosidade...
Quem seria? Como se chamava? De onde vinha?
Quando acabava de despejar os seus pensamentos para a folhas brancas do seu caderno, a Dama do Monte, levantava-se, olhava em redor com um olhar sonhador, alisava mecanicamente o cabelo e a saia e entrava no seu velho carro arrancando suavemente, como que tendo pena de deixar o monte e a calma que nele reina...!
Nós, olhava-mos para ela de longe. Aquela senhora parecia-nos uma miragem inacessível. Pensava-mos todos, que, se nos aproximasse-mos ela se esfumaria no espaço e nunca mais a veríamos ali. Para nós era impensável o Monte da Piedade sem a Dama misteriosa. Se isso acontecesse, toda a magia e encanto daquele lugar desapareceria.
Tinha chegado a Primavera. Os dias tornaram-se maiores e mais soalheiros. Nós aguardávamos a chegada da enigmática senhora.

Os últimos dias tinham sido de muita chuva, por isso não podemos sair e passear pelo Monte, a nossa esperança era que também a velha senhora não tivesse ido, e que portanto, viesse hoje.
Sentados na escadaria da Igreja, esperava-mos que o velho Fiat aparecesse na curva da estrada, mas já a tarde declinava, e do carro nem vestígios...!
Olhavamo-nos  interrogadoramente,  viria? Não nos atrevia-mos a sair dali. E se ela viesse e nós não a víssemos?
Tinha-mos decidido que quando ela chegasse nos havíamos de aproximar e tentar falar-lhe.
Muito agitada a Sara afirmava:
Eu não lhes dizia? É uma fada! Como adivinhou que queríamos falar-lhe desapareceu......
O André muito senhor dos seus conhecimentos espaciais respondeu:
Que fada que nada! Veio de outro planeta. Eu bem vi quando um ovni aqui desceu e ela saiu! Eu estava sentado na janela do meu quarto. Era uma noite muito escura, só se viam as luzes da nave. Abriu-se uma porta e a Senhora saíu envolta numa cortina de fumo, que eu bem vi!!!
O André quase gritava perante o meu olhar de dúvida e o meu sorriso trocista....
Ninguém pode duvidar do que vejo, ninguém!!!
A Sara esticava o pescoço para espreitar a estrada, mas nada, nem carro nem senhora.....nada!
Timidamente a Sofia comenta:
Mas que ideia a nossa querermos falar com ela. E tudo só por causa de um cão sem dono.....Agora já não vem mais....! E se....se?
Se o quê Sofia? – pergunta o André de cenho franzido
Se ela...?
???????
se ela morreu! Pronto já disse. – A Sofia corou como se tivesse dito um palavrão.
Nem penses uma coisa dessas! – dissemos todos em coro. - Isso não pode ter acontecido.....seria o fim...
 E tão agitados estávamos, gritando um mais do que o outro, que só parámos quando ouvimos uma vós calma e doce que perguntava:
Seria o fim de quê garotos?
Silêncio. Olhamos todos como que enfeitiçados, e, lá estava ela, a Dama do Monte sorridente, com um pequeno ramo de flores silvestres na mão.
Afinal ela falava – pensamos maravilhados.
Um pouco a medo, mas mais afoita do que nós, a Sofia aproximou-se e pegou-lhe na mão. Apalpou-lhe a saia branca de seda plissada, parecia não acreditar que fosse verdadeira....
De onde saíra? Nenhum de nós ouvira qualquer barulho, nem carro nem passos, nada...
A Sara olhava-nos zombeteira, como que a dizer-nos:
É ou não uma fada? Vêm? Eu é que tenho razão!
Enquanto o André pensava: - Só um extraterrestre pode aparecer assim sem ninguém dar por isso....
Sendo eu a mais velha do grupo, tomei para mim, a responsabilidade de iniciar a conversa, com a, para nós, misteriosa senhora.
Boa tarde minha senhora, como está hoje? – perguntei com um sorriso que me apanhava a cara toda.
Hoje como sempre, estou bem, muito obrigada. – responde ela suavemente, sorrindo.
Desculpe, disse eu, estávamos falando de si.
De mim? Quanta honra! – responde com ar divertido.
E que falavam?
Olhámos uns para os outros. E agora? O que devíamos de dizer? Mais uma vez foi a inocente Sofia quem disse:
-É que a senhora não estava no sítio do costume, nós não a vimos, e receámos... Sofia parecia ter-se engasgado. André foi em seu auxílio, pensámos que a senhora tivesse.....morrido diz a Sara, como se atirasse com uma porta. Trás!
E porque seria o fim? E o fim de quê alem do meu?- pasmem ela deu uma gargalhada. Sabia rir como nós!
Bem, comecei a dizer, nós costumamos vê-la, quando se senta naquela pedra a olhar lá para baixo, sem se mexer, ou quando escreve. Para nós a sra. tem muito encanto e magia; então decidimos que, quando cá voltasse tentaríamos falar-lhe, saber quem era, donde vinha, enfim... sabe como é?-  ufa! Que discurso! Sentia-me aliviada. Conseguira dizer tudo de um só fôlego..
Muito bem. Diz a Dama; e que querem saber? Estou pronta a responder ao vosso interrogatório.
Verdade?- Perguntámos em coro.
Verdade, verdadinha, verdadeira, responde risonha, sentando-se connosco na escadaria.
Então posso começar? – pergunto um tanto ou quanto duvidosa.
Sim. – responde- podes começar.
Então lá vai. Como se chama?  De onde é? É uma fada? Uma extraterrestre?
Sorrindo ela diz:
O que para aí vai! Calma, vamos devagar.
Como me chamo? O meu nome é Dulce. Não. Não sou uma fada, e, também não sou uma extraterrestre.
Então?- pergunta a Sara, arregalando os seus bonitos olhos azuis.
Porquê tanto interesse na minha pessoa?
Senti os olhos de todos fixos em mim, como dizendo:- vamos Marta faz tu as perguntas.
Muito educadamente e tímida Sofia diz:
Primeiro deixe que nos apresentemos, eu sou a Sofia, tenho 8 anos e ando no 3º ano, esta é a Sara, tem 10 anos e está no 6º ano, aquela é a Marta, tem 13 anos está no 8º e o André também tem 13 anos e também está no 8º ano. Somos todos amigos. Abençoada Sofia sempre educada e atenciosa, sendo a mais nova, era sem dúvida a mais atenta e a mais calma..... e continua:
Sabe sra. D. Dulce, nós costumamos vir para aqui andar de bicicleta, aos fins de semana, depois de fazermos os trabalhos de casa. E sempre á mesma hora, vemos a sra. Sentada, imóvel naquela pedra....
A Sara apressadamente diz: - parecia uma estátua, até ao dia em que aquele grande cão amarelo, se aproximou deitou a cabeça no seu colo, e, a senhora lhe fez festas.
O que tem isso de estranho? Inquiriu ela suavemente
Nada - digo eu – fazer festas a um cão, nada tem de estranho. A senhora é que é estranha...
Sou? Nunca tinha dado por isso, diz soltando uma gargalhada. Atónitos, nem queríamos acreditar, que ela risse exactamente como nós.
Olhámos para ela e, pareceu-nos de repente, que ela se transformara numa jovem da nossa idade, rindo e galhofando connosco.
Então ela contou que tinha estado em África, que era viúva, que tinha filhos, que tinha netos, que....que....que...uma infinidade de histórias.
Ensinou-nos adivinhas: - o que é que é que vai deitado e vem em pé? – É um cântaro! – nenhum de nós sabia o que era um cântaro, nem a candeia que enche a casa até á telha; e, muito menos o que era uma nora com alcatruzes; mas lá que era divertido era. Rindo e brincando, não demos pelo tempo passar. Já eram perto das dez horas da noite, quando ela diz:- bem meus queridos, são horas de regressar a penates!
E, levantando-se, deu-nos um beijo quente e terno; depois seguiu para o lado de trás da Igreja e desapareceu.
Ficámos estáticos, a vê-la desaparecer......
De repente o André diz quase gritando:
- Regressar a Penates! É isso! Eu bem tinha razão.
- Razão? Porquê? Em quê? Perguntamos todas á uma.
- Nunca ouviram fala em Penates? – são mesmo estúpidas – toda a gente já ouviu falar!
Estávamos aturdidas, que raio seria Penates?
Doutoralmente o  André explicou:
- Penates é um planeta satélite da Lua, da Terra e de Marte.
- É? Mas nunca nos falaram dele...! só conhecemos nove. E começámos: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte.......
- Afinal eu tinha razão. Continua o André. A Dama do Monte é uma extraterrestre.
Não contestámos. Para quê?
Era muito mais bonito ficarmos a pensar. que ela era um ser irreal etéreo, do que uma simples mortal de carne e osso como nós.
Fomos para casa. Tomei um duche e deitei-me. Adormeci e sonhei que estava em Penates, ao lado da linda, e misteriosa Dama do Monte...Penates era um planeta lindo...! Muito verdinho........com muitas flores. E lá, as pessoas não caminhavam no chão, flutuavam como se fossem nuvens no espaço.......
Uma coisa assim só mesmo em Penates, diria o André, se podesse ver o meu sonho.
Piedade, 13 de Abril de 2001
Maria Isabel  Galveias


INDECISÕES

Não pode ser! Isto é uma loucura! Não é possível! Amanhã vou por tudo em pratos limpos. Vociferava Luís Miguel andando de um lado para o outro, parecendo um tigre enjaulado. Subitamente pára em frente ao espelho do guarda fatos, e, fazendo um ar muito austero e compenetrado diz: - Laura tenho algo de importante a dizer-te. O nosso romance chegou ao fim. Já não te amo. Tu com as tuas maneiras bruscas acabaste com o nosso amor. Ponto final e acabou-se. Luís e Laura conheceram-se três anos antes numa festa de aniversário. Tinha sido amor á primeira vista. Ao fim de dois meses de se conhecerem resolveram partilhar as suas vidas e o seu apartamento. Foram três anos de felicidade, com algumas questiúnculas pelo meio como é natural, entre qualquer casal. Mas agora Luís estava cansado. Via todos os seus amigos com uma vida completamente livre, e, ele sentia-se preso. Acorrentado a Laura que o seguia para todo lado, como é usual entre qualquer casal que se ama. Só que Luís chegara á conclusão de que já não amava a companheira. Assim resolveu ter uma conversa com ela, e, dizer-lhe duma vez por todas que o seu romance tinha acabado. Faria isso no dia seguinte. Laura era enfermeira, uma moça bonita elegante, de grandes olhos castanhos, com um olhar dulcíssimo. Amava Luís quase com idolatria, e, sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Afinal Luís era aquilo a que na gíria se chama um pão. Alto robusto, de rosto oval moreno, onde brilhavam uns olhos pretos que Laura achava serem mais lindos que estrelas. Sentia-se invejada pelas companheiras. Naquele dia, chegou a casa, e para sua surpresa tinha a mesa posta, com duas velas acesas, e uma jarra com um lindo ramo de rosas vermelhas. Ficou surpreendida, pois não esperava aquele acolhimento por parte do seu amado companheiro. Sorridente foi até á cozinha, onde ele se esmerava a fazer o jantar, sorriu-lhe beijou-o e alegremente perguntou: - Então querido o que festejamos hoje? Ao que ele respondeu meio sisudo: - Tenho algo de importante para te comunicar. - Ah sim? Então vou tomar banho num instante enquanto acabas o jantar. Venho cansadíssima, hoje tive um dia para esquecer. Vai saber-me bem ficar em casa a conversar contigo. Alegremente lá foi para o seu banho. Entretanto Luís murmurava entre dentes tudo o que tinha para lhe dizer “ pois minha querida estou farto acabou-se. Vou deixar-te. E cada um vai seguir rumos diferentes, espero que continuemos amigos, afinal já há três anos que vivemos juntos. Nenhum de nós pode encontrar melhor amigo, não concordas? Já tinha posto o jantar na mesa, e o espumante no gelo, quando ela alegre e feliz chega á cozinha. Vinha de roupão, o cabelo ainda molhado preso num rabo de cavalo, o que lhe fazia sobressair a beleza natural do rosto. Destapou a travessa e quase gritou: Lagosta? Deve ser algo de muito importante o que me vais dizer. Deixa-me adivinhar foste finalmente promovido a director? Dizendo isto sentou-se. Luís sentou-se em frente dela, encheu uma taça de espumante e começou: - Laura, a nossa vida vai ter de mudar. Não consigo mais viver contigo…. -Ao ouvir aquilo ela fica de olhos muito abertos, já com algumas lágrimas a quererem saltar. Parou de comer, fitando-o com um ar estarrecido. -Não podemos continuar assim. Não consigo viver contigo nesta situação, temos que mudar de vida…. Nesta altura ela salta da cadeira, corre para ele, abraça-o beija-o e diz-lhe: -Puxa, quase me assustaste. Neste momento o telefone toca, Laura vai atender, era sua amiga Constança, a perguntar se queriam ir ao cinema. Eufórica Laura responde: -Hoje não querida! Aconteceu uma coisa maravilhosa! O Luís pediu-me em casamento agora mesmo. Luís fica atónito ao ouvir aquilo e diz-lhe de longe: -Laura espera estás a fazer…. Pois foi Constança, continua Laura, foi uma surpresa. Ele é um querido. Foi um pedido feito com todo o requinte imagina que até fez lagosta para o jantar. Foi uma surpresa. Está bem querida, então até já. Pousou o telefone, e diz para um Luís completamente aparvalhado: -Querido, a Constança vem aí com mais alguns amigos. Mas Laura ….ia ele tentar explicar, mas, toca o telefone de novo, e Laura atende: -Olá mãe! Boa noite! Está tudo bem sim, tenho uma notícia espantosa para te contar. Claro que é boa, nem podia ser melhor, eu e o Luís vamos casar!! -Que bom minha filha! Eu e o pai vamos já para aí, temos de festejar, e já agora digo á tua irmã, não te preocupes se não tens jantar que chegue nós levamos. -Está bem mãe. Ficamos á espera Olha querido, diz ela radiante, os meus pais e a minha irmã também vem festejar este belo acontecimento connosco. Não é maravilhoso? Vou telefonar aos teus pais, não seria bonito não lhes dizer não achas? Laura parecia um torvelinho. -Mas Laura…qual quê? Laura já estava a falar com sua mãe. Olá D. Joana! Boa noite! Não nada de mal, antes pelo contrário, venham até cá, estamos a festejar. O Luís resolveu propor-me casamento. Sim, sim. Cá os esperamos então. Temos sim, hoje até há lagosta, deu uma gargalhada feliz. Claro que foi, o seu filho é um verdadeiro cavalheiro. Ok então até já. Mais uma vez, Luís tentou chamá-la á razão dizendo: -Laura estás a fazer uma enorme….. Toca a campainha da porta, ele vai abrir e, de supetão sente-se abraçado, beijado, e quase levado no ar por Constança e os amigos. Parabens! Gritavam todos quase em coro. Já não era sem tempo! Luís não sabia já, onde estava, coitado, levado por aquele vendaval de gente. Entretanto chegaram os pais de ambos, e foi um esfuziante alarido. O sr. Geraldo pai de Luís abraçou-o dizendo: -Estou muito feliz filho. Já pensava que serias como os rapazes de agora, que fazem casa, constroem família, mas tudo sem ser devidamente formalizado com o casamento. E, não te preocupes, já que decidiste e muito bem, nós pagamos todas as despesas. E entre espumante, lagosta, frango assado, batatas fritas, cerveja, pasteis de bacalhau, a festa continuou animada para os mais jovens; enquanto os pais dos noivos, conversavam sobre os preparativos do casamento. Pobre Luís apanhado naquele furacão, nem sabia já o que dizer. Apenas se deixou levar. Ele há coisas! Ficou logo decidido que o casamento, simples, só com os amigos mais próximos seria dali a um mês, era só o tempo dos preparativos. Aquele mês passou, numa roda viva. Luís mal tinha tempo para pensar. E aqui estava ele, passeando dum lado para o outro, decidido a desmistificar toda aquela trapalhada. Ainda pensou consigo: vão-me matar. Vão chamar-me tudo e mais alguma coisa. Mas casar eu não caso. Isso nem morto. Gastaram dinheiro? Quem lhe encomendou o sermão? E Laura? Que culpa tenho dela ter compreendido mal e não me deixar explicar? Pior para ela. Mas eu não caso. Era o que faltava! Ficara decidido que Laura sairia de casa dos pais, juntamente com estes e Constança, já que esta ia ser sua madrinha, Luís sairia da casa onde viviam, acompanhado dos pais e de Lurdes irmã de Laura, que fizera questão de amadrinhar o cunhado. Tudo pronto, já em cima da hora, e, Luís não havia maneira de sair do quarto. Mais uma vez olhou em redor, dizendo: - Adeus. Vou e não volto mais. Só venho buscar as minhas malas, que felizmente estão feitas. Pensavam que era para sair em lua de mel? Pois enganam-se. Não vai haver lua de mel. Ou por outra vai haver sim, mas só para mim…os outros…quero lá saber dos outros? Alguém me perguntou alguma coisa? Ouviu bater á porta, era a cunhada chamando-o: - Vamos Luís! Aposto que a minha irmã não demora tanto a vestir-se. Até parece que estás com medo. A porta abriu-se, e José namorado de Lurdes diz-lhe a rir, anda lá pá. Estás com medo? Isso é comum a todos os felizes noivos. Por isso é que eu não me caso! E deu uma gargalhada, que deixou Luís ainda mais indisposto. Empurrão daqui, empurrão dali, lá foi até ao carro, dirigindo-se para a igreja. Quase não tinha tempo de chegar ao altar, entra Laura, ele olhou para ela, achou-a deslumbrante no seu vestido verde água, ela não quis ir de branco. O vestido era de corte simples mas muito elegante. Sobre os cabelos trazia, um pequeno chapéu ornamentado com pequenos botões de rosa da cor do vestido, e de onde pendia o véu também do mesmo tom. Estava linda! Ele pensou consigo: Vens muito linda, mas se pensas que assim me apanhas, vais ver a surpresa que irás ter. Ao som da marcha nupcial, e, pelo braço do pai, Laura desliza mais do que anda, a caminho do altar. Ouviu-se o resmalhar dos vestidos das senhoras, a sentarem-se. Laura chega ao altar e a cerimónia começa…. Luís não ouve nada. Está com o pensamento fixo no que se propões fazer, até que surge a pergunta sacramental, Luís Miguel de Sousa, é de sua livre vontade casar com Laura Raquel Rodrigues? Silêncio….. O padre pergunta de novo: -, Luís Miguel de Sousa, é de sua livre vontade casar com Laura Raquel Rodrigues? Como que acordado subitamente de um sonho, Luís vê á sua frente os olhos de Laura, inquietos…numa fracção de segundo ela lembrou-se de toda a cena da noite em que ele supostamente a tinha pedido em casamento; das suas interrupções, a que ela não prestara atenção. Laura tremeu ao ouvir de novo: - Luís Miguel de Sousa, é de sua livre vontade casar com Laura Raquel Rodrigues? Olhou o noivo quase em pânico. Toda a igreja estava em absoluto e pesado silêncio. Subitamente ouve-se a voz de Luís dizer alto e claramente: Sim é! Ouviu-se um enorme e uníssono suspiro de alívio. O sr. Geraldo vermelho, afogueado, limpava com o lenço branco o suor que lhe corria em fio pelo rosto. D. Joana quase teve um fanico. Só D Ifigénia, e o sr. Rodrigues ficaram impávidos e serenos. Afinal, tinham passado por uma situação igualzinha, há quantos anos? Quase quarenta. Quarenta anos de uma enorme e calma felicidade; trocaram um beijo de amoroso carinho, murmurando: -Lembras-te? Parece que afinal todos os jovens têm medo de casar, como nós tivemos Após o lauto copo d’água os noivos sumiram-se em direcção á lua de mel…. E não é que na pressa Luís que tinha arrumado três malas só levou uma? E, foi exactamente a mais pequena. Afinal foi obrigado a voltar para sempre ao apartamento, donde saíra jurando nunca mais voltar…..
Maria Isabel Galveias (Lylybety)


O QUE A MINHA AVÓZINHA ME ENSINOU

Uma pessoa pertence ao lugar aonde quer ir. (Whernher von Braun.)


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Olá... Quero que tenha um Bom Dia! Alguém me diz sinceramente sinceramente: O que significa o pensamento de Von Braun ? Então me diga, se em algum momento você não desejou muito estar em outro lugar, em outra cidade, numa outra casa, talvez trabalhando em outra organização? Quando essa possibilidade estiver mais evidente, não fica uma sensação agradável de que aquele desejo está se realizando? Agora vou mudar um pouco a “brincadeira” Pense em alguma situação, uma pessoa com quem, ou um lugar, aonde você verdadeiramente gostaria de estar agora! Por que não você está lá? Poderia conseguir a realização deste desejo daqui algum tempo? Um mês, um semestre, um ano, alguns anos? Que variáveis impedem te impedem dessa realização? E se você realmente conseguisse esse objectivo, como seria sua vida? Calma Já encerrar meu “interrogatório”. Apenas quis tratar desta questão com você, por que o pensamento de Von Braun, deu aquele abanão que nos tira do lugar. Primeiro por que ele é o pai do foguete Saturno V que levou os astronautas Americanos à Lua. Como tal sonhava chegar a outros lugares, estar em outros lugares. Assim contribuiu para que sua espécie (humana) alcançasse um mundo totalmente inacessível e desconhecido até então. Assim somos nós, muitas vezes imaginamos, desejamos estar em outro lugar, por diversos motivos, que chegamos sentir já fazer parte daquele lugar, ou de estar com alguma pessoa. Porém, ficamos frustrados, ou simplesmente aceitamos a não realização, por que no fundo desconhecemos os reais motivos que nos impedem. *********************************** A verdadeira sabedoria consiste em se conhecer a própria ignorância. (Sócrates) Agora gostaria de saber, se você já desejou alcançar a “iluminação” algum dia? É um desejo que muitas pessoas perseguem de alguma forma. Pode ser que não conheçam esse desejo íntimo por esse nome! Alguns chamam de Céu, outros de paraíso, enfim, cada cultura pode criar a própria nomenclatura. O nome realmente é o que menos importa. Eu particularmente vou chamar esse processo de: Evolução! Está combinado então? Mas, para ficar melhor nosso entendimento sobre isto, deixe-me contar uma pequena história, que ouvi á minha avózinha sobre a “iluminação”. Certo dia, um cidadão tomou uma resolução! Iria dedicar sua vida à meditação. Decidiu que iria para um mosteiro no alto de uma grande montanha, com objectivo de encontrar a iluminação. Viajou muitos dias e ao chegar em frente ao portão principal do mosteiro, encontrou aquele que seria o seu mestre. Aquele homem, foi recebido com muito amor pelos monges que há muitos anos viviam naquele mosteiro. O homem então, dizia a todos: - Vim para buscar minha iluminação. Passados alguns anos, o agora novo monge começou a ficar descontente com a sua situação, pois não conseguia encontrar o caminho da luz. Procurou o mestre e disse-lhe: - Amado mestre, ensinaste muitas coisas belas e importantes nesta minha caminhada, mas ainda não consegui alcançar a iluminação em minha vida. Quero desistir da vida de monge e voltar para a minha aldeia. E o mestre respondeu: - Tudo bem! Já que você está desistindo desta vida de meditação, quero acompanha-lo na descida da montanha. Amanhã, as 4 horas da manhã, estarei esperando no portão principal do mosteiro, para começarmos a descida. No horário marcado, o homem que estava desistindo de sua vida de monge, encontrou o seu mestre. Ao sair do mosteiro o mestre lhe perguntou: - Querido filho, o que estás vendo neste momento? O homem respondeu. - Mestre: vejo o orvalho da madrugada, sinto o cheiro das flores, percebo o céu estrelado e uma lua maravilhosa. Continuaram descendo a montanha. Passada uma hora de caminhada, o mestre pergunta: - E nesta parte da montanha, o que está vendo? - A resposta foi: - Vejo os primeiros raios de sol, escuto o canto dos pássaros e sinto a doce brisa da manhã penetrando em todo o meu ser. Assim continuavam a descer a grande montanha. Passadas algumas horas, o mestre voltou com a mesma pergunta. Recebeu como resposta: - Neste trecho da montanha, sinto o calor do sol, o som do riacho, o orvalho evaporando e os animais silvestres em harmonia com toda a natureza. Seguiram a caminhada. Chegaram ao pé da montanha ao meio-dia. Outra vez o mestre fez a mesma pergunta! E obteve como resposta então: - Vejo como a montanha é bela, as árvores da floresta, o riacho doce que circunda o vale, o camponês cuidando da plantação de arroz. Vejo também uma criança feliz brincando com os seus amigos. Então o mestre lhe falou: - Agora você já poderá voltar para o mosteiro. Espantado, o homem perguntou qual seria a razão da volta ao mosteiro. O mestre respondeu: - Porque você já encontrou a Iluminação. - Como assim? - Muito simples. Em cada etapa da descida da montanha você percebeu a importância de cada detalhe da natureza, compreendendo os seus sons, seus odores, suas imagens, suas cores e sua vida. Assim é que devemos ver e interpretar esta longa caminhada. A isto tudo, nós chamamos de ILUMINAÇÃO. A maravilha da vida é assim! A cada degrau devemos olhar para beleza que ela nos oferece. Mas para isso acontecer de verdade é preciso envolver-se de corpo e alma com a vida que vivemos! Pense...e VIVA


Quase sempre estão ao nosso alcance os recursos que pedimos ao céu. (Shakespeare)

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Quantas vezes nós pedimos, suplicamos, desejamos, imploramos por algo! Pedimos mais bênçãos, menos sofrimento, maior sabedoria. Porém, como saber se o que pedimos não foi concedido? Nós ás vezes não identificamos o que recebemos dos céus como bênçãos. E porquê? As coisas nem sempre são o que parecem! Dizia a minha avó que era sábia, ilustrando com mais uma história a sua afirmação. Certa vez, dois anjos viajantes pararam para passar a noite na casa de uma família muito rica. A família deu abrigo, mas com muita má vontade. Apesar de viverem em uma mansão com muitos quartos, não permitiram que os anjos ficassem em nenhum deles. Em vez disso, deram aos anjos um espaço, num quartinho pequeno e frio, no sótão da casa. A medida que eles faziam a cama no duro piso, o anjo mais velho viu um buraco na parede e tapou-o. Quando o anjo mais jovem perguntou o porquê, o anjo mais velho respondeu: - As coisas nem sempre são o que parecem. No dia seguinte, os dois continuaram viagem. Com a chegada da noite, os dois anjos pediram abrigo na casa de um casal muito pobre. O senhor e sua esposa eram muito hospitaleiros e receberam de bom grado os viajantes. Depois de compartilhar a pouca comida que a família tinha, o casal permitiu que os anjos dormissem na cama do casal, onde eles poderiam ter uma boa noite de sono para poder prosseguir a viagem totalmente descansados. Quando amanheceu, os anjos encontraram o casal, banhado em lágrimas. A única vaca que eles tinham, cujo leite era a única entrada de dinheiro, jazia morta no campo. O anjo mais jovem estava furioso e perguntou ao mais velho: - Como permitiste que isto acontecesse? O primeiro homem tinha de tudo e, no entanto, tu ajudaste-o tapando um buraco, para que o frio não lhe entrasse em casa. A segunda família tinha pouco, mas estava disposta a compartilhar tudo, e tu permitiste que a vaca morresse. Por que fizeste isso? - As coisas nem sempre são o que parecem - respondeu o anjo mais velho. - Quando estávamos no sótão daquela imensa mansão, notei que havia ouro naquele buraco da parede. Como o proprietário era muito avarento e não estava disposto a compartilhar sua boa sorte, fechei o buraco de maneira que ele nunca mais possa encontrar o ouro. Depois, ontem à noite, quando dormíamos na casa dessa família pobre e humilde, o anjo da morte veio em busca da mulher e do agricultor, e eu lhe dei a vaca no lugar dos dois. Por isso que sempre digo, que as coisas nem sempre são o que parecem... Algumas vezes, isso é exactamente o que acontece quando as coisas não saem da maneira como esperamos. Mas, se tivermos fé, somente necessitamos confiar que aconteça o que acontecer connosco algum propósito há. Provavelmente alguma coisa muito melhor virá a seguir. Lembra-te: O ontem é história. O amanhã é um mistério. O hoje é uma dádiva. E é por isso que se chama presente. Então, vive-o da melhor forma possível! Pensa nisso...





Lylybety

A MINHA AVOZINHA

6 de Dezembro! Hoje faria anos, se fosse ainda viva, a minha avózinha. A minha avózinha foi na minha vida, figura proeminente, já que com ela fui criada e por ela fui muito amada. Recordo com muita saudade os meus momentos passados a seu lado, na Quinta dos Serrões, nos Olivais. Quantas boas recordações...! Lembro-me, que de manhã, antes de sair para ir ás compras, minha avó ia ao meu quarto, de mansinho, colocar sobre a minha mesa de cabeceira, uma tigela com uma papa de farinha Amparo, ou então uma gemada com café. Depois saía, para o seu passeio matinal, que consistia em ir até á praça de Moscavide fazer as suas compras. Quando chegava, lá pelas 11h da manhã, eu que fazia serão até ás tantas, com os trapos e as bonecas, ou com algum livro, ainda dormia. Minha avózinha vinha com pézinhos de lã ao pé de mim, dava-me um leve beijo e colocava sobre a minha almofada algum miminho que trazia da praça, ou fruta que colhia na Quinta. Jamais, minha santa avó, me ralhava por eu ser noctívaga e gostar de dormir a manhã na cama, ela era como eu, também gostava de seroar. Todas as noites, ficávamos as duas até tarde, ela costurando, eu fingindo que costurava ou tricotava, ouvindo os Companheiros da Alegria, era um programa radiofónico bastante divertido e que minha avó não dispensava. Outras vezes líamos as duas. Ou então, ela contava-me histórias. Sabia histórias lindas, das quais tenho um vaga lembrança, mas nunca as soube contar...... É curioso, eu, que tudo aprendia com facilidade, nunca decorei as histórias lindas que ela me contou......Contudo, lembro-me, de pequenas histórias, que ela me contava em forma de repreensão, quando eu fazia alguma traquinice. Eu gostava muito de me por frente ao espelho, fazendo e desfazendo as minhas tranças, inventando os mais variados penteados. Um dia ela chamou-me e disse-me assim: - Já te contei a história da menina vaidosa? - Não avózinha como é? - Era uma menina, que como tu, passava muito tempo a mirar-se no espelho ( minha avózinha falava assim, numa linguagem do fim do Século 19) um dia esteve mais tempo do que o habitual. Sua mãe estranhou, porque ela era traquina como tu, e estava sossegada há tanto tempo... foi espreitá-la, e lá estava a menina pondo fita, tirando saia, vestindo blusa, calçando sapato, tão entretida estava, que a mãe não disse nada, e foi costurar. - De repente, ouve um grito aflito da menina. A mãe ficou assustada. Correu para ela, e lá estava ela a olhar para o espelho, gritando a bom gritar, apontando com ar aterrorizado, dizia mamã, mamã, socorro, está ali um monstro, que me quer comer. A mãe olhou e começou a rir, pois o monstro era a menina, que tanto quis ficar bonita, que ficou horrivelmente feia. Entendeste a história? - Sim avózinha, entendi. A partir daí eu tornei-me uma menina, que gostava de andar limpa simples, mas feliz, sem medo do monstro do espelho. - Pelo facto de ser a primeira neta, e sobrinha, e que além do mais tinha o problema de olhos, pois nasci cega, e fui cega até aos dois anos, eu era uma menina mimada, que gostava de fazer birras, e algumas vezes levantava a mão, como quem quer bater em alguém. - Um dia em que eu estava com uma birra feia, porque a minha mãe não me levou com ela, e batia e pontapeava a quem se aproximasse, com muita paciência, a avó, sentou-me colo dela acalmou-me e começou: - Sabes? Era uma vez uma menina, que como tu era embirrante, teimosa e malcriada, e, quando a contrariavam, batia a toda a gente. Lembro-me de me insurgir dizendo: - Pois, como eu não é? - Não sei, responde ela, isso depende de ti. Esta menina foi muito castigada. - Foi castigada como? perguntei eu com a curiosidade própria duma criança de cinco anos, pois eu não teria mais do que isso, bem continua ela, essa menina ficou muito doente, com uma doença muito rara e muito esquisita, - Que doença era? - Ninguém sabia. Só sei que a menina, bateu na mãe, e de repente, cai para o chão, inanimada, com a mão no ar, no gesto de quem vai bater... - Assim avózinha? Interrompi eu fazendo menção de lhe dar uma bofetada... - Exactamente. Deus castigou-a e ela ficou anos adormecida, com a mão amiaçadoramente erguida... - E depois? Morreu? Eu tinha nessa altura um pavor louco da morte. - Não. Um dia a avó dela segredou-lhe ao ouvido: ouves-me? Se me ouvires, mexe a outra mão. A menina assim fez, então a avó murmurou-lhe, queres ficar boa e ir brincar com outros meninos no jardim? A menina mexeu de novo a mão, a avó continuou, garanto que ficarás boa, se pedires perdão ás pessoas a quem bateste, e magoaste. Fazes isso? A menina mexeu de novo a mão. Então vai, ordenou a avó. Ela levantando-se foi ter com a mãe, e a chorar pediu perdão, prometendo que daí para a frente nunca mais seria embirrante, nem malcriada nem teimosa. Resultou desta história, que eu ainda hoje sou sem me vangloriar, humilde e submissa. (Demasiado, ai de mim!) Eu como qualquer criança era muito curiosa, bisbilhoteira. Nada havia que mais gozo me desse, do que remexer no baú da bisavó, ver aqueles retratos muito antigos, aquelas rendas, os sapatos muito bicudos, que me faziam rir. Lembro-me que ela tinha um saco grande, cheio de retalhos, a bisavó fora modista de alta costura, eu ficava encantada, com os retalhos de cetim, renda, organdi veludo, enfim, enquanto não cortei tudo para fazer bonecas de trapo e os respectivos vestidos não fiquei feliz. Mas um dia, fui mexer no baú da avó. Ela tinha lá guardado umas drageias, que eram do avô. Curiosa como eu era, experimentei pôr uma na boca, como era doce, chupei até ficar amarga, enfim chupei-as todas, imaginem o susto da avó, quando viu. Ralhou, pôs-me de castigo durante uma semana, não fui brincar com a Rosinha, minha grande amiga de infância, e que já não vejo há longos longo anos. Mas ao que parece, não foi o suficiente. Lembro-me que uma vez, fui para a vacaria, onde encontrei um frasco, que me despertou a curiosidade, destapá-lo e cheirà-lo foi um instante. Mas pobre de mim, o frasco continha amoníaco, imaginem, fiquei sem folgo, de desatei a correr pela quinta fora, deveras aflita. A avózinha assustou-se como é de prever, mas não o manifestou, apenas me disse: - Minha querida, penso que só te falta acontecer o mesmo que aconteceu á menina curiosa. - E que foi que lhe aconteceu? - Foi grave, mas não tento como o amoníaco. - Então o que foi que lhe aconteceu? Avózinha, conta-me lá.... - Bem, a mãe da menina tinha chegado da praça, mas o pai chamou-a, e ela não teve tempo de arrumar as compras. Deixou o cesto no chão da cozinha e foi ver o que o marido queria com tanta urgência. A menina curiosa, foi logo bisbilhotar, para ver se a mãe lhe tinha trazido alguma gulodice. Meteu a mão no cesto, e deu um grito, chorando muito. A mãe acorreu a ver o que se passava, deu com a menina muito aflita, porque não sabia que havia caranguejos dentro do cesto, e estes ficaram agarrados á mão dela..... - “Tadinha” da menina, disse eu muito comovida... - Pois é. Isto é para veres onde leva a curiosidade. Mas toma atenção, nem sempre a curiosidade é má. - Não? Então não percebo!? - A curiosidade em aprender, em saber sempre mais qualquer coisa, essa é boa. Por exemplo, tu gostas de ler não é? Isso é curiosidade positiva. Pois ao leres, ficas a saber muitas coisas boas. Ficas a saber resolver problemas, que se não lesses, nem sabias que podiam existir. Conheces usos e costumes, de terras e países, onde nunca foste, e talvez nunca irás, mas sem lá ires conheces tudo como se lá vivesses. Percebes agora? Eu percebi. E garanto que, nunca mais tive curiosidade se saber o que se passava, dentro dos cestos, das gavetas, em casa dos vizinhos. Mas confesso, sou muito curiosa, em relação ao que se passa no mundo á minha volta, mas pela positiva. Assim a minha avózinha educou a minha personalidade. O que lhe agradeço muito. Embora considere que sou demasiado mansa. Também incutiu em mim o gosto pela leitura. Ela tinha poucos livros, mas os que tinha eram bem bonitos. Havia um com muitas histórias, que eu não me fartava de ler...Desapareceu, com muita pena minha. Tinha um de que eu gostava muito também, Lisboa em Camisa, era divertidíssimo. Ás vezes o avô chegava da rua e, vendo-nos a ler dizia de modo trocista: Lá estão as professoras, muito lêem, com tanta leitura, vão ficar muito sábias. Pobre de mim, quanto mais aprendo menos sei. Minha avózinha, nunca se zangava com o avô. Suportava todos os remoques e atitudes dele, com uma calma e serenidade, impressionantes. Não tenho recordações, de ver os meus avós brigarem fosse por que motivo fosse. Lembro-me dum caso que aconteceu, e não posso deixar de o contar. O avô gostava muito de touradas e de teatro de Revista á Portuguesa. Não falhava uma estreia, mas ia sempre sozinho. Ás vezes levava-me com ele, mas chauvinista como todos os homens da sua época, jamais levava a avó com ele, fosse onde fosse. Não se importava que ela fosse ao cinema, sozinha ou acompanhada por mim ou pelos meus tios, mas com ele não. De vez em quando a avó perguntava: - Ó Zé, quando me levas ao teatro? – invariavelmente o avô respondia - Domingo. Vamos Domingo. Certa vez a avó perguntou de novo, e de novo ele respondeu – Domingo. Ela perguntou: - Hoje? – o avô estava a ler o jornal, e, distraídamente respondeu: - Sim..... A avózinha, depois do almoço, impapoilou-se toda, para ir á matiné, comigo e o avô. Ao vê-la assim toda aprimorada ele comenta: - Hena, hena, mas que bonita estás. Onde é o passeio? - Então vamos ao teatro não é? - Ao teatro? Hoje? - Sim. Tu disseste que íamos hoje?! Zombeteiro o avô respondeu: - Hoje não. Domingo. Impávida e serena, a avó pegou em mim e fomos ao cinema a Moscavide. Nunca me esquecerei, era um filme português que se chamava O Fogo, e, que era passado no quartel de bombeiros do Bairro da Encarnação. Era um drama, e, eu chorei desatinadamente por causa de um bombeiro, que ao resgatar um irmão do fogo, acabou por morrer queimado, uma verdadeira tragédia.... Havia, perto da casa dos meus avós, uma família, onde haviam 4 filhos, três rapazes e uma menina, todos mais velhos do que eu. Eu gostava muito de ir brincar com a Rosinha, e, pedia á minha avó: - Avózinha, deixe-me ir brincar com a Rosinha?... ela respondia. Nem Rosa nem Cravo. Vai agora para uma casa onde só há homens....!! - Avózinha, deixe-me ir! Insistia eu. - Só se me cantares a duquesa, eu cantava, ela dizia: Agora canta a Anabela, eu cantava, ela tornava, agora a Mafalda, só depois de eu cantar tudo o que ela queria é que ela me deixava ir. Dáva-me muita liberdade. Embora me vigiasse. De vez em quando, lá vinha ela. - Ó senhora Maria – era a mãe da Rosinha- viu por aqui a minha pequena? Dois dedos de conversa, pouca coisa, porque a avó, não era dada a ir para casa das vizinhas conversar. Tinha sempre a roupa no cloreto, como ela dizia, e lá voltava para casa. Pelos Santos Populares, havia sempre bailarico, no Largo da Viscondessa. Ainda existe o Coreto, é das poucas coisas que ficaram nos Olivais do meu tempo de menina; Começavam as sessões dançantes na véspera de Santo António, e, diariamente, só a acabavam no dia de S. Pedro. Todas as noites lá ia a avózinha comigo. Eu gostava muito de dançar, e, ela gostava muito de me ver....bons tempos aqueles...! Assim foi a minha querida avózinha. Agora que ela partiu, não quero deixar de lhe dizer: - Querida avózinha, por todos os bons momentos passados ao seu lado, por todas as boas recordações que guardo de si, muito obrigada. Todas as palavras são poucas para lhe agradecer os melhores momentos da minha infância. Embora houvesse quem a considerasse má, por ser justa. Eu sei que a minha avózinha hoje, está no céu, junto do Pai. Ela merece. Só me resta dizer: - Adeus avózinha, um dia destes, voltaremos a encontra-nos se Deus quiser. Até lá fica toda a saudade desta neta que muito a amou, e nunca a esquecerá.
Maria Isabel. Arroja, 6 de Dezembro de 1999. -
Postado por lylybety em 08:59:00 Sem comentários:
CORREIO DA QUEEN
Meus queridos amigos,Com muita tristeza vi, que neste fim de semana, na minha ausência, os meus mais queridos e leais amigos, O Duque de Fafe e o Duque de Copas, resolveram envolver-se em duelo, que ainda por cima, não foi por mim (a sua Dama), mas por ninharias que não têm a mais pequena importância.No meu reino da paz e harmonia, a minha corte não é diferente das outras, por isso tinha que haver as habituais intrigas.Começaram com mal entendidos entre mim e o King. Mas devo assegurar-lhes que depois de eu o ter chamado a prestar contas, estas estavam certinhas e nada havia entre nós a não ser intrigas, fomentadas sei lá por quem ou porquê, mas isso tambem não tem relevância, tudo voltou á paz e concórdia, e garanto que entre o King e a Queen tudo está bem.Amigos, a nossa Aldeia tem valores pelos quais eu me tenho batido, e não vou abdicar deles.Sei também, que só existem verdadeiras ofensas entre pessoas que se querem bem, o que só quer dizer que, quanto maior é a amizade, maior nos parece a ofensa, pois quando não se gosta nem deixa de gostar, tanto faz como fez.Quero portanto, pedir, implorar mesmo, pois as Queens, existem para fomentar a paz e a concérdia, que deixem de lado as vossas questões, de carácácá, e fiquem a meu lado, sempre como os meus mais leais defensores que sempre foram, e amigos entre si como o foram sempre também, desde que entraram no meu salão dourado.Não são precisos pedidos de desculpas, pois essas coisas não existem entre amigosTenho um grande carinho pelos dois, e não queria que os meus Reais Amigos, me abandonassem, porque eu Vossa Queen, hajam as intrigas que houverem, só deixarei o meu trono nestas Aldeia, se, todo o meu povo assim o entender.O meu King, sei que me quer a seu lado, e os Senhores não querem?Querido Duque de Fafe, fica assim, recusado o seu pedido de demissão.QUANTO A SI SENHOR DUQUE DE COPAS NEM PENSE EM ABANDONAR A QUEEN, SOMOS HOMENS NÃO SOMOS "RATOS"E o nosso navio não vai afundar como o TITANIC, por isso daqui suplico-vos em nome da amizade, que não saiam da aldeia. E, contem sempre com o carinho e amizade da vossa Queen, lyly.
Postado por lylybety em 08:45:00 Sem comentários:
Sonho?

Eram 3:30 da manhã, encontrava-me no ponto mais alto da serra da cidade onde moro. Meu espirito encontrava-se em simbiose com a natureza e o cosmos, sentindo as melodias nocturnas do vento beijando as folhas das àrvores, e a voz dos animais nocturnos.. Embora nesta paz perfeita, sentia falta de algo, olhava uma estrela “única no céu”, que aparentava dirigir-se a mim em toda a sua beleza. “senti” uma forma de luz perto de mim, olhei, e reconheci tua silhueta, dirigimo-nos um para o outro, levantaram-se nossos braços, nossas mãos tocaram-se, entrelaçaram-se nossos dedos. Olhei o céu, a estrela tinha desaparecido. Olhos nos olhos, dedos entrelaçados, “senti” que dizias: que bom tu teres vindo. Recebi tua mensagem, respondi.. Não foram precisas mais palavras, assim ficámos, em simbiose com a natureza e o cosmos, escutando as melodias nocturnas, e os sons da madrugada que se aproximava. Por quanto tempo? Um timido alvor espreitava vindo do lado do mar, separámo-nos sem palavras, mas com conhecimento, fiquei vendo afastares-te.. 06 hs da madrugada. Dormia sentada na minha sala em frente ao pc, os timidos raios matinais beijaram meus olhos, despertei, olhei pela janela, lá longe no horizonte... Uma estrela. Admirada fixei-a, vi-a desaparecer lentamente, como que escondendo-se por detrás da luz matinal. Maria isabel galveias, 23-10-001
Postado por lylybety 

AS COISAS QUE ME ACONTECEM
Eram 4 horas da manhã. Acabara de encerrar o meu PC, depois de estar, um dia inteiro á sua frente. Tinha terminado uma sessão da net, que, me tinha deixado, nem eu sei bem porquê, triste e deprimida, chorosa até. Para desanuviar fui tomar banho. Mal tinha saído do duche, quando o meu telefone da rede fixa tocou. - A esta hora? Quem será? – perguntei para mim própria um pouco assustada. Nestas alturas quando o telefone toca, penso sempre o pior. Estou? - perguntei um tanto ou quanto a medo... - Lyly? – pergunta uma voz de baixo profundo. - Sim...! Quem quer falar comigo a esta hora? - Boa noite Lyly, minha Lady e minha Queen....! - B..o..a n.o.i.te....! – gaguejei confusa . Conhece-me? - Conheço sim majestade! - ri do outro lado o meu interlocutor - Estive todo o serão a fazer-lhe companhia, minha adorada Queen, e tambem toda a tarde. - Foi? e posso saber com quem estou falando. - De certo não sou o seu King, nem o seu Duque de Copas e nem o seu Valete de Espadas. - Bom, os dois primeiros sei que não, quanto ao terceiro..... - Garanto-lhe que não sou. - Então quem é, se for dado a uma velha Queen o direito de perguntar e de saber? - Não posso dizer-lhe quem sou. Tenho muitos nicks tal como a senhora. Ah! este sabia que uso vários nicks.......Quem seria? - Conhece os meus nicks? Perguntei meio a sério, meio a brincar..... - Sim minha adorada Lyly, minha Lady e ninha Queen...... Pelos vistos era adolador......tinha voltado de novo a vontade de rir e de brincar. - Mas então quem é o sr? insisti rindo - Alguem que todos os dias a acompanha fielmente. Alguem para quem a Aldeia Lusa, ou a Lusitana Paixão, só tem graça e sabor quando a sra. lá se encontra. - Alguem que a admira, e inveja.... - Inveja? Mas inveja o quê meu caro senhor? agora já não estava a gostar da conversa, quem seria este maduro a ligar para mim a esta hora da madrugada? - Vejo que não gostou do termo, Majestade!? – riu ele - Realmente não foi, digamos muito simpático...Quem seria? perguntava eu de mim para comigo. - Digamos minha querida Queen, que sou, não um Duque nem um Valete e, muito menos serei um King, mas simplesmente um seu vassalo, que percorre diáriamente, todas as salas portuguesas, para ter o previléligo de teclar consigo, e me rir com o seu espírito sempre tão alegre, e as suas respostas tão rápidas e precisas. Sabe que ao principio eu cheguei a pensar que haveria truque e a sra e o Chuck escreviam os diálogos? - Não posso acreditar!...há cada uma, ás 5h da manhã!!!!- pensei, não disse claro. - E, ainda crê nisso? - preguntei deveras divertida - Agora já não. Pois verifiquei que a sra era ligeira a responder em qualquer sala e em qualquer assunto, daí a minha admiração por si. Bem, agora que me prestou vassalagem, disse rindo, quer dizer-me quem é e como soube o meu nº de telefone? - Quem sou? Bem digamos que sou o Conde de Espadas, sempre pronto a lutar por sua dama; como soube o seu nº de telefone? através do seu nome, pois sou participante da Aldeia Lusa, logo portanto serei alguem em quem Suas reais Majestades podem confiar, não ofereço perigo. Mas não foi certamente para me dizer todos esses piropos que me telefonou. Afirmei outra vez com seriedade. - Adivinhou mais uma vez, minha inteligente, rainha. - Então? - Notei que por qualquer coisa que lhe foi dita, ficou subitamente triste. Quando disse que seria a última vez que a Queen, abriria as portas do seu Alegre Salão, senti que estava a ser sincera, e, que a sua habitual jovialidade, tinha desaparecido. Voltei atrás no diálogo para ver o que teria sido, e, descobri. - Descobriu? foi assim tão obvio? - Para mim que estou sempre pendente das suas emoções, foi. - Sou tão transparente assim? Agora começava a interessar-me.. - Já lhe disse que para mim é. Afirmou. - Também reparei, que houve mais alguem, que sentiu medo de que não voltasse. - Quem? – interoguei. Não havia dúvida. Este admirador secreto era mesmo atento. - O Duque foi o primeiro a assustar-se, e o King também não ficou com todas na manada, como se costuma dizer. - E o sr? perguntei um pouco garridamente.... - Eu fiquei estarrecido.. A minha adorada Lady, querida Lyly, venerada Queen ia deixar de vir ao Salão da Aldeia.......? - Mas eu não disse isso!..... só disse que seria a última vez que a Queen se apresentaria........mais nada. e se viu porque foi, deve concordar comigo. - Não. Não concordo. Penso que deve voltar, voltar como Quenn. - Mesmo que seja desagradável para alguem? - Prguntei curiosa em saber a resposta - Mesmo que seja desagradável para “Alguem”...... - Mas sabe que esse alguem, tem uma força bastante grande dentro da comuinidade. - Sei. Mas quer apostar, que esse alguem se a Queen não voltar, vai solicitar a sua presença? - A presença da Queen, ou a da Lyly? - Ambas são a mesma, mas cada uma ocupa na comunidade um lugar diferente. - Sério? como é isso? - A Lyly, é você ao vivo e a cores. A Queen é o sonho a brincadeira, a fantasia..... - Tudo isso? - Tudo. Promete-me que não vai desistir? - Não prometo porque não posso cumprir...Já desisti como viu. - Não faça isso... são tantos que adoram a Queen...... - E a Lyly não presta? - Claro que presta. E sabe disso. Não esteja a ser tão radical. - Bem amigo, vou ser mais radical ainda. Não lhe parece que são horas de dormir? - Ou antes não são horas de estar ao telefone na conversa com alguem que se desconhece. - Perdão minha Queen, não queria de modo algum ser importuno. Quis tão somente ser solidário consido, e mostrar-lhe de viva voz a minha solidariedade, mais nada. - Está bem já mostrou. Agora posso ir tentar dormir um pouco? - Pode. Mas antes prometa que a Queen irá voltar....... Prometo que irei pensar nisso, e, que irei falar com ela.....Mas tenho sérias dúvidas, penso que isso teria que ser pedido por mais “Alguem”. - Se isso acontecer........ - Fico á espera, nem que tenha que fazer barulho na sala. - Barulho!? está proíbido ouviu? Proibido. Na minha sala não quero duelos nem discussões. - Certo. Mas tudo vai depender de si. Volta? Logo á noite estará lá? - Se não adormecer, concerteza que estarei.. - Então até logo, my lady, posso enviar-lhe um beijo pelo telefone? - Claro que sim. Um beijo também para si. - Uma rainha a beijar um simples vassalo? Mas é uma rainha como só existem nos contos de fadas!!!?. Boa noite. Logo espero-a na net. E esta hem? Acontece-me cada uma.!!!!!!! Bem e agora vou ver se durmo..... Arroja, 5 de Abril de 2001 Maria Isabel Galveias
Postado por lylybety em 08:06:00 Sem comentários:
Uma noite de Natal
Uma noite de Natal Rita, está só. Só, na mais completa profunda e amarga solidão. Ela sempre gostara de estar sozinha, todavia, como essa solidão hoje é dolorosa...! Recorda com alguma amargura, as palavras proféticas de sua mãe, quando ela era ainda uma garota, e se isolava do mundo... Credo rapariga! Só, se veja, quem só, se deseja.... Lembra-se ainda, de na sua curta infância, dizemos curta porque ela mal desfrutara da infância, adolescência, e até da vida, já que fora, desde muito nova, marcada pelo infortúnio, de ser filha única de pais sempre desavindos. Como sempre se sentiu mal amada, daí, o seu isolamento, o seu fugir constante de tudo e da todos, como se assim, pudesse alijar de si o fardo que era a sua vida. Pegava num livro, seu companheiro inseparável, e, lá ia sozinha para o montado...Como ela dizia, metia-se dentro do livro e viajava, pelo mundo largo e grande da fantasia. Era feliz assim. Seus pais, esqueciam-se que ela existia. Não ligavam nada ao que ela fazia, desde que não falasse com rapazes, tudo estava bem. Casara, não fora feliz nem infeliz. Entregue de corpo e alma ao marido e aos filhos, lá foi vivendo. Ás vezes, ao domingo, seu marido que gostava de jogar futebol, saía para jogar e ela deixava que os filhos também fossem, para desfrutar de duas horas de solidão, paz e sossego, já que as crianças, alegres e vivazes, faziam barulho com as suas brincadeiras e ela sentia-se por vezes cansada. Sabia-lhe bem aquele bocadinho. Contudo, sabia que não estava só. Eles chagavam alegres e felizes, contavam todas as peripécias do jogo, e era a alegria que se instalava, no lar que sempre tentou fosse feliz, dando aos filhos tudo aquilo de que tinha sentido falta. Mas a vida passa. Ao fim de 23 anos de casamento mais ou menos felizes, Rita ficou só. O marido falecera, os filhos casaram, e, seguindo o curso natural da vida, ela ficara só, definitivamente. Tentara reconstruir a sua vida, mas não deu certo. De quem seria a culpa? Dela certamente... O primeiro relacionamento, aconteceu pouco tempo depois de enviuvar... Fora uma paixão louca e desenfreada. A paixão que deveria ter sentido na sua adolescência talvez. Só então se deu conta de que nunca sentira pelo seu marido, o amor, a loucura que sentira por Luís. Mas...havia sempre um mas, a estragar a sua felicidade. Luís era casado, e embora quando Rita o conheceu, já não vivesse com a esposa, esta quando soube do seu romance, fez-lhe a vida num verdadeiro inferno. Luís, embora a amasse, também não lhe dava estabilidade emocional, até que um dia, sete anos após a relação, Rita se cansou, discutiram e ele saíra da sua vida. Foi muito dolorosa para ambos esta separação. Ele tentou tudo, para se reconciliarem, pediu ajuda á mãe de Rita, aos filhos, aos amigos, mas Rita fora irredutível. Melancolicamente Rita, relembra a sua vida com Luiz e lamenta a sua atitude de então. Como foi louca e orgulhosa...E como fora feliz! Junto de Luiz, Rita vivera o péssimo e o óptimo. Divertiu-se, viveu como nunca se sentira viva. Foram anos inesquecíveis, mas ela tinha de estragar tudo, convencida, de que tinha a verdade na mão...deitara tudo a perder, com o seu orgulho besta e estúpido. Louca que foi...! Agora chora a felicidade perdida, mas nada pode remediar o mal que a si própria causou... Quando soube da rotura, Madalena esposa de Luiz pediu o divórcio... Por ironia do destino, seria ironia? Ele não foi para nenhuma das duas. Mais tarde, conheceu Rui, foi uma relação curta, que chegou para colmatar a falta de Luiz, tudo parecia correr bem entre eles, mas mais uma vez o destino fez das suas, e Rui acabou preso nas redes da melhor amiga de Rita, facto que quase arruinou a vida de Rui. Rita perdeu o namorado, e perdeu a amiga.... Perante este pensamento, ela sorri, se os perdera, é porque não eram lá grande coisa, nem como amiga, nem como namorado. Só, que naquela altura Rita era ainda jovem, bonitona, cheia de energia e vitalidade. Luiz continuava a persegui-la, então, conheceu Carlos. Para fugir ás investidas de Luiz, começou a sair com Carlos, apenas como amigos, só que a amizade acabou em casamento. E que casamento! Irascível, pouco comunicativo, Carlos tornou a vida de Rita insuportável. Ela perdoava-lhe tudo. Ainda hoje se pergunta porquê. O casamento durou dez anos...E mais uma vez Rita, se fartou de ser feliz..? infeliz..? Na altura, sentia-se muito, muito infeliz. Agora, sozinha, numa casa que para ela se tornou um sepulcro em vida, sem amigos, longe da família, mais uma vez Rita chora a falta da “infelicidade” que tinha, E sente o travo amargo, da solidão mais profunda e absoluta, que alguém alguma vez sentiu. Como sua mãe vaticinou, está só. Angustiosamente só..... Restam-lhe apenas as suas tristes recordações. É Natal. Rita, recorda sem muita saudade, alguns Natais da sua infância. Não eram muito alegres, nem divertidos. Passados sempre com seus pais, algumas vezes com seus tios. Não se lembra de alguma vez ter passado o Natal com os avós....O avô vinha de vez em quando, mas avó não gostava nada destas festas em família...Só mais tarde Rita percebeu porquê. “Em tempos seu avô bebia muito, andava sempre bêbado, um dia, fez um tratamento para deixar de beber, quando fora para a fábrica dos Serrões. A avó temia que por motivo das festas, o avô voltasse a beber, era esse o motivo. Rita sempre ouvira dizer aos pais e aos tios, que a avó era má, e, não gostava da família. Ao chegar á idade da razão, Rita compreendeu que a maldade da avó era tão somente medo, medo de voltar á vida desgraçada que havia tido, contudo parece que só Rita não via maldade em sua avó. Para todos ela foi sempre má. Pobre avó, sempre tão incompreendida! Só Rita a tinha amado de verdade....” Á noite, ela colocava o seu sapatinho na chaminé, e de manhã, encontrava invariavelmente um saquinho de bombons. Jamais uma boneca ou outro qualquer brinquedo. Houve porém um ano, tinha ela oito anos, seu pai, presenteou-a com um pequeno, mas lindo presépio, que a tinha deixado encantada. A partir de então, seus presentes de Natal, eram figurinhas que foram ao longo dos anos tornando o presépio maior. Passados cinquenta anos esse presépio ainda existe em casa de sua filha, só que em vez de crescer, vai minguando, exactamente como Rita.... Com um sorriso triste, ela lembra, quantas vezes pediu ao menino Jesus uma boneca... chegou a fazer promessas, mas nunca foi atendida. Seus tios dava-lhe quase sempre algo para vestir mais nada. Em relação ás guloseimas natalícias, apenas as filhós de abóbora, e os coscorões, feitos durante a Noite do Galo, por sua mãe. Bolo Rei? Ela nem sabia o que era. Nunca ouvira falar. Nozes, pinhões, passas, que era isso? Ela não conhecia. Também não era de admirar, tinha havido uma guerra mundial, e os tempos eram de racionamento. Era tradição, a mãe fazia as filhós, o pai e ela faziam ao presépio. Nessa noite, ninguém dormia. Seu pai fazia questão disso. Havia também as morcelas de arroz, e o delicioso cacau quentinho, para acompanhar as filhós. E era tudo. Lembra-se de um Natal, teria por aí uns seis anos. Seus pais por essa altura moravam na margem sul do Tejo e ela estava em casa dos avós. Não foi Natal não. Foi Ano Novo. Seus pais vieram passar o Ano a casa do tio Zé. Como quase sempre estavam todos zangados com a avó. Rita foi também fazer a passagem do ano com os pais e tios, mas queria ir para casa dos pais, aliás ela passava a vida cá e lá. Assim sendo, seu tio Abílio, a quem Rita tinha muito respeito, e a quem obedecia cegamente, sim porque menina mimada por todos ela era um pouco teimosa, disse-lhe: Vai a casa da avó buscar as tuas coisas, e quando forem três horas vais ter connosco, pois nós iremos no autocarro das três. Rita assim fez. Deixou passar uns quantos autocarros, e ás três horas em ponto, aí vai ela no autocarro. Este tinha dois pisos, e Ritinha, foi direitinha ao piso de cima, sem nem mesmo ver se os pais ou o tio também iam. A confiança no tio Abílio era cega. Quando chegaram ao sítio hoje conhecido por rotunda do Relógio, o cobrador, veio pedir-lhe o bilhete, ela respondeu, que, seus pais iam no piso de baixo, e eles é que pagariam a sua passagem, na altura custava a dita 2$00. O cobrador, passado um tempo veio dizer que ninguém se responsabilizava por ela, portanto teria que a deixar na paragem da rotunda. Que tempos aqueles hem? Não havia medo nem consciência, para deixar uma criança de seis anos, sozinha num sítio descampado e ermo como aquele era nesse tempo..... Bem, não haveria, por parte do dito cobrador, porque os passageiros do autocarro, indignados, cada um pagou um bilhete á menina, ficando Ritinha com 10$00, uma fortuna.....naqueles tempos até era. (Como Rita se sentia velha ao recordar esses tempos tão longínquos....)Mais um sorriso... Chegada que foi á Praça do Chile, saiu do autocarro, convencida de que, pelo menos o tio estaria lá á sua espera. Contudo, para seu desespero não estava ninguém. Ritinha começou a chorar. Não porque tivesse medo, ou porque se sentisse perdida, Rita desde muito pequenina, se habituara a viajar sozinha, e o percurso entre a casa paterna e a dos avós, não lhe era desconhecido. Nada disso, apenas desgostosa, pensando que sua mãe havia ido embora, e não a quisera levar. Á boa maneira da nossa terra, ao verem a menina a chorar, logo se juntou um magote de gente, até que, apareceu um cavalheiro, de meia idade, cabelos brancos, que a interrogou, querendo saber se ela pretendia ir para casa dos avós, ou dos pais. Ela queria ir para casa dos pais. Então o dito senhor, pegou nela, chamou um taxi, e levou-a ao barco. Comprou-lhe o bilhete, e comprou para ele um bilhete de gare, indo dentro da embarcação, onde pediu a uma senhora que tomasse conta da menina, até ela chegar ao destino.( ao que parece, naqueles tempos não havia pedófilos, nem se roubavam criancinhas. Na verdade também ainda não se faziam transplantes de órgãos, a coisa mais moderna que havia era a estreptomicina, para a cura da tuberculose. Bons tempos.....e Rita sorri de novo) Chegada a casa, Ritinha verificou que não estava ninguém. Aí compreendeu, que tinha havido um desencontro. Expedita, Ritinha, quando viu isso, foi imediatamente telefonar para a quinta, afim de avisarem os avós, de que ela estava em casa e em segurança. Como sempre sua mãe, tinha-a subestimado, não acreditando que ela iria no autocarro das três horas. Quando deram pela sua falta, entraram todos em pânico, menos o tio Abílio que, garantia, estar a sobrinha em casa, contudo ninguém lhe dava ouvidos. Por essa altura, a única pessoa que ficou tranquila, foi a avó. De resto andavam todos como loucos á procura dela. Todos sabiam, que ela não se perdia, mas como sabiam também, que não tinha dinheiro, temiam estivesse nalgum lado, sem poder ir para casa. O tio insistia, - Vamos para casa, tenho a certeza que a minha sobrinha já lá está. Enfim, lá foi com a mãe. Quando chegaram a menina estava em casa duma vizinha amiga da mãe. O tio chamou-a com um assobio, como era seu costume. Quando ouviu o tio, ela teve medo de ser castigada, porém o tio quando chegou perto dela, abraçou-a a chorar, dizendo: - Eu sabia, eu sabia. Ninguém me quis ouvir quando eu quis vir embora. Ninguém acreditou em mim. Mas eu conheço bem a minha sobrinha....! Ao recordar a cena, Rita dá uma boa gargalhada. Ainda hoje não entende, a razão pela qual, sua mãe dizia que só lhe dava vontade de se atirar ao rio. Suporia ela que a filha estava lá no fundo!? Sua mãe e os melodramas dela. A vida tinha sido para si, um eterno e trágico romance. O pai chegou já bem tarde, triste, porque havia encontrado, nas esquadras onde procurara a filha, muitas meninas perdidas, mas feliz, porque a sua menina era demasiado esperta para se perder. Eles é que se tinham perdido....Ao constatar que o principal problema da filha fora a falta de dinheiro, e que por isso, tinha estado na iminência de ficar sozinha num sítio ermo sem hipótese de ir para casa, nunca mais deixou de lho dar. A partir dessa altura, o pai dava-lhe por semana 2$50, ela era uma menina de sorte, com tanto dinheiro...! Tinha mais sorte, do que hoje. Sozinha em casa, sem dinheiro, pouca comida, este ano nem havia as filhós da mãe, nem o cacau quentinho, nada. Curiosamente, estes pensamentos fazem-na sorrir, e, também lhe trazem aos olhos uma lagrimita atrevida. Diz o povo que recordar é viver, e, na verdade, estas recordações fazem-na sentir-se bem disposta. Lembra também dos seus amiguinhos, a Rosinha, o Manel, o Fernando, a Blandina, a Carminha, o Arnaldinho, que seria feito deles? Ainda viveriam? Onde? Lembrar-se-iam dela? Vem-lhe lágrimas aos olhos ao recordar-se deles e das suas alegres brincadeiras. Recorda, os teatros ou cinemas, que faziam, em que ela era sempre a principal intérprete, e o Arnaldinho era o galã, e não pode deixar de rir, quando se lembra dele a beijá-la á cinéfilo, como ela era a maior de todos, ele para a beijar, tinha de subir para qualquer coisa, a fim de ficar mais alto. É que os galãs de cinema, eram todos mais altos que as mocinhas...ora essa! Imaginação era o que não faltava. Havia ainda o baloiço. Ou antes, três baloiços, pendurados num tronco duma oliveira, onde ela e a Rosinha e o Manel, costumavam brincar. E onde ela costumava cantar ao desafio com as “saloias” que trabalhavam na quinta. Esse baloiço durou até a nova urbanização dos Olivais; quando ela voltara a Portugal, eles ainda lá estavam, a recordar a sua infância, e única época da sua vida em que tinha sido feliz de verdade, fora quando estava em casa dos avós. Mais uma lagrimita de saudade á mistura com um sorriso de ternura. Grandes correrias, pela cevada, alta e fresquinha, eram polícias e ladrões. Ouviam-se os tiros, das pistolas de caniço, feitas pelo Manel. Pum! Pum! Era assim nesse tempo. Agora com as novas tecnologias, e a era espacial, será Pshiu! Pshiu!...realmente a tradição já não é o que era... Como diria a avó: - Modernices! Querida avó, se ela cá voltasse, muito se iria admirar com tanta modernice, viagens de ida e volta á lua, túneis por sob o mar, telemóveis, enfim....Se bem que a avó, sempre acompanhara a evolução dos tempos, com a maior naturalidade. Ai avózinha! Quanta saudade.! Ela adorava a sua avózinha. Agora sim. Rita chora a valer. Que importa? È Natal! Assim, acompanhada pelos seus bons fantasmas já não está tão só. Pela primeira vez, passou um Natal perto de sua avó...Estranhos caminhos tem a vida Ao longe uma campainha toca. É um toque, fraco, muito fraco mesmo. Afinal, é o telefone do vizinho que a acorda. Já é dia. Rita tinha adormecido, no sofá, entregue ás suas recordações nesta noite de Natal.. Arroja, 25 de Dezembro de 2002 Maria Isabel Galveias
Postado por lylybety em 07:26:00 Sem comentários:
sábado, novembro 25, 2006
O CASO DE HOJE
O CASO DE HOJE Depois de ter estado a falar com o meu querido amigo Carlos Gil, decidi abrir um blog, para nele debitar, todas as coisas ediotas ou nem tanto, que me vão acontecendo no dia a dia.Só que, para contruir este blog, não dei dois nem três passos, dei por aí uns quinhentos...Dá realmente vontade de rir. Quando disse ao Carlos que não era capaz de abrir o blog, ele, ó tristeza, ó infutunio, ó isulto vil, maior de todos os insultos, chamou-me LOIRA!!!!. Logo eu, que tenho os cabelos da cor da neve!Depois de muito fazer, apagar, refazer, lá consegui construir o blog, não é muito ao meu jeito, não era isto que eu queria, mas, seguindo o conselho de quem sabe mais do que eu nestas coisas de bloguisses, este vai dar para eu me familiarizar nestes eventos (acho que são inventos, serão?) bom seja lá o que for aqui está o meu blog, novo, acabadinho de sair da forja, ainda com um xeirinho, a talco e água de colónia, como um recem-nascido que se presa.A partir de agora, é só dar largas á imaginação, e cá vou eu, embalada nas doces e suaves ondas da net.Net, maravilha das maravilhas! Companheira de jornada já lá vão uns bons seis anitos.Jé nem saberia viver sem ela; modernices como diria a minha querida e santa Avozinha.E, como já estou aqui "agarrada" ao PC, navegando, há um bom par de horas,estou cansada, e, com uma forte dor no pescoço e nas costas. Estas desbragadas noites de navegação, já não são para a minha idade, ou serão? Lylybety
Postado por lylybety em 09:36:00 Sem comentários:
COMO FOI HOJE?
Hoje foi um dia parecido com aos outros, salvo pequenas diferenças. Ontem estive por aqui até de madrugada. Enfim, chegou o João Pestana, que há alguns dias se tinha ausentado, não sei muito bem para onde, de vez em quando faz destas. Pois dizia eu, o João Pestana, chegou, muito dengoso, muito carinhoso, e catrapus, não resisti aos seus encantos, e, lá fomos muito agarradinhos pra cama. Foi uma noite tão intensa, e tão longa, que, só ás 18h de hoje, consegui libertar-me dos braços dele. Só espero que este amor, seja duradouro, e que de novo esta noite me envolva nos seus ternos e doces braços, para que fiquemos ambos bem aconchegadinhos no vale dos lençóis. Após de, ainda meio ensonada ter visto algumas séries interessantes na TV, séries que costumo acompanhar, nada de telenovelas, dessas estou mais que farta, são coisas para mim muito mais importantes, mas isso também não interessa nada. Mas já me perdi.....Ah!, pois foi, depois de ver TV vim até aqui ter com este meu amante, que, confesso é muito mais apegadiço do que o já falado João. Li o correio, enviei algum, visitei uns grupos de que faço parte, e, agora é que foram elas, onde andava o meu Blogs, que tanto me custou a conseguir? Pois foi. Não sabia dele, nem como é óbvio lá podia entrar . Andei de déu em déu, até que lá o descobri. Então, ó milagre dos milagres, tinha cá para meu espanto duas mensagens. Uma do Carlinhos , e outra duma simpática, que não conheço, mas espero vir a conhecer. Pois é. E agora? Não sei responder.....É isso mesmo, ainda não sei como se faz. Contudo deixo aqui neste momento a minha gratidão, e, o meu carinho aos dois. Bem hajam. Lylybety
Postado por lylybety em 09:27:00 Sem comentários:
PÔR DO SOL AFRICANO
PÔR DO SOL AFRICANO África, é um continente lindo; cálido, envolvente, onde todo o ambiente nos parece abraçar e acariciar. Só pode corroborar esta minha opinião, quem já lá esteve, nem que fosse por breves dias. Na quente e luminosa tarde africana, o Sol de oiro começa a descer no seu ocaso, como se fora uma enorme bola de fogo, alaranjado. É uma hora mágica; os animais começam a regressar aos seus abrigos, e, nesse instante ouve-se a restolhada dos gamos, impalas, coelhos, enfim toda a fauna daquele lindo continente; os pássaros regressam aos ninhos, e com o seu chilrear, parecem felizes e transmitem-nos felicidade; as crianças que brincam nos terreiros frente ás palhotas, deixam de o fazer, e, entram nelas. De repente tudo parece parar. A Natureza, como que fica em transe, nada se ouve, nem um piar, uma corrida, um grito, um silvar das folhas das árvores, nada.... Depois, numa explosão de sons, os morcegos saem dos telhados das habitações, e, aventuram-se no céu em bandos, com grande alarido no seu chiar; ao mochos e as corujas também se apressam a acordar piam no seu piar agoirento. Toda a savana parece acordar para o trabalho dos seus habitantes nocturnos. Enquanto isso, o sol, vai-se sumindo, e já o céu parece um enorme braseiro, todo ele vermelho e alaranjado; até que subitamente, quase sem nos apercebermos, o Sol desaparece; quase em simultâneo, já a Lua espalha a sua clara luz, por aquela terna, Quente, doce e afável terra, que é o continente africano.... Lylybety
Postado por lylybety em 09:17:00 Sem comentários:
QUEM TE MANDA A TI SAPATEIRO?
Exactamente! Quem te manda a ti sapateiro tocar rabeca? Entrei para este mundo da blogosfera, é assim que se diz não é? Mas será assim que se escreve? Como ia dizendo entrei para este mundo, sem trazer nem sequer um fósforo, ou seja, completamente ás escuras. Não percebo nada disto. Primeiro foi uma trabalheira para conseguir abrir o blog agora é outra para abrir? Postar? Colocar? Sei lá como se diz, e ainda menos como se faz, os separadores ou links ou lá o que é. Bem pelo menos, dá para eu dar umas boas gargalhadas á custa da minha falta de habilidade. Também não admira, ninguém me ensinou a mexer em PCs e muito menos nestas andanças da net. Tenho vindo a gatinhar, e estou a começar a dar os primeiros passos. Ainda muito indecisos, cambaleantes Mas com o tempo eu sei que vou andar a passos firmes. Para isso conto com a ajuda de quem faz o favor de visitar esta minha palhota. É. Agora ainda é palhota, mas aos poucos vai-se transformar num palácio, ou então num hotel de 5 estrelas. Quem viver verá. Até lá, tenho que andar por aqui á pesca, a fim de encontrar alguma coisa que me ajude nesta tal história dos links. É que eu tenho umas ideias, não sei é como praticá-las. Se não divido o que escrevo, por quartos e salas individuais, vai haver aqui uma tal bagunça, que nem eu me vou entender com ela. Mas o pior, pior, pior, foi que falando eui, com uma amiga, a respeito da criação deste recanto, ela disse-me, que tinha tentado um blog aqui no sapo, mas não se entendeu, então aconselhou-me o MSN dizendo ser mais simples. Bem mandada como sou, lá fui eu. Pois fui. Mas perdi o norte, e agora não sei lá ir de novo. Para mim, o tal ainda é mais difícil do que este. Enfim logo se vê..... Lylybety
Postado por lylybety em 09:02:00 Sem comentários:
VISITA A MINHA FILHA
SABADO 20-8-005 Hoje fui visitar a minha filha, e os meus netos, mas principalmente os meus bisnetinhos. Cheguei, perto do meio dia, o Leo estava ao colo da mãe. Está tão grande, e tão esperto! Acho que gostou de mim, pois eu brinquei com ele e ela fartou-se de palrar. Só tem um mês e meio, mas já palra tanto!! Está lindo, achei-o parecido com o avô e com o tio Fábio, muito embora o achem parecido com o pai. Levei uma bola de praia ao Tomás, ficou tão contente!!!! A mãe é que não gostou que lhe tivesse dado a bola. É que ele gosta muito de bolas, mas, como é um menino muito activo, quer correr atrás da bola, e têm de segurá-lo. Acham que ele é de vidro então está super protegido, por mais que eu diga que ele tem de se defender sozinho, não me ligam importância, afinal eu já sou velha, e, não percebo nada de nada sobre crianças.... Nunca criei nenhuma....! Enfim! Almoçámos uma sardinhada. Depois do almoço o Leo adormeceu, a Teresa, sua mãe, quis ir arranjar o cabelo. Eu ainda lhe disse que o deixasse ficar a dormir, eu tomaria conta dele, mas ela teimou em levá-lo. O menino não parece gostar muito de colo, estava muito calor, e, ele não conseguiu dormir muito tempo....ficou rabugentinho. Como bebé que é, chora e leva as mãozinhas á boca. Sua mãe acha que ele tem fome e pimba dá-lhe de mamar, mas ele tinha mamado, e ainda não tinha, passado o tempo necessário entre mamadas, mama pouco, e fica ainda mais rabugento, ora na opinião abalizada da avó e da mãe, o que ele tem é mau olhado. Depois de devidamente benzido, ele continua a choramingar, a mãe acha que são gases, e enfia-lhe um supositório Bem-uron, para lhe aliviar as cólicas, que no seu entender haviam sido provocadas por duas colheres de chá de água que o menino bebeu, a meu conselho. É que o menino não deve beber água, no entender dela. Penso que, elas em vez de progredirem regridem no tempo, ou serei eu que estou velha, caduca e não sei o que digo? Sempre a choramingar no colo da mãe, o bébé em todo dia não dormiu aquele soninho que todos os bébés devem dormir. Enquanto a Teresa jantava, peguei nele, trouxe-o para a sala, deitei-o no sofá, e, acabaram-se as cólicas e a rabugice, esperneava, esbracejava e palrava comigo que era um louvar a Deus. Assim o consegui manter calmo, até perfazer o tempo regulamentar entre as mamadas. Acabou por ficar com fome, a mãe deu-lhe de mamar e ele já ficou mais ou menos, só que, durante todo o dia não dormiu, e estava muito rabugento, como é normal nas crianças de tão tenra idade. Por mais que eu lhes diga que as crianças devem ter horas certas para tudo, eu sou parva, sou antiquada, e não sei o que digo. Meu Deus! Eu fui mãe de quatro filhos, que não têm entre o mais novo e o mais velho seis anos de diferença. Sempre os eduquei a fazer uma vida regrada e de horas certas, não me deram trabalho nenhum a criar. Fui a mãe mais feliz do mundo. Sempre dormiram toda a noite, sempre fizeram o soninho entre as mamadas, e, não morreram á fome, por lhes dar de comer de três em três horas, e, nem por isso deixaram de ser uns bebés desenxovalhados, e de serem os homens bem constituidos que são hoje. Pois é! Mas isso são coisas de velha, já não se usam. Nada como dar-lhes de comer de meia em meia hora, para que fiquem gordos e anafados, no entender da mãe e da avó. Mas eu nada tenho com isso. Não sou eu quem os atura.... Estávamos a ver as notícias, quando a TV enguiçou. Deve ter sido avaria no sinal de satélite. Aí, o Cardoso, meu genro, começou a barafustar que, os nossos canais, como ele diz, não se devem ver por satélite, mas sim pela antena normal, também não entendi essa, mas não admira sou velha e estúpida. Só que ele a barafustar, não disse, mas eu percebi muito bem, que ele estava a atirar para cima de mim as culpas da avaria, já que eu tenho o péssimo costume, de ver outros canais, que não são o Playboy, a SIC, ou a Spot-TV. Fui com a intenção de lá passar o fim de semana, mas depois de ter feito mal em levar a bola ao Tomás, ter deitado mau olhado ao Leo, e ter avariado a TV, não tive ânimo de lá ficar nem mais um segundo. Assim sendo, dei corda aos pneus e vim para a minha casa. Afinal de contas, aqui é que eu estou bem. Mais uma vez, me senti personna non grata lá em casa. Era minha intenção, quando saí de manhã ao ir para lá, ficar a ajudar a minha filha, que tem sempre montes de roupa para lavar e engomar, e, bem assim, sempre montanhas de lixo para despejar, há imensa imundície naquela cozinha do lume, eu queria ajudá-la a dar um jeito naquilo tudo, pois ela é sozinha, e é uma casa de gente. Depois tem lá o Tomás, que dá imenso trabalho, porque elas querem, ele é um santo menino, mas lá está, mal habituado. A mãe, não faz nada de nada á minha filha, até inclusivamente é a minha filha quem depois de fazer quase tudo, ainda tem de olhar por ele. Mas eu sou velha e tonta...Ainda engomei uma pecitas de roupa, era minha intenção passar o resto durante a noite, quando estivesse mais fresco, pois o calor era insuportável, mas, optei por me vir embora. Trazia o coração apertado como sempre. Filha é filha, neta é neta, mas não dá. Já são demasiadas vezes que, me sinto mal lá em casa. Penso mesmo, e, não é por despeito ou maldade de minha parte, mas penso que tão cedo não irei lá. Acho mesmo que só lá irei se for convidada para alguma coisa, o que duvido que aconteça. E, assim, um dia que eu supunha, iria ser feliz acabou sendo um dia triste, em que mais uma vez me senti muito só, á margem de tudo e de todos. Mas que hei de fazer? Eu sou velha e tonta!!! Agosto de 2005 Lylybety
Postado por lylybety em 08:55:00 Sem comentários:

RECORDAÇÕES
Mais um fim de semana! Micaela detestava os fins de semana. Sabia que iria para casa, se encafuava no sofá a ver televisão, ou a dormir. Como era sozinha, nunca tinha vontade de sair de casa.Houve um tempo que ainda saía de vez em quando com sua amiga Raquel, mas esta tinha arranjado um companheiro, e já não lhe sobrava tempo para saídas com a amiga. Pelo menos Raquel andava feliz, já era algo de positivo. Olhou o relógio, 18,30h. Tinha despachado o seu trabalho cedo. Pôs em ordem os papeis, arrumou-os na gaveta da secretária, tapou o computador, acendeu um cigarro, que raio de vicio tinha arranjado, enfim alguma distracção havia de ter...esta era a desculpa que ela dava, quando lhe chamavam a atenção por fumar, ás vezes em demasia. Recostou-se na cadeira saboreando o cigarro, e sorriu para consigo, pelo facto de ter sempre a sua secretária impecavelmente arrumada. Suas colegas diziam que era mania, mas não, era tão somente a força do hábito. Fechou os olhos, e recordou com alguma saudade o seu primeiro emprego. Luísa, sua chefe era exigente, e não gostava que as empregadas deixassem as secretárias desarrumadas de um dia para o outro. Dizia e com razão que havia documentos com alguma confidencialidade e não deveriam ser expostos á curiosidade dos empregados de limpeza. Assim Micaela ficara com este pequeno defeito profissional. Talvez por isso entre outras coisas, ela era a funcionária em quem o Director mais confiava. Voltou a olhar para o relógio, faltavam cinco minutos para as sete, preparava-se para sair, quando o Director a chamou pelo interfone.- D. Micaela?- Sim senhor Director.- Ainda bem que não saiu, poderia chegar aqui ao meu gabinete? O que seria este queria agora?Bateu á porta, e, entrou.- Desculpe D. Micaela, mas preciso que me faça o favor de enviar por correio electrónico, ainda hoje, este relatório para Deutz, é que só agora o Conselho de Administração deu autorização para comprar as peças dos motores das máquinas, e sabe como é importante que as mandem com a maior brevidade.Com certeza Sr. Director. Respondeu cortesmente.Já ia a sair quando ele pergunta:Espero que não vá transtornar os seus planos, como é fim de semana... - De modo algum. Não tenho nada importante para fazer este fim semana. Não atrapalha nada.- Nesse caso, fico muito grato. Até segunda e bom fim de semana.- Bom fim de semana também para si, responde ela já da porta. Como era seu costume leu atentamente o relatório, e só depois o passou no computador. Eram 21h quando deu por findo o trabalho.Pegou na mala e saiu.Na rua estava um calor infernal, como tinha ar condicionado nem se tinha apercebido do calor que estava. Ainda bem que o carro já estava á sombra.Pôs o carro a trabalhar, e enquanto o motor aquecia acendeu outro cigarro. Apetecia-lhe sair, ir ao cinema ou a outro lado qualquer, mas sozinha? Suspirou e arrancou um pouco irritada consigo mesma.O transito estava impossível, o que contribuiu para a enervar ainda mais. Por fim lá conseguiu chegar a casa, cansada e aborrecida.Foi ver se tinha mensagens no telefone, mas ninguém lhe tinha telefonado como era usual, nunca ninguém lhe telefonava...Tomou um duche frio, e preparava-se para comer qualquer coisa, quando, milagre dos milagres, o telefone tocou. Viu as horas, era já meia noite, quem seria a esta hora? Ficou um pouco assustada, seria alguma má notícia?Um pouco a medo atendeu: - Sim?- Boa noite, responde uma voz masculina que lhe era vagamente familiar, é de casa do sr. David Falcão?Ficou um pouco indecisa, quem seria este? Pelos vistos não sabia que estavam divorciados.Mas deixou-se levar pelo instinto, e respondeu:- É sim.- Seria possível falar com ele?- E quem quer falar com ele?- Sou um amigo e antigo camarada da tropa, o Simões.O Simões? Que estranho, então ele não sabia? Cada vez mais intrigada responde:-Ah Olá sr. Simões como está? E a sua esposa como vai?- Eu estou bem, ela não sei, nós separámo-nos, já há três anos.- Sim? Não sabia. O David não me contou nada.- É natural, eu desde que vocês estiveram em nossa casa nunca mais falei com ele, por isso suponho que ele ainda não sabe.Pelos vistos fora contagioso, pois havia também três anos que ela e David se tinham separado.Contudo alguma coisa lhe soava estranho. Porque haveria o Simões de telefonar aquela hora? Aqui havia coisa. Sorriu, a desconfiança tinha sido nela inoculada por David. - Pois ele não está. Neste momento está a trabalhar.Qualquer coisa lhe dizia que não devia falar da sua separação, assim, seguiu o seu instinto que raramente a enganava. - Então a D, Micaela pode dizer-me onde ele está a trabalhar?Gostava de falar com ele. E agora Micaela? Como vais descalçar esta bota? Mentindo claro.- Pois não sei! É que ele foi para um novo cliente, e ainda não me disse onde estava.Pareceu-lhe que ele estava a rir-se. Também Micaela és uma desconfiada, pensou, apercebeu-se porém que para ela era difícil dizer que era divorciada, era como se tivesse sido marcada com um ferro em brasa...- Ah! Se ele lhe telefonar diz-lhe para ele me ligar por favor? Eu hoje estou de serviço nos bombeiros.- Com certeza, dir-lhe-ei sim. - Então boa noite, e desculpe tê-la incomodado a esta hora.- Não tem importância, boa noite! Tinha perdido o apetite. Ela que tudo fazia para tentar esquecer David, havia sempre alguma coisa a recordar-lho. E como não havia de haver, se ela tinha fotos dele espalhadas por toda a casa, exactamente no mesmo sítio onde as colocara ainda casada. Olhou para uma que estava sobre a televisão. Ele parecia sorrir-lhe, dava a sensação que queria dizer-lhe algo.Mas David nunca mais dera sinal dele. Isso entristecia-a demasiado. Tinham decidido continuar amigos, mas sem ela saber porquê ele deu o dito por não dito, e nunca mais soube dele.... Contra sua vontade, lágrimas rebeldes rolaram-lhe na face.Não fora de sua vontade a separação. Sabia que ele também não queria isso, então o que foi que aconteceu? Que foi que os separou? O orgulho, só o orgulho idiota de cada um deles.Agora ela levava uma vida vazia sem interesse por nada.Tinha alguns amigos que ás vezes a convidavam para sair, mas sabia de antemão que a intenção não era só levá-la a passear, almoçar, ou ir ao cinema.....Só que ela fazia-se desentendida, eles acabaram por desistir. Agora sozinha muitas vezes se arrependia, mas não podia fazer nada. David era e seria sempre o seu marido.... Embrenhada nestes pensamentos, nem deu pelo tempo passar, e quando viu as horas era quase dia, cinco da madrugada....resolveu tomar um comprimido para dormir, dormir, esquecer, era tudo o que lhe restava.Estava quase a adormecer, quando o telefone toca de novo.Meu Deus, pensou, quem será agora? Só temia que algo acontecesse a algum dos seus filhos, estavam tão longe dela.... E tão esquecidos que tinham mãe....- Estou?- Boa noite! Ou será bom dia? Ainda acordada?Micaela deu um pulo. Aquela voz...estava a sonhar ou era David? Não, não podia ser....- Estou sim, quem fala?- Ainda não passou tanto tempo que não reconheças a minha voz, ou já?- Na verdade não estou reconhecendo não, respondeu insegura.- Estás sozinha?- Isso interessa?- Sim. É até importante, para mim, saber.- E porquê?- Diz-me só se estás sozinha ou acompanhada.- Se é tão importante, estou acompanhada, mentiu. Lá estava o orgulho a falar mais alto. Mas que queres? Precisas de alguma coisa?- Afinal sempre conheces a minha voz. Preciso sim. Preciso de ver-te.- Lamento, mas não vai ser possível.- Está bem, sendo assim até outro dia em que estejas sozinha.- Adeus, até esse dia. Desligou o telefone e chorou, de raiva, se queria tanto vê-lo, porque respondera assim? Maldito orgulho, que falava sempre mais alto!Não foi para a cama, deitou-se no sofá e ali ficou a chorar de raiva e saudade.Pouco tempo depois era a campainha da porta que tocava. Raio! Quem seria agora, será que não podia dormir nem um segundo esta noite?- Quem é? Ninguém respondeu. Devia ser algum vizinho que se esquecera da chave, só podia.- Quando ia voltar para o sofá, ouviu um pancada leve na porta. Espreitou pelo ralo, e... era ele! Era David! Não podia ser. Não podia acreditar. Abriu a porta e lá estava ele sorrindo com ar burlão. - Posso entrar?- Claro. A casa é tua.- Posso beijar-te?- Também. És o meu marido. Podes e deves.- Ele beijou-a suavemente como era seu costume. - Micaela estava radiante. Não cabia em si de tanta felicidade.- David fora visitá-la, ao fim de tanto tempo....- Sentaram-se e conversaram imenso tempo, até que ele perguntou, posso cá dormir hoje? - Podes a cama está vazia, eu durmo no sofá.- E não queres dormir comigo?- E tu queres?- Foi para isso que vim, apesar das tuas mentirinhas...E foram...Que bem lhe sabia sentir o corpo dele encostado ao seu.- Ouviu ao longe uma melodia de Mozart...ela adorava Mozart- A melodia repetia-se uma e outra vez...até que acordou e se viu deitada no sofá, e era o telemóvel a tocar, o seu amigo Ricardo, convidava-a para ir tomar café com ele. Reparou então que era domingo, pois só ao domingo ele a convidava...O que ela julgava ser o corpo de David, eram as costas do sofá.Mais uma vez a visita de David não passara de um sonho...Porque acordou? Estava tão feliz a sonhar...E o telefonema teria sido sonho também?Efeito dos comprimidos para dormir que ela tomara....Sentiu-se mais triste e infeliz que nunca.....Mesmo assim, vestiu-se para ir tomar café com o amigo. Talvez David aparecesse por lá....Quem sabe? A esperança é a última a morrer....Quando chegou, já Ricardo a esperava. Acolheu-a com o seu costumado sorriso amigo...Entretanto, o sr. Maurício que era o dono do café, pessoa sempre bem disposta, e, que parecia gostar de Micaela, chamou-a e, disse-lhe baixinho: - Sabe quem esteve aqui ontem?O seu coração pulou-lhe no peito, mas disfarçando respondeu:- Não. Quem foi? - O sr. David. - Sim? - Sim. Vinha com pressa, mas veio cumprimentar-me. Sabe? Achei-o triste, abatido parecia mais velho...Meu Deus, pensou, todos o vêem menos eu...Afivelou um sorriso despreocupado, e lá foi tomar café, e conversar com o seu inseparável amigo Ricardo...De volta a casa, tomou uma dose maciça de sonoríferos, e dormiu até ás 7,39h de segunda feira de um só sono.Tomou o seu habitual duche, e lá foi para mais uma semana de trabalho. Arroja 2002-07-26 Maria Isabel Galveias
Postado por lylybety em 15:26:00 Sem comentários:
RECORDAR É VIVER
Hoje fui a uma entrevista a fim de arranjar um emprego, para as minhas horas livres. Foi uma autentica romaria de saudade.A entrevista era nos Olivais. Olivais Sul como agora é designado. No tempo em que lá vivi, era Olivais somente..... Teria que estar ás 13h no n.º 56 da rua Cidade da Beira. Não sabia onde era, no meu tempo por ali só havia quintas, e oliveiras.Fui cedo, para descobrir o local, e, chegar a horas á entrevista, perguntei ao motorista da Carris, onde ficava a dita rua, ele parecia não saber ao certo. Nesta bem fadada terra, se alguém souber alguma coisa vai preso, por certo.Desci do autocarro, na rua de Nampula, passei nas ruas de Quelimane, João Belo, Lourenço Marques, Inhambane.......No espaço de uma hora percorri, Moçambique do Rovuma ao Maputo, até que chaguei á rua Cidade da Beira.Esta rua fica perto do lindo Vale do Silêncio, esse sim, é do meu tempo. Para fazer tempo, pois era ainda muito cedo, entrei num café, e, quando estava tomando a minha bica, entrou um senhor, muito bem disposto e galhofeiro. A empregada começou a brincar com ele, e, ele acabou por dizer que tinha 80 anos. (Não lhe daria mais de 50) Como boa Moçambicana, logo entrei na conversa, perguntando se ele era daqueles sítios, ao que ele respondeu:- Sou aqui nascido e criado minha senhora, já lá vão 80 anos....- Então, deve lembrar-se da Quinta dos Serrões...- Se me lembro! Havia lá uma fábrica de Curtumes, trabalhei lá- Conheceu portanto, o meu avô, ele era o encarregado da fábrica.- Se conheci. Era boa praça esse sr. Paulino, era assim o nome dele não era?- Era sim. Eu fui para essa quinta, quando tinha 18 meses, vivi lá até perto dos 14 anos....- Ai minha senhora, isso é que eram tempos...!- É verdade! Sabe? Estes Olivais de hoje não me dizem nada, já nem sei onde estou.- Aqui é a quinta do Patacão, lembra-se?- Lembro sim, vim muitas vezes aqui apanhar caracóis, com a Rosita da Alaguesa.- A Rosita? A senhora conheceu a Rosita?- Sim. Fomos criadas juntas. Nunca mais a vi!- Ela mora na Rua Alves Gouveia vejo-a muitas vezes.- Quando estiver com ela, diga-lhe por favor, que encontrou a Belinha dos Serrões, e que ela lhe manda um grande abraço está bem?- Minha senhora, ainda hoje lhe vou dar esse abraço, fique descansada!- O senhor lembra-se, dos bailaricos dos Santos Populares, que havia no Rossio? (Largo da Viscondessa)- Se me lembro... Eram outros tempos. Quantas vezes lá ouvimos os Lírios, no tempo do Jacinto Lopes...- É verdade. Ele cantava tão bem! Havia também os Mensageiros do Ritmo, com o João Loureiro....Era a época do give, das rumbas, o xa-xa-xa, o tango, enfim nesses tempos não eram ainda consideradas danças de salão, dançavam-se em todos os bailaricos...- Minha senhora, nem imagina, quanto me alegro, por poder falar desses tempos, com quem os viveu...Esta mocidade de agora, tem tudo o que nós não tivemos, mas com tanta coisa, que nem sabíamos que existia, nós fomos muito mais felizes. Fala-se da fome que se passava nesse tempo...Eu nunca tive fome! Haviam tantas árvores de fruta, e fruta da boa, sem corantes nem conservantes, como a de agora. Ia-mos á xinxada, e enchia-mos a barriga. Os donos faziam de conta que não nos viam, e no fundo, era a maneira da rapaziada se divertir. Não havia droga, nem nada disto que o dito progresso nos trouxe.Eram quase horas da minha entrevista. Com alguma pena, pois havia ainda tanta coisa a recordar ,despedi-me do senhor, dizendo:- Bem tenho de ir. Talvez nos encontremos por aqui mais vezes.- Aí minha senhora. Oxalá assim seja. Hoje foi um dos dias mais felizes que tive. É tão bom recordar o passado!O senhor tinha lágrimas nos olhos, e eu também. Afinal, não sou só eu que tenho saudades, há mais quem tenha.Acrescento, que consegui o tal emprego. Fico duas vezes feliz. Uma porque o consegui, outra porque vou ter oportunidade de voltar a ver aquele senhor, que tanto gosta, como eu, de recordar o nosso lindo bairro dos Olivais, quando ele tinha realmente oliveiras, e, muitas quintas, com alegres camponesas, com quem eu cantava ao desafio.Foi um lindo dia para mim..... Arroja-21-7-2004 Maria Isabel Galveias
Postado por lylybety em 15:18:00 1 comentário:
SIMBIOSE
Tinha sido um dia daqueles...........!Um dia em que tudo me fazia lembrar os bons momentos já passados, e, me fazia sentir uma enorme solidão, um enorme desejo de amar e ser amada.á noite, estive como de costume, agarrada ao meu companheiro fiel, o meu pc. Porém, por qualquer circuntãncia, estava inquieta. Era meia noite. .algo me impeliu a sair. Ir até ao meu monte mágico, aquele onde tudo me parece perfeito, e, onde eu consigo acamalmar e retemperar forças.carregar as baterias como eu costumo dizer.como sempre tudo era calma e magia. Aquele lugar tem para mim , o fascinio do sonho.fiquei dentro do meu carro a olhar as estrelas, que não sei porquê , ali parecem ser maiores, mais lindas e com mais luz.de súbito, os meus olhos fixaram-se numa, que parecia ser, de todas a maior, a mais brilhante, como se círius se estivesse a dirigir a mim.começou descendo, descendo, e quando estava já perto muito perto, tu desceste dela envolto numa luz azul incandescente. Olhei-te e verifiquei que tinhas os braços estendidos para mim, como numa súplica de entendimento, de simbiose, de ternura e de sonho.aproximáste-te, demos as mãos, ficamos ambos estáticos olhando-nos, sem falar, apenas as nossas mãos se apertavam e os nossos dedos se entrelassaram, como se fossem membros do mesmo corpo. Um só corpo.começas-te a puxar-me , em direcção á estrela brilhante, eu, sentia uma leveza e uma calma, como não sentia há muito tempo.só nessa altura a tua voz suave, terna e doce me disse baixinho: - vem! Não receies. Verás que no nosso mundo de encanto e magia,tudo é como tu gostas. Lá só existe o sonho etéreo onde tudo é perfeito. Vem!eu deixei-me conduzir por ti, como que deslizando no espaço, fomos os dois sem palavras, subindo........subindo, olhava para baixo e via o meu monte cada vez mais longe.... Longe.....longe........de súbito uma luz mais forte me feriu a vista, fazendo-me piscar os olhos, então deixei de sentir a tua mão na minha. Pareceu-me cair com brusquidão num poço, onde , sem saber como, magoei um braço. Abri os olhos, era dia. O sol iluminava-me.fora ele que m me acordara, tinha passado a noite no meu carro adormecida sobre o volante, daí a dor no braço.além da dor no braço, senti mais aguda a dor da solidão, e, a tristeza de que só existe simbiose perfeita no sonho. Lágrimas cristalinas corriam-me nas faces, não eram de tristeza, eram pela felicidade plena sentida nessa nóite, com o contacto amigo da tua mão, fazendo-me sentir querida e importante. Pela primeira vez na vida, alguém tinha querido partilhar comigo, toda a magia , sentida numa simbiose perfeita.por esta noite mágica te ficarei eternamente grata................maria isabel galveias piedade, 12 de novembro de 2000
Postado por lylybety em 15:12:00 Sem comentários:
ação ás guloseimas natalícias, apenas as filhós de abóbora, e os coscorões, feitos durante a Noite do Galo, por sua mãe. Bolo Rei? Ela nem sabia o que era. Nunca ouvira falar. Nozes, pinhões, passas, que era isso? Ela não conhecia. Também não era de admirar, tinha havido uma guerra mundial, e os tempos eram de racionamento.Era tradição, a mãe fazia as filhós, o pai e ela faziam ao presépio. Nessa noite, ninguém dormia. Seu pai fazia questão disso. Havia também as morcelas de arroz, e o delicioso cacau quentinho, para acompanhar as filhós. E era tudo. Lembra-se de um Natal, teria por aí uns seis anos. Seus pais, por essa altura moravam na margem sul do Tejo, e ela, estava em casa dos avós. Não foi Natal não. Foi Ano Novo. Seus pais vieram passar o Ano a casa do tio Zé. Como quase sempre estavam todos zangados com a avó. Rita que estava em casa da avó, o que acontecia semana sim semana não, foi também fazer a passagem do ano com os pais e tios, mas queria ir para casa dos pais, aliás ela passava a vida cá e lá. Assim sendo, seu tio Abílio, a quem Rita tinha muito respeito, e a quem obedecia cegamente, sim porque menina mimada por todos, ela era um pouco teimosa, disse-lhe: Vai a casa da avó buscar as tuas coisas, e quando forem três horas vais ter connosco, pois nós iremos no autocarro das três.Rita assim fez. Deixou passar uns quantos autocarros, e ás três horas em ponto, aí vai ela no autocarro. Este tinha dois pisos, e Ritinha, foi direitinha ao piso de cima, sem nem mesmo ver se os pais ou o tio também iam. A confiança no tio Abílio era cega.Quando chegaram ao sítio hoje conhecido por rotunda do Relógio, o cobrador, veio pedir-lhe o bilhete, ela respondeu, que, seus pais iam no piso de baixo, e eles é que pagariam a sua passagem, na altura custava a dita 2$00. O cobrador, passado um tempo, veio dizer que ninguém se responsabilizava por ela, portanto teria que a deixar na paragem da rotunda.Que tempos aqueles hem? Não havia medo nem consciência, para deixar uma criança de seis anos, sozinha num sítio descampado e ermo como aquele era nesse tempo.....Bem, não haveria, por parte do dito cobrador, porque os passageiros do autocarro, indignados, cada um pagou um bilhete á menina, ficando Ritinha com 10$00, uma fortuna.....naqueles tempos até era. (Como Rita se sentia velha ao recordar esses tempos tão longínquos....)Mais um sorriso... Chegada que foi á Praça do Chile, saiu do autocarro, convencida de que, pelo menos o tio estaria lá á sua espera. Contudo, para seu desespero não estava ninguém.Ritinha começou a chorar. Não porque tivesse medo, ou porque se sentisse perdida, Rita desde muito pequenina, se habituara a viajar sozinha, e o percurso entre a casa paterna e a dos avós, não lhe era desconhecido.Nada disso, apenas desgostosa, pensando que sua mãe havia ido embora, e não a quisera levar. Á boa maneira da nossa terra, ao verem a menina a chorar, logo se juntou um magote de gente, até que, apareceu um cavalheiro, de meia idade, cabelos brancos, que a interrogou, querendo saber se ela pretendia ir para casa dos avós, ou dos pais. Ela queria ir para casa dos pais. Então o dito senhor, pegou nela, chamou um taxi, e levou-a ao barco. Comprou-lhe o bilhete, e comprou para ele um bilhete de gare, indo dentro da embarcação, onde pediu a uma senhora que tomasse conta da menina, até ela chegar ao destino.( ao que parece, naqueles tempos não havia pedófilos, nem se roubavam criancinhas. Na verdade também ainda não se faziam transplantes de órgãos, a coisa mais moderna que havia era a estreptomicina, para a cura da tuberculose. Bons tempos.....e Rita sorri de novo)Chegada a casa, Ritinha verificou que não estava ninguém. Aí compreendeu, que tinha havido um desencontro. Expedita, Ritinha, quando viu isso, foi imediatamente telefonar para a quinta, afim de avisarem os avós, de que ela estava em casa e em segurança.Como sempre sua mãe, tinha-a subestimado, não acreditando que ela iria no autocarro das três horas.Quando deram pela sua falta, entraram todos em pânico, menos o tio Abílio que, garantia, estar a sobrinha em casa, contudo ninguém lhe dava ouvidos. Por essa altura, a única pessoa que ficou tranquila, foi a avó. De resto andavam todos como loucos á procura dela. Todos sabiam, que ela não se perdia, mas como sabiam também, que não tinha dinheiro, temiam estivesse nalgum lado, sem poder ir para casa. O tio insistia, - Vamos para casa, tenho a certeza que a minha sobrinha já lá está. Enfim, lá foi com a mãe.Quando chegaram a menina estava em casa duma vizinha amiga da mãe. O tio chamou-a com um assobio, como era seu costume. Quando ouviu o tio, ela teve medo de ser castigada, porém o tio quando chegou perto dela, abraçou-a a chorar, dizendo: - Eu sabia, eu sabia. Ninguém me quis ouvir, quando eu quis vir embora. Ninguém acreditou em mim. Mas eu conheço bem a minha sobrinha....!Ao recordar a cena, Rita dá uma boa gargalhada. Ainda hoje não entende, a razão pela qual, sua mãe dizia que só lhe dava vontade de se atirar ao rio. Suporia ela que a filha estava lá no fundo!? Sua mãe e os melodramas dela. A vida tinha sido para si, um eterno e trágico romance. O pai chegou já bem tarde, triste, porque havia encontrado, nas esquadras onde procurara a filha, muitas meninas perdidas, mas feliz, porque a sua menina era demasiado esperta para se perder. Eles é que se tinham perdido....Ao constatar que o principal problema da filha fora a falta de dinheiro, e que por isso, tinha estado na iminência de ficar sozinha num sítio ermo sem hipótese de ir para casa, nunca mais deixou de lho dar. A partir dessa altura, o pai dava-lhe por semana 2$50, ela era uma menina de sorte, com tanto dinheiro...! Tinha mais sorte, do que hoje. Sozinha em casa, sem dinheiro, pouca comida, este ano nem havia as filhós da mãe, nem o cacau quentinho, nada.Curiosamente, estes pensamentos fazem-na sorrir, e, também lhe trazem aos olhos uma lagrimita atrevida. Diz o povo que recordar é viver, e, na verdade, estas recordações fazem-na sentir-se bem disposta.Lembra também dos seus amiguinhos, a Rosinha, o Manel, o Fernando, a Blandina, a Carminha, o Arnaldinho, que seria feito deles? Ainda viveriam? Onde? Lembrar-se-iam dela? Vem-lhe lágrimas aos olhos ao recordar-se deles e das suas alegres brincadeiras.Recorda, os teatros ou cinemas, que faziam, em que ela era sempre a principal intérprete, e o Arnaldinho era o galã, e não pode deixar de rir, quando se lembra dele a beijá-la á cinéfilo, como ela era a maior de todos, ele para a beijar, tinha de subir para qualquer coisa, a fim de ficar mais alto. É que os galãs de cinema, eram todos mais altos que as mocinhas...ora essa!Imaginação era o que não faltava. Havia ainda o baloiço. Ou antes, três baloiços, pendurados num tronco duma oliveira, onde ela e a Rosinha e o Manel, costumavam brincar. E onde ela costumava cantar ao desafio com as “saloias” que trabalhavam na quinta. Esse baloiço durou até a nova urbanização dos Olivais; quando ela voltara a Portugal, após estar 15 anos em Moçambique, eles ainda lá estavam, a recordar a sua infância, e única época da sua vida em que tinha sido feliz de verdade, e fora quando estava em casa dos avós. Mais uma lagrimita de saudade á mistura com um sorriso de ternura.Grandes correrias, pela cevada, alta e fresquinha, eram polícias e ladrões. Ouviam-se os tiros, das pistolas de caniço, feitas pelo Manel. Pum! Pum! Era assim nesse tempo. Agora com as novas tecnologias, e a era espacial, será Pshiu! Pshiu!...realmente a tradição já não é o que era...Como diria a avó: - Modernices! Querida avó, se ela cá voltasse, muito se iria admirar com tanta modernice, viagens de ida e volta á lua, túneis por sob o mar, telemóveis, enfim....Se bem que a avó, sempre acompanhara a evolução dos tempos, com a maior naturalidade. Ai avózinha! Quanta saudade.! Agora sim. Rita chora a valer. Ela adorava a sua avózinha.Que importa? È Natal!Assim, acompanhada pelos seus bons fantasmas já não está tão só. Pela primeira vez, passou um Natal perto de sua avó...Estranhos caminhos tem a vidaAo longe uma campainha toca. É um toque, fraco, muito fraco mesmo. Afinal, é o telefone do vizinho que a acorda. Já é dia. Rita tinha adormecido, no sofá, entregue ás suas recordações nesta noite de Natal.. Arroja, 25 de Dezembro de 2002 Maria Isabel Galveias (Lylybety)
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DIARIO DE UMA MULHER LIVRE
 Olá meu querido!Como o prometido é devido, e como eu costumo cumprir as minhas promessas, aqui estou a escrever os acontecimentos do meu dia.Depois que te foste embora, e como sempre, entrei nas catacumbas da incerteza e da dúvida. Sou assim, que posso fazer?!É que tu és para mim uma espécie de manjar dos deuses,mas como eles são maus e desconfiados, depois do doce ,dão-me, sempre algo amargo.Tu por exemplo, és um doce muito amargo.Enfim, eles decidiram assim, ou seria eu quem decidiu? Não sei, e isso é que me incomoda bastante. Seja como for, o certo é, que tenho de aceitar as decisões, sejam elas minhas ou deles ,tenho de viver com elas.Depois da tempestade vem a bonança, não é assim?Assim aconteceu!Dormi profundamente, mas poucas horas. Acordei como de costume às 6h e 30m, meia ensonada, ainda fiquei a preguiçar durante uma hora, depois fui trabalhar.Mas muito chateada, porque tinha comprado uma tarte de frango,e,quando fui por ela, para a levar para o meu almoço, já a Mané a tinha comido!!! Assim não vale! Porque eu não mexo em nada dela. Enfim não vale a pena dizer nada. Mas fiquei aborrecida lá isso fiquei.Comecei mal o dia. Tive até, uma certa tendência para o acidente.Primeiro , o carro não queria pegar. Depois tive de dar a volta por cima da relva, porque puseram um camião a impedir-me a passagem. Como a relva estava molhada e a terra fofa, o carro atascou um pouco. Por fim lá consegui sair e chegar á escola já atrasada. Como era de esperar, levei uma rocatela da chefe, mas nada de grave já se vê.Mais tarde, quando ia a entrar no meu “parvalhão”, por artes de magia, a porta salta das dobradiças, isso mesmos literal e exactamente, sic, elevou-se no ar, e caiu com um estrondo tal, que toda gente que estava na escola, acorreu, a ver o que tinha acontecido. O vidro da dita, ficou reduzido a pedaços, ou antes pedacinhos, o maior dos quais, teria por aí 5cm. Mas não ficou por aqui, o aspirador, quando lhe peguei, partiu-se em dois, já é preciso ter azar!..Não me terias rogado alguma praga...?Tudo isto aconteceu, entre as 8.30h e as 14h. Hora a que estou a escrever. O resto do dia descrevê-lo hei logo á noite se lá chegar, a bem dizer, não é?Esqueci-me de contar, que como já vem sendo costume, lá vesti o hábito de freira, para ouvir as confissões do Duarte. A penitência que lhe recomendei, foi que jogasse na lotaria ou no totoloto; pois, para a sorte ser completa, só lhe falta um filho preto, de resto tudo lhe acontece.E pensava eu que não tinha sorte...?! Livra!!!Do resto do dia, por estranho que pareça, perdi o rascunho,Mas sei que não foi nada de especial.Até amanhã, meu amor, beijinhos, beijocas, beijufas,Da tua LUISA DAS CATACUMBAS. 6ª feira, 14 de Abril de 2000 Boa noite meu amor...!Hoje foi mais um dia que passou.Um dia igual a todos os dias. Pouco há para contar.São nesta altura 3h. da manhã de Sábado.Achas muito tarde? Pois é muito cedo!Esteve a chover, quase todo o dia. Quando cheguei a casa a Rita veio ter comigo. Conversámos, como é nosso costume.Falámos de ti, e da nossa atribulada relação. Ela acha graça, e pensa que tudo se resolvia entre nós se não houvessem tantos preconceitos, e se tivesse-mos umas mentalidades menos arcaicas. Enfim opiniões dos jovens..Entretanto, eu fiquei terrivelmente indisposta, não sei se terá sido, por causa de um pastel de nata que comi. Fomos para a minha cama, como é costume, e eu adormeci.Como a Rita ia para o Algarve, com a madrinha, despediu-se e foi-se embora, seriam umas 7h da tarde.As 21.30h. telefona-me a Joana. Disse-me que lhe apetecia sair, porque era 6ªfeira, no Sábado não se trabalhava, enfim deu-me uma boa mão cheia de razões, para irmos sair. Resolvemos ir aos fados.Fui ter com ela. Continuava terrivelmente mal disposta. Ao chegar a casa dela, e depois de beber uma garrafa de água, acabei por vomitar, e lá melhorei um pouco.Fomos para a farra. Passamos um serão agradável, naquele ambiente bom que tu conheces. Acabou ás 2.A Lucinda, esteve connosco, e no final como ela mora no Olival, trouxe-a, lá arranjei mais uma amiga.Cheguei a casa, tomei banho, vim conversar um pouco contigo, através deste meu diário, meio maluco, mas de mim nem outra coisa era de esperar. Dorme bem meu querido. Milhões de beijinhos doces e fofinhos, da tua agoniada LUISASábado, 15 de Abril de 2ooo My love, my sweet love, Cá estou eu de novo.Hoje é o 3ª dia do resto das nossas vidas e é Sábado. Ou antes, ontem foi Sábado. E digo ontem porque são 4h. da manhã. Como vês é bem mais tarde do que ontem. Pois é. Deitei-me eram 6h. da manhã. Grande vida! Não é?Não. Não é. Cheguei a casa ás 2.30. Mas estive a falar contigo, por isso me deitei tarde. Que é que essa cabecinha tonta estava a pensar?Acordei com o telefone, [ás 10h. era o Ribeiro. Conversei um pouco com ele. Depois foi a Joana, a dizer-me que tinha combinado com o Teixeira, encontrarmo-nos com ele no Feira Nova de Telheiras, a fim de ele nos dar os nossos cheques.Bem, lá fomos. Eu continuava indisposta. Afinal não foi no Feira Nova, mas sim no Continente, a Joana preferiu assim, porque estava lá a colega dos copos,(brindes) Aqueles que ela nos mostrou, lembras-te?Como eram horas de almoçar, comemos por lá. Viemos embora, e eu vim para casa sempre mal disposta, acabei por vomitar outra vez. Deitei-me e dormi um pouco. Melhorei.Eram 21h, lá estava a Joana a telefonar, a convidar-me para sairmos.Sair? Onde? Aos fados claro. Onde haveria de ser?Lá fomos, e lá conquistei mais um amigo e admirador, o Vilaça.Parece boa praça. Mas é um pinga amor... Sei lá os rapapés que me fez.Convidou-nos para irmos ás 6ªs feiras aos fados, ao Leão das Furnas, não sabes onde é? Nem eu.! Parece que é perto do Jardim zoológico, só pode ser, se é leão...Mas ele disse-me que telefonava na 6ª feira e iríamos com ele. Logo se verá.Disse-me ainda, que havia de me ensinar a cantar. Bonito! Agora depois de velha, vou virar Prima Dona.A noite acabou ás 2h.. Vê bem, a parva da Joana, queria que eu fosse levar o Vilaça a Sacavem, é maluca!Outra coisa. Achei piada. O Vilaça ofereceu-se para sair connosco, mas foi logo adiantando, que seriam sempre contas á moda do Porto e esta?E bem. Viemos embora, trouxe novamente a Lucinda. E depois do meu banho, vim conversar contigo, para ver se me dá o sono. Mas tu tiras-me o sono não me dás. Mas como tudo o que vem de ti é bom quando não é mau, só para poder escrever para ti, viva a insónia!Por hoje é tudo, um gran............de chicoração desta tua mal disposta e insone LUISA Domingo, 16 de Abril de 2000 Good evening my sweetness, Mis um dia passou. Sem te ver e sem te falar.Hoje para mim, foi dia não. E para a Joana também.Dormi muito pouco e esse pouco foi em sobressalto.Sinto saudades de ti. Sinto também como sempre muitas incertezas. Falta-me ouvir a tua voz a dizer-me que está tudo bem. Estará?Fiz um esforço enorme, para te não telefonar.E por via das dúvidas, tive sempre o télélé, desligado, para evitar tentações.Foi um dia muito aborrecido. A Joana, insistiu para que fosse almoçar com ela, não me apetecia sair de casa, mas lá fui.Ela estava também muito deprimida. Foi ás compras ao Lumiar, lá, encontrou o Agostinho, ele perguntou-lhe se ela queria vir com ele, como ela lhe dissesse que ainda tinha qualquer coisa para comprar, foi-se embora e não esperou por ela. Daí ela ficar muito triste com a frieza dele.Almoçámos, e resolvemos ir ao baile.Só fui para que ela não dissesse, que não a acompanho onde ela gosta de ir, mas fui de muito má vontade.Dançámos um pouco. De repente vejo-a a ir em direcção ao bengaleiro, muito agitada. Fui atrás dela. Estava com um ataque de choro, quis ir para o carro sozinha. Fiz-lhe a vontade. Porém eu também não estava bem. Fui ter com ela, e viemos embora.Propus-lhe um passeio de carro. Apetecia-me conduzir. Já te disse, parece-me, que a condução, para mim é um calmante.Fomos ao Infantado, a uma lanchonete perto das piscinas. É muito agradável.Um dia, talvez, iremos lá os dois.Depois do lanche, fomos dar uma volta saloia. Ás 20h. regressámos a penates. Vim tentar mais uma vez estragar o computador.Depois telefonei á Joana. Não falámos muito, porque estava lá o Agostinho. Aleluia! Aleluia!!!Foi Sol de pouca dura. Ela telefonou-me agora, a dizer que pouco tinham conversado. Não conseguiu falar com ele. Diz que se sente inferiorizada, e pouco à-vontade. Diz que gostaria de conversar com o Agostinho, como nós conversamos.Mas nós, somos nós, não é my love?Será que voltamos a conversar?Se isso não acontecer, fica pelo menos em mim uma boa recordação. A vida é feita de recordações não é?Estou insegura, em relação a ti. Mas ao mesmo tempo, sinto uma calma, uma tranquilidade, que me deixa assustada. É como se vivesse sem vida. Estranha, esta minha forma de viver...!Agora vou tentar dormir. Amanhã é dia de trabalho.Boa noite amor, um beijo muito grande da tua estranha (bota estranho nela) LUISA 2ª feira 17 de Abril de 2000 Olá meu bem, Sobre o dia de hoje, e porque estou tremendamente nervosa, nada tenho para contar, excepto que fui às Torres de Lisboa, á Unielert, para ir buscar uma credencial, a fim deIr trabalhar para o Manuel Nunes. Deixei o carro estacionado, e quando cheguei, tinham-lhe dado uma pancada, que lhe amolgou a porta de trás, do lado esquerdo, toda.Mas enfim. Não há de- ser nada, e se for alguma coisa, que seja uma menina para não ir á tropa, muito embora as meninas agora também irem, porém não é obrigatório, como os rapazes. E mais não digo, pois nada mais tenho para dizer. Agora só falarei perante o meu advogado.Até amanhã, um beijo da desconsolada, LUISA 3ª feira 18 de Abril de 2000 Good evening my love, Que bem que eu escrevo em inglês, não escrevo?Mais um dia passou, sem eu saber de ti.Será que ainda moras no mesmo planeta que eu? Ou já mudaste de sítio?Foi como sempre, um dia igual a todos os dias. Monótono, triste, chuvoso, nem parece Primavera.Estive a fazer promoção da Knorr no Manuel Nunes, em Famões.É uma acção sem brilho. Não há clientes. Ninguém tem dinheiro para compras.Seriam umas 11h. da manhã, quando a Joana, me telefonou. Disse-me que te tinha telefonado, só para ouvir a tua voz. Ela lá sabe. Disse-me que tinhas uma voz triste, e que lhe pareceste adoentado.Depois de sair do meu trabalho, fui á oficina com o carro, para saber quando lá o poderia pôr para arranjar. Só dia 2.Voltei para casa, cansada, e sem vontade de ver ou falar com alguém.Mas não me é possível, sentir um momento de desânimo, porque há sempre alguém que precisa dos meus fracos préstimos, e lá telefona a Joana, dizendo não saber carregar o telemóvel e a pedir a minha ajuda.De má vontade lá fui.Depois ela não quis ir para casa, pois achava que era muito cedo, apetecia-lhe ir petiscar qualquer coisa, lá fomos ao Duarte, comer umas petingas fritas, que por acaso até me souberam muito bem, mas me fizeram muito mal.A Joana insistiu, para que te telefonasse, assim fiz. Porém, se o arrependimento matasse, teria morrido na hora.Mas todo o mal tem um final passa depressa. Também assim aconteceu comigo.Seriam 21h quando o meu telélé tocou. Era o Aníbal, a perguntar se eu já tinha B.I. É que eu fiquei de lhe mandar fotocópia via fax, e ainda não o fiz.Perguntou-me onde estava, porque ele estava em Santo António dos Cavaleiros.Disse-lhe. E mais, como ele já me tinha convidado para tomar café umas quantas vezes, desta vez convidei eu.Foi ter connosco. Petiscou. Depois fomos para casa da Joana.É uma pessoa agradável o Aníbal.Conversámos até ás 2 da manhã. Falámos de muitas coisas e de muita gente, incluindo a tua pessoa, como era de prever. Falámos sobretudo de trabalho. Ele tem umas quantas ideias, mas não é idiota, e sem ser ilusionista, também tem umas quantas ilusões.Não. Não me refiro a essas. Refiro-me a ilusões filosóficas e utópicas, de como gostaria de singrar na vida.A Joana, ficou até de lhe arranjar alguns contactos com empresas.Penso que agradaram um ao outro.Depois vim para casa.Sentei-me ao computador, a escrever as memórias do dia. Bem curtas por sinal. E foi assim. Até amanhã meu querido. Um beijo da (tua?) desmemoriada, LUISA 4ª feira dia 19 de Abril de 2000Olá, quem? Não sei bem. Depois de uma manhã, sem graça, e compartilhada com pessoas pouco agradáveis, liguei o telefone, e tinha uma mensagem tua. Milagre! No entanto, não percebi patavina do que dizias.Ouvi, tornei a ouvir, devia estar completamente estúpida, porque continuei sem perceber.Só percebi, que tinhas deixado qualquer coisa para mim com a Manela, qualquer coisa, que eu não iria gostar. Não entendi essa, mas está bem.Mais tarde liguei para ti, para ver se me explicavas, o que querias dizer, mas tu não te mostraste muito interessado. Achei uma certa graça, quando ao atenderes, possivelmente sem te dares conta, disseste, cá está a nossa amiga, pareceu-me ver uma certa ironia na tua voz. Possivelmente estaria enganada. Possivelmente?Perguntaste-me, entre outras coisas, se eu estaria feliz com a minha liberdade, e eu respondi, que a minha liberdade, era condicionada, pela minha consciência. Parece que não percebeste muito bem, o que eu teria querido dizer. Onde andam essas tão famosas antenas? Perdeste faculdades? Tudo me leva a crer que sim.Voltei de novo a ouvir a tua mensagem. Havia nela uma acusação de que não sei ou não percebo qualquer coisa, costumo perguntar a quem sabe, voltei a ligar para ti, para que me explicasses o que querias dizer. Porém, quando ias para atender, e possivelmente, possivelmente? Sem te dares conta mais uma vez, disseste: - cá está esta gaja outra vez!Como não quero ser chata, desliguei, bastante chateada, por acaso.Depois de ter falado com a Joana, sobre este assunto, ela falou contigo em resultado dessa conversa, deixei-te uma mensagem em que te peço para,Caso possas e queiras me ligues. Veremos o que farás.É tudo por hoje. Espero que durmas bem. Um beijo da gaja. LUISA 5ª feira 20 de abril de 2000 Olá, continuo sem saber bem o quê.Hoje foi um dia mais ou menos bom. O dia. Porque a noite...Depois de acabar o stok , mandaram-me para casa, pois não se justificava, estar na loja, não havendo mercadoria.Assim, saí e fui á CGD, e depois ao CPP, fazer umas transacções, quando ia a meio caminho, telefonas tu, a dizer-me que ias a Lisboa, e a propores-me um encontro. Claro que como sempre aceitei com satisfação. Fomos a Lisboa, depois disseste-me que tinhas que ir para casa, [porque tinhas deixado arroz-doce ao lume e podia queimar-me], mas entretanto, mais tarde virias á tua lição de [violador) e passarias cá por casa e possivelmente jantarias comigo, porém não tinhas a certeza disso. Ficaste com as certezas todas depois, e decidiste não jantar. Assim foi. E tudo estava bem. Foste embora, dizendo que lá para o S. António, nos voltaríamos a ver, talvez. Concordei. Que mais poderia fazer, contra factos e decisões não há argumentos, não é?Confesso, que não me agrada muito a ideia de não saber muito bem, qual é o meu papel, mas vamos vivendo e vendo, assim, como assim...Saíste, e como eu tinha feito um esforço muito grande para me manter calma e serena, fiquei arrasada. Deitei-me e adormeci.Como sempre, Sol de pouca dura. Não me é permitido dormir.O telefone toca. Ouvi, mas não me apeteceu atender.Era a Joana. Falou com a Manela. Ficou admirada, por eu ás 22h já estar a dormir, porque eu nunca durmo. Pediu até á Manela para ver se eu estaria bem. No entanto a Manela, está-se nas tintas, para que eu me sinta bem ou mal, a bem dizer, como já não precisa de mim...O Júlio, é que não sabendo das intenções dela, não percebendo que ela atendeu o telefone, ao ouvir este tocar, pensou que eu não estaria em casa, mas reparou que eu estava deitada e chamou-me. Aí, não tive outro remédio senão acordar claro.Alguns poucos minutos mais tarde, ligas tu, aflito por causa da tua irresponsabilidade de pai, em relação ao Ricardo.Pobre Ricardo, no meio de desmiolados como vocês, que não sabem ser gente, quanto mais pais...!O resto da história já sabes, não preciso contar mais nada.Só que depois de terem saído, me senti bastante mal. Mas não morri infelizmente, ainda tenho muito que chorar e rir. Boa noite. Luisa 6ª feira 21 de Abril de 2000 Depois de uma noite bastante atribulada, em que não dormi, e me senti bastante mal, em que me lembrei bastante do meu marido, mais velho, e de como ele se sentia antes de falecer, pensei até, que idiotice, se não seria ele a avisar-me do que me poderia acontecer, se eu teimasse em me relacionar contigo.Nunca uma noite foi tão grande. E uma manhã tão comprida. Telefonei á Joana que , nesta altura do campeonato, é a única com quem posso contar por enquanto, já se vê.!Aos trancos e barrancos, lá consegui ir ás compras para o almoço, e lá fui almoçar com ela.Depois dos acontecimentos de ontem, de ti não mereci nem um telefonema a dizer-me como estariam as coisas contigo!Soube que estava tudo bem, porque telefonei ao Ricardo. Pareceu-me calmo e sereno. Pobre Ricardo, já está habituado, coitado.Depois de almoço, senti-me pior do que durante a noite, uma dor forte no peito e nas costas, que me provocava vómitos, e se alongava para o braço,Fez-me pensar, se não iria ter um enfarte, a Joana assustou-se, e teve a infeliz ideia de te dizer, é burra todos os dias, podia ser só aos fins de semana, mas não é aos feriados e tudo.Depois de ir ao Catus, e ter sido medicada, voltei para casa, e graças a Deus, fiquei boa. Decidi então sair com a Joana, e a Regina.De ti nem uma palavra. Muito bem, aplaudo de pé.E este foi mais um dia do resto da minha vida.Espero que durmas bem, e sem cuidados.Só te peço, tem um pouco de respeito carinho e ternura pelo Ricardo, que não pediu para nascer, nem para ser castigado ao Inferno, pois ele não tem culpa se os pais não sabem ou não querem resolver os seus próprios problemas, e não vêm que ele é ainda um menino, que se sente só, e sem saber muito bem ao certo, para onde vai. Por favor cresçam. Já vão sendo horas de deixarem de olhar só para o vosso umbigo! Neste mundo cão, mas que também é de Deus, há mais pessoas, que também têm sentimentos, respeitem-nos. Por hoje é tudo. Estou como deves sentir, indignada. Luisa Sábado, 22 de Abril de 2000 Hoje é Sábado, depois de mais uma noite atribulada, consegui dormir, e durante esse pouco tempo, fui feliz.Também, eu só sou feliz a sonhar. Mas é preciso que esses sonhos me levem para bem longe, até á minha África, e a tudo o que de bom lá deixei, sobretudo a minha juventude. Mas sonhos são sonhos, e a realidade, é bem mais dura e ruim.Acordei ás 11h. De ti, nem sinal. Que é que eu poderia esperar? Nada!!!Telefonei á Joana, é só ela quem me resta a bem dizer. Ás 14.30h. fui arranjar o cabelo. Até a Cristina achou que eu não estava nos meus dias.Ao sair de lá, tive a (grata?) surpresa de te ver. Pouco falámos, tinhas como sempre a roupa no cloreto.Fui até à Joana, sempre a Joana, benza-a Deus!Decidimos, ir á nossa habitual noite de fados. Parece que aquela tonta, resolveu enquanto eu fui á casa de banho, convidar-te a ir também.Apareceste, e foi bom. Sobretudo porque me consegui livrar do melga que é o Vilaça, coitado, lá se foram as suas ilusões!...Foi uma noite morna, sem grandes acontecimentos, o maior dos quais, foi que, não sei porquê, toda a gente desafinou, a cantar, até a Rosinha e o Zé.Ficaste connosco até ás quatro da manhã, ou seriam 5?Eu tive que ficar em casa da Joana, porque burra que sou, esqueci-me das chaves em casa e a Manela só vem 2ª feira á noite, esta burricoide, chegou a lamentar não te ter dado já uma chave da minha casa, assim não teria que ficar na rua. Sou parva, porque dadas as circunstâncias, ficava na rua na mesma, já que, a roupa que tinhas na lixívia, podia estragar-se, e por isso não me virias trazer a chave.Ainda bem que não dei. Não dei nem darei, não mereces nem vale a pena. Porquê? Ainda tens a ousadia de perguntar? E foi assim o Sábado. Curto e sensaborão, veremos como será o domingo. Até lá. Luisa Domingo, 23 de Abril de 2000 Hoje foi Domingo de Páscoa. Fiquei em casa da Joana, como já era do conhecimento geral.Acordámos cedo. Fomos ás compras, ela estava esperançada em que o Agostinho viria almoçar, mas como eu, e tu, calculámos não veio. Homens...! Fomos até ao Infantado tomar café. O Zé Luiz foi connosco. Muito chateadas as duas, porém ela mais do que eu. Eu ainda era suficiente ingénua, para pensar que te lembrarias de mim, antes do dia acabar, parvoíces...! Ainda fomos tentar abri a minha porta, mas não conseguimos.Lembro-me que a Joana, te perguntou, se irias ficar sem dar notícias muito tempo, como tinhas feito, a semana passada, tu garantiste que não. Disseste que telefonarias. Mas o certo é que passou todo o dia, e de ti nem um sinal, o que a ela incomoda mais do que a mim. Á noite depois do jantar, a Joana pediu-me para lhe cantar um fado, cantei mais do que um,. Fomos deitar era quase 1h. da manhã. Ela dormiu logo. Eu como sempre fiquei de plantão a fazer versos á Lua.Ainda te mandei uma mensagem, não sei se a recebeste. Também não estou muito preocupada com isso. Sinto até, que os nós que me atavam a ti, estão muito mais lassos e fáceis de desatar.São nesta altura 5h da manhã de 2ª feira, que será mais um dia que passarei, fora da minha casa. Por hoje é tudo. Espero que passes muito bem. Até amanhã. Luisa 2ª feira 24 de Abril de 2000 e como eu prometi, não sei ainda porquê, nem se valerá a pena, cá estou a contar mais algumas coisas dos meus dias sem sabor, nem cor.Acho que não tenho mais nada a dizer.O meu diário finda aqui, Luísa

Autora, maria Isabel Galveias (LylybetyANDRÉ
André foi o seu primeiro amor.
Um amor de menina. Menina de pouco mais de dez anos.
Foram criados juntos. Eram um grupo de garotos que juntos corriam pelos campos nos arredores de Lisboa.
Ela lembra-se daquele dia em que estavam sentados junto do muro que separava a azinhaga da quinta.
Dizia o “Alfinete”:- A Tininha é a minha namorada sabiam?
- E a Guida é minha diz o “Malhado” assim chamado porque no seu cabelo louro tinha um madeixa branca, que lhe dava um ar diferente e meio azougado.
Perante esta afirmação, o André levanta-se e do alto dos seu doze anos, pergunta muito zangado:
- Que é isso? Então tu namoras comigo e agora namoras com ele? Admirada ela pergunta:
- Namoro contigo?
- Namoras pois. Há três anos
- Bem, se namoro contigo não posso namorar com o “Malhado” diz ela na candura dos seu dez anos.
Os anos passaram. A vida separou-os, mas no pensamento dela ficou sempre a lembrança daquele seu primeiro amor. Coisas da sua infância, que se desvaneceu no tempo.
Passaram-se vinte e cinco anos. Ela estava de novo solteira.
Naquela sexta-feira, fazia anos. Decidiu oferecer a si mesma, numa romagem de saudade, uma visita ao seu velho bairro.
Quando lá chegou, nada era igual. Só a igreja, um velho largo com o coreto, onde nos santos populares se faziam bailaricos, e, onde ela tanto brincara, e a avenida.
Havia ainda a velha taberna, mais nada. Dirigiu-se á taberna, e perguntou pela Tininha da azinhaga. Disseram-lhe que trabalhava numa fábrica de material eléctrico, na zona velha. Dirigiu-se para lá, e, perguntou pela velha amiga ao porteiro. Este prontamente, foi chamá-la. Tininha veio ao portão acompanhada duma colega. Intrigada por não imaginar quem seria a “amiga” que a procurava. Ao ver a sua amiga de infância, as lágrimas vieram-lhe aos olhos, e emocionada diz para a colega:
- Olha, esta minha amiga, é a grande paixão de meu irmão André.
Guida, ficou perplexa ao ouvir isto, e responde:
- Ora, onde isso já vai. Ambos seguimos rumos diferentes casamos, cada um tem a sua vida. Foram coisas da nossa infância.
- Coisas de infância não. Eu casei com o “Alfinete”. O André diz muitas vezes, o que os separou foi o mar. E foi também a tua pressa em te casares. Ou já te esqueceste que casaste antes dele?
- Ele também parecia que não se importava comigo.
Já te esqueceste das gaifonas que ele me fazia com Ausenda?
E das vezes que eu passava na tua casa a caminho de casa dos meus tios? Se eu lhe dizia que ia pela rua de baixo, ele ia comigo até á Calçadinha, e seguia pela rua de cima, ou vice versa.
Por isso deixei de o levar a sério. Mas também nunca o esqueci.
- Se quiseres saber dele, ele trabalha na Centieira . Queres o telefone do trabalho dele? Se lhe telefonares verás. Vai ficar louco de alegria.
- Está bem. Eu também vou gostar de falar com ele. As amigas conversaram muito. Afinal havia vinte e cinco anos que não se viam. E tinham tanto para contar uma á outra. Falaram dos amigos de infância dos irmãos de Tininha. O pai desta tinha falecido. A mãe vivia com o Mário seu irmão mais velho. Enfim foi um longo fim de tarde. Depois de jantar com a amiga, Guida voltou para sua casa. Levava o sonho de se encontrar de novo com André. Como iria ser o seu encontro? Mal podia esperar por segunda-feira. Depois de um banho relaxante, foi dormir. Mas o sono negava-se a aparecer. Á sua lembrança vinham retalhos de episódios passados com André.
A velha oliveira, onde os três amigos tinha colocado três baloiços, para se baloiçarem ao mesmo tempo.
Os campos de seara verdejante, onde eles brincavam aos polícias e ladrões. As armadilhas que ele armava antes de ir trabalhar, e, que lhes providenciava pássaros, que foram muitas vezes o jantar de sua família. As enormes caminhadas a apanhar caracóis. As vezes que iam apanhar as azeitonas que caiam das oliveiras pela azinhaga, e com as quais a mãe dele fazia azeite para todo ano. Tantas recordações! Lembrou-se daquela noite, em que ele a foi levar a casa e a beijou. Foi o beijo mais estranho que alguma vez sentiu. Era escaldante, no verdadeiro sentido da palavra. Hoje pergunta-se como é possível num garoto de catorze anos haver tanto calor. Aquele beijo escaldante e ao mesmo tempo suave e terno assustou-a, mas, também a marcou para sempre. Ao fim de tantos anos, ainda sentia na sua boca a incandescência daquele beijo apaixonado. Mas, o que tem de ser tem de ser. A vida separou-os, e nunca mais houve entre eles alguma carícia mais ousada. A verdade, é que durante todo o tempo que viveram afastados, nunca a imagem daqueles cabelos loiros, e daqueles olhos muito azuis se afastou da sua memória. Sempre que havia um desaguisado com seu marido, ela pensava:
- O André nunca me faria isto. E foi vivendo com a imagem do seu primeiro amor bem escondida no fundo do seu coração. Chegou a tão esperada segunda-feira. Há hora do almoço ela telefonou-lhe. Atendeu o segurança, e ela pediu para falar com o sr André Silva, fiel de armazém. Quem devo anunciar pergunta o segurança, divertida ela responde, diga-lhe que é uma velha amiga. Quando ele atendeu o telefone, ela cantarolou:
- há muito, muito tempo eras tu uma criança que brincavas ao baloiço e ao pião….Do outro lado, ouviu-se um grito de profundo regozijo:
- Guidinha!!!! Onde estás minha querida? Há tanto tempo que sonho contigo e sem saber de ti, por favor diz-me onde estás quero ver-te
Ela disse-lhe que regressara a Lisboa, trabalhava nos laboratórios Davis, e que também gostaria muito de o ver. Depois de uma longa conversa que parecia que ele não queria terminar nunca, combinaram encontrar-se no trabalho dele por volta das cinco horas, ela saía ás quatro dava tempo mais que suficiente. Sempre escrava do relógio e da pontualidade, á hora marcada ela estava ao portão da fábrica. Ele já tinha dado ordem ao segurança para a mandar subir ao escritório dele logo que ela chegasse, e, assim foi. Ficaram frente a frente, ele completamente extasiado de a ver. Não era por nada, mas Guida estava no apogeu dos seus trinta e poucos anos. Sempre fora uma garota elegante e bonita, mas agora era uma mulher madura, senhora de si e sem que ela própria se apercebesse com um charme, que, fazia voltar a cabeça de qualquer homem que se prezasse de o ser. Enquanto ele a olhava, e quase a comia com os olhos, ela ficou a olhar para aquele pigmeu que teria por aí um metro e meio, continuava com os cabelos loiros, mas tinha os olhos azuis mais deslavados que alguma vez vira. Sorriu e pensou:
- e foi por este meia leca, feio e sem graça que eu suspirei mais de vinte anos? Realmente a infância e até a pré adolescência eram muito parvas. Ele olhando-a diz:
- a idade não perdoa, mas tu estás muito para alem do que eu imaginava. Eu recordava esta menina, e puxando da carteira mostra uma foto dela, tirada com kodak, em que ela teria uns dez anos, usava trancinhas, e era uma gracinha lá isso era. E continua, hoje estás uma linda mulher madura, com tudo certo no sítio certo. E sem mais aquelas puxou-a para si com força e beijou-a num longo e profundo beijo, que ela nem teve tempo de rejeitar, mas sentiu um certo asco. Num frenesim louco ele abraçava-a e beijava-a desvairado, e só não a possuiu ali mesmo porque o telefone tocou, felizmente, ela estava tão aturdida que nem se debatia nem dizia nada. Ele só murmurava no seu ouvido, quero-te, desejo-te desde a minha infância tens de ser minha. Mais recomposta ela respondeu suavemente:
- Calma, o mundo não vai acabar hoje. E, como tinha chegado a hora dele sair, saíram os dois, a custo ele tentava esconder a sua enorme excitação. No dia seguinte ele iria ao médico, na Avª da Liberdade, combinaram almoçar juntos, e assim fizeram. Depois de almoço e como ainda era cedo para a consulta, ele levou-a a um hotel, desejoso de a possuir. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, ela foi. Ao principio resistiu, mas ele suplicou-lhe quase a chorar que a deixasse possui-la, ou ainda faria um disparate.Com toda a calma, ela deitou-se, e, pasme-se nem se despiu, apenas levantou a saia. Foi mesmo do género descarrega e deixa-me da mão. Claro que ele ficou um pouco desencantado com a situação, embora ela fosse mestra em fingir. Como já eram horas da consulta, vão os dois até á avenida. Iam lado a lado conversando, sem nada que aparentasse terem estado há pouco tempo na cama os dois, quando de repente ela sente um puxão num braço. Imagine-se, era Linda, a mulher dele, que desconfiou dele sair cedo e não levar o carro, resolveu ir ver se ele tinha ido mesmo ao médico. Guida apanhou um susto, só pensou que fosse algum louco que por ali andasse. Linda tinha conhecido Guida há vinte anos, sempre sentira uns enormes ciúmes porque toda a família de André dizia que devia ter sido Guida a casar com ele, estava completamente desvairada. Com toda a calma, Guida convidou-a a tomar um refresco enquanto André ia á consulta. Acalmou-a, conversou com ela, ficando a saber que ele, na véspera ao chegar a casa tinha dito que queria divorciar-se, porque o amor da vida dele tinha voltado. Guida deu uma boa gargalhada, e tranquilizou Linda, dizendo-lhe:
- Lembra-se quando ele veio ferido do ultramar, e ninguém queria que casasse consigo, porque a Linda tinha cortado o cabelo enquanto ele esteve ausente (só de lembrar isso sente vontade de rir, quanta ignorância havia naqueles tempos, até parecia que cortar o cabelo era crime) Fui eu quem o convenceu a casar consigo, porque apesar da família dele murmurar eu achava que a Linda era uma moça honesta e que o amava. Amava-o mais a ele que ele a si, lembra-se? Por isso, fique tranquila. Eu não lhe vou roubar o seu marido. Aliás nem tenho intenção de voltar a casar. Uma vez chegou.
Lavada em lágrimas, Linda desfez-se em desculpas, perante Guida que se sentia culpadíssima. Contudo quando André chegou viu-as a conversar afavelmente. Decidiram irem levar Guida a casa dos tios, para que eles vissem que ela estava acompanhada pelo casal. Para Guida, dona e senhora do seu nariz, isso não tinha a menor relevância, mas André, cavalheiro á moda antiga fez questão. Lá foram. A partir daí nunca mais se encontraram. Ele telefonava-lhe para o trabalho, mas ela pedia á colega que dissesse que ela já lá não trabalhava. Um dia, Guida estava sozinha e teve que atender o telefone. Era Tininha, querendo saber dela. Respondeu que já não trabalhava ali, tinha ido para a Lisnave. Tininha respondeu, se não trabalha aí tem a voz muito igual á dela. Só lhe quero dizer que o meu irmão anda completamente transtornado e queria vê-la. Lamento minha senhora, mas a D. Guida já não trabalha cá .E assim acabou uma história de amor que durou mais de vinte anos, para terminar em vinte e quatro horas. Vá lá entender-se os desígnios da vida. Já dizia o professor Agostinho da Silva:
- Não faças planos para a vida, pois não sabes os planos que a vida fez para ti.
Arroja, 3 de março de 2007 Maria Isabel Galveias

UMA NOITE DIFERENTE
Por qualquer razão, que desconheço, naquele dia tinha andado inquieta, com uma ansiedade expectante, como se algo me fosse acontecer.
Estava ansiosa para que o dia terminasse. Contra o meu habitual, os garotos enfadavam-me, estava irritadiça, enfim com um humor que em nada se assemelhava ao meu normal. Cheguei a casa, tomei banho, nem jantei, fui logo dormir.
Cai na cama e adormeci profundamente.

Seriam umas 2h da madrugada, quando oiço chamar: - Edia! Edia!
Era uma voz suave, mas imperativa, ate hoje não consigo identificar se era feminina ou masculina. Parecia, isso sim, que vibrava dentro de mim. Edia! Edia!?
sobressaltada, sentei-me na cama e perguntei:
- Malu, chamaste?
Malu e uma mova brasileira que vive comigo, como minha hospede,
Ninguém respondeu.
voltei a ouvir a mesma voz, num som mais imperativo, como se fosse um grito de chamamento, mas abafado: - Edia!!!
Quem chamava daquele jeito? Acendi a luz, e, vi então algo de muito estranho. Aos pés da minha cama estavam três pessoas. Vestiam habito de frades franciscanos, só que não era castanho, mas branco. Os capuzes encobriam os rostos que não consegui ver, os braços estavam cruzados com as mãos enfiadas nas mangas como os chineses costumam fazer. Fiquei espantada! Quem eram? Como entraram? Contudo, não senti a mais leve ponta de receio, perguntei:
      Edia? Quem e Edia?
Mais que ouvir, senti que era 0 da esquerda quem me respondeu:
      Edia es tu!
Eu? Esta enganado, eu chamo-me Renata! exclamei.

A voz continuou:
Agora es Renata, porem noutros tempos foste Edia.
Noutros tempos? Que tempos? E comecei a rir. Sempre me chamei Renata desde que me conheço, respondi rindo.

Senti de novo aquela voz dentro de mim dizendo calmamente:
o teu primeiro nome, foi Edia, depois desse já tiveste outros, mas serás sempre Edia,
      esta e a verdade. Queres ver?
Estranhamente, comecei a ver um lugar diferente daquele em que me encontrava; Vi uma sala enorme com  chão de mosaicos brilhantes, que espelhavam, ouvia o som duma orquestra, pares dançavam, eu estava vestida com um elegante vestido preto, tinha muitas jóias, anéis, pulseiras, uma gargantilha de brilhantes e ate uma tiara.
Encontrava-me junto de uma porta janela e, tinha um copo na mão, sentia-me embriagada. - Tudo isto era esquisito, parecia que estava vendo um filme. Estava triste. No meio daquele bulício, sentia-me estranha, como se aquele não fosse o meu mundo. Vi a minha imagem reflectida num enorme espelho, que havia numa das paredes do salão. Tinha o rosto igual ao meu actual, mas mais jovem, aparentava trinta e poucos anos, achei-me bonita e elegante. Todavia o meu olhar era triste e sem brilho. Senti de novo aquela voz que me dizia:
Aquela eras tu, na tua vida anterior. Eras uma duquesa húngara, muito rica, não duvides.

Perguntei a mim mesma, porque estaria tão triste?

Como se tivesse ouvido 0 meu pensamento, outra voz mais suave e mais terna, que senti ser o encarapuçado do meio, respondeu:
Não te lembras?
      Não! Respondi? Ou pensei? Não tenho bem a certeza.
Subitamente, vejo-me num jardim ou parque, ou as duas coisas, sei lá!
Só sei que gritava: - Goschi! !? Goschi!!?
Que coisa estranha, jamais ouvira aquele nome.
Ouvia outras vozes gritando num chamamento angustiado, Goschi!?
Menino Goschi! ! ! !?
Eu chorava. Sentia uma dor e uma angustia, como jamais sentira em minha vida.
Ao ver todo aquele movimento, pensei: Quem e Goschi?
A voz respondeu, não te lembras? Goschi era tu filho!
Meu filho? Era tudo cada vez mais estranho.
Vê! Ordenou a voz. Então eu vi. Vi um lago grande, muito azul, indicio de que seria profundo, havia um pequeno barco a remos voltado na agua, pareceu-me ver pessoas no lago, como que procurando algo, e, nesse momento dei comigo a gritar: Goschi!!!

Senti um frio que me gelou. Senti também, que o tal Goschi era realmente meu filho. Desaparecera no lago e nunca  seu corpo fora encontrado.
A voz continuou: - A partir desse dia, tu deixaste de existir, ou antes, vivias sim, mas duma forma vegetativa. Começaste a beber. A frequentar casinos e festas.
Foi a forma que encontraste para te penalizares pelo desaparecimento de teu filho. Esbanjaste toda a tua fortuna, inconscientemente, davas, deitavas fora, de orgia em orgia, mas só e a quem tinha tanto como tu e, se aproveitava de ti.
Jamais davas esmola a quem ta pedisse por amor de Deus. Sempre que isso acontecia, enfurecias-te e gritavas: _ Deus? Deus não existe. Se existisse eu não teria perdido o meu filho. Erguias altivamente a cabeça, não dando nada de nada, a quem realmente necessitava.
Um dia encontraram-te sem vida, boiando no lago do teu parque. Os vestidos rotos,  rosto desfigurado, houve ate quem duvidasse que na verdade, fosses tu.
Apaguei e acendi a luz, bati no meu rosto, não havia duvida estava acordada. Os capuchinhos continuavam lá falando comigo.
Edia! - disse de novo o da esquerda - ainda não te lembras?
Aí, vejo-me numa sala muito grande, com muita gente, parecia uma festa.
Entre todos, destacava-se a figura de um homem, com uma bonita farda, de oficial do exercito, que não consigo perceber qual. Dirige-se a mim sorrindo e disse:
Boa tarde duquesa, pensei que não viria. Deixe que lhe apresente as minhas condolências pelo recente falecimento do Sr. Duque!
Não podia deixar de vir capitão. Como sabe, não posso faltar a uma festa de caridade e beneficência.
E como está o pequeno Goschi?


- Ficou em casa com o meu fiel amigo Igor. Esta bem. Irrequieto nos seus treze irresponsáveis anos. Por enquanto só pensa em brincar e remar no lago... ainda não tem idade para ter plena consciência das coisas que o rodeiam.
Duquesa? Desculpe a impertinência, mas não receia que algo lhe aconteça em sua
      ausência? Os tempos estão conturbados e, ele e um possível herdeiro da coroa!
Dei comigo a pensar, que coisa mais sem sentido, um filho meu, possível herdeiro da coroa? Mas que coroa?

Fui de novo catapultada, para a beira do lago. Ao que parecia Goschi tinha ido para lá com seu pequeno barco, ao que tudo indicava este tinha-se virado, e, ele desaparecera.
o meu fiel Igor, estava morto na beira do lago, apunhalado.
Ao recordar  meu diálogo com  tal capitão, senti de novo aquela enorme culpa dentro de mim.
Para assistir a uma festa, embora de beneficência, tinha deixado o meu filho desprotegido, assim como o meu velho e fiel amigo Igor.
Comecei a chorar. Tinha uma enorme dor no meu peito, sentia como se 0 mundo tivesse desabado sobre mim.

Ouvi de novo a voz suave do encapuçado do meio que dizia:
      Não chores mais, já choraste muito, tanto que quase cegaste...!
Sem querer dei um salto. Quase ceguei? Parecia tudo cada vez mais estranho e confuso.

Edia? - perguntou. Acreditas na vida para alem da vida?
Sei que sim. E por acreditares que tudo isto te está a ser revelado. Queremos que entendas o porquê de tudo o que tem acontecido em tua vida.

Tudo tem um motivo, um significado, um castigo e um  prémio. Muitas vezes ouviste a tua mãe contar que nasceste cega?

Sim muitas vezes, ate que um dia fui um pouco brusca com ela, por estar sempre a dizer, que era a ela que eu devia o facto de ver.
Tive de lhe dizer que essa era obrigação dela, para isso era minha mãe. Cuidar que não me faltasse a saúde era seu dever. Ela não gostou, mas também nunca mais falou nisso.

Esse foi  teu primeiro prémio, quase cegaste de tanto chorar,
e nasceste quase cega, porem, como sofreste tanto e foi tão duro o castigo que tiveste, Deus que e todo bondade, concedeu-te a vista.

Quando era Edia, fizeste muitas coisas que não devias, cometeste muitos erros. Felizmente para ti a maior parte foram-te perdoados.

Que fiz eu? Posso saber? Perguntei um pouco amedrontada de saber alguma coisa, mas curiosa também.
Queres saber mesmo? Inquiriu.
Sim. Quero se me for possível! Exclamei.

      Então foi assim:
Foste uma mulher, mundana, um pouco leviana também. Flertavas com todos os rapazes da tua época, sem gostares particularmente de nenhum, embora muitos deles te amassem de verdade. Zombavas de todos. Rindo do amor que eles podiam sentir por ti.

Mas, há sempre um mas em todas as histórias. A tua não poderia ser muito diferente. Entre todos houve um que tu amaste cegamente, loucamente, e, por causa de quem fizeste as maiores loucuras. Esse porem, ignorava-te como mulher, embora te adulasse na posição social que ocupavas. Esse era
o capitão, respondi sem querer.
Exactamente,  capitão.
E, foi por causa dele que o meu filho...?
Calma já lá vamos. Não queres saber tudo, ou quase tudo?
Assenti com um movimento de cabeça.

Eras muito bonita, inteligente e culta, filha de um conde que estava completamente arruinado, mas que te tinha dado uma esmerada educação. Tu ocultavas essa ruína, fazendo parecer que eras muito abastada, na intenção, ousada, de arranjares um marido suficientemente rico para te tirar da pobreza dourada em que vivias com a tua família.
No meio dos teus muitos defeitos, tinhas também, qualidades, a maior das quais, era o interesse que as artes e as letras despertavam em ti, fazendo com que a grande cultura geral que possuías, fizesse a inveja de todas a damas da corte. Espirituosa, eras o centro de todas as atenções.


Um dia, o velho duque da Baviera, irmão da Imperatriz, conheceu-te. Dai apaixonar-se por ti e casar contigo foi um passo, para grande alegria da tua família, que assim sendo aparentada com uma figura de tão elevado nível sairia da ruína, em que vivia.
Só por esse motivo aceitaste casar com o velho duque, pois não sentias por ele nem o mais leve carinho, ou respeito.
Desse casamento nasceu Goschi. E esse sim era toda a tua vida e o teu enlevo.
Goschi, era um menino muito bonito, de lindos cabelos loiros, encaracolados, uns olhos de um tom indefinido, entre o cinzento e o verde, muito alegre, brincalhão, inteligente, que fazia com que tu própria te revisses nele.
Era o teu filho. Do duque só o fora por mero acaso, pensavas contigo muitas vezes.

O velho senhor tinha por ti um tão grande amor, uma tão grande tremura, que, tudo o que tu pudesses fazer, para ele era desculpável. E muito jovem dizia, tem tempo para assentar e ser uma velha matrona.

Apesar de esposa e mãe, continuaste a tua vida mundana, nocturna de sempre. Não havia jantar ou recepção a que tu faltasses. Pouco tempo antes do desaparecimento de Goschi,  velho duque foi encontrado sem vida, em seu leito, sem nunca se ter averiguado a causa da sua morte, atribuindo-se esta há sua já avançada idade.

Com esse acontecimento, em vez de ficares triste, pelo contrario, sentiste-te livre, para poderes fazer tudo quanto te aprouvesse, sem a aprovação do teu marido.

Foi nessa altura que começaste a encontrar o Capitão com mais frequência e, te apaixonaste loucamente por ele.

Frequentemente, ias a festas, bailes, corridas, desde que soubesses que ele lá estivesse, até que Goschi desapareceu e, tu foste, como já te disse,  algum tempo depois, encontrada a boiar no lago.

Cada vez mais desorientada e incrédula, perguntei:
      Mas para que saber de tudo isso agora?
o primeiro que falara, respondeu:
      já te dissemos. Tudo tem um sentido, um motivo. um castigo e um prémio.


Mas, ao que parece, eu já fui castigada, com o desaparecimento de meu filho...! E, apesar de me dizerem que eu não fui uma boa mãe, sei, sinto, que o amava muito. Sei que sofri horrores com o seu desaparecimento!

Quem disse que não foste uma boa mãe? - perguntou ele
Fui? Admirada continuei: Pensei que não tinha sido..!?
Foste sim! Embora de vida airada, dedicavas os teus dias ao teu filho. Ensinando-lhe tudo o que ele queria aprender. Havia ate entre os dois, uma relação muito forte. Daí, o teu desgosto e o teu remorso.
Então... não percebo.. . !??
Tu foste uma mulher mundana. Contudo, só saias nas noites de recepção da corte. Fora disso, raramente saias, todo o teu tempo era dedicado a Goschi...
Mas então? - cada vez percebia menos. Quanto mais falavam menos eu percebia.
     Como se tivesse ouvido 0 meu pensamento, a voz continuou:
Naquele dia, havia uma das festas de beneficência, a que costumavas ir, porque a tua presença era sempre solicitada por todos. - Porém devido ao luto recente, não estavas com vontade de comparecer. Só que, o capitão mandou-te um convite expresso, e tu, não pudeste ou não quiseste recusar o convite.

Paguei caro a minha leviandade...!! pensei para comigo.

Pareceu-me ouvir, uma voz ainda mais suave e mais ternamente doce, que as outras, dizendo:
- Agora vais saber, algo de muito mais importante.
Apercebi-me que era  terceiro encapuçado quem falava. Lembrei-me então, que, até ai se mantivera silencioso.

Resumindo, foi assim:
- 0 capitão, que tu tanto amaste, voltou contigo nesta vida, e, foi teu marido.
Como? Essa era demais, para o meu entendimento!
Exactamente. Nesta vida, foi ele quem te amou, enquanto tu só tiveste por ele uma grande amizade, inverteram-se as posições.
E se tiveste dele os teus filhos, filhos que ele não queria, lembras-te?
Foi na inconsciente esperança de encontrares Goschi de novo, mas isso não te foi permitido. Portanto foi um castigo.

Com a morte dele, tu, sentiste de novo  alivio já antes sentido, tiveste novamente a noção de liberdade que tanto ansiavas, sem saber ate, porque.
Essa ânsia de liberdade, era na verdade, inconscientemente a busca de algo, sabes  que? Um homem que te amasse, te desse segurança, paz e tranquilidade. Nunca o encontraste. Foi mais um castigo.

Por tua própria iniciativa, acabaste sempre, as relações amorosas que tiveste, nunca estavas satisfeita, mas sofreste sempre com isso, pois sentias que fazias sofrer aqueles que de alguma forma te deram amor.

Deram-me amor? Nunca nenhum me amou! Nunca me senti amada. Eu sim, sempre dei tudo de mim em troca de nada.
Pensa bem. Deste tudo? Olha que não! Tentaste dar, mas não conseguiste.
Claro! Aí já estava a ficar zangada, furiosa mesmo. Eu já sabia que amei da fita era eu, tenho sido sempre não é?
Nunca dei nada. Nunca fiz nada.  meu eis marido por exemplo, que me deu? Maus tratos físicos e verbais. Todavia fiz tudo por ele, desperdicei os melhores anos da minha vida, que tive em troca?
Tiveste tudo o que ele te podia dar. Só que para ti esse tudo, não era nada do eu tu querias. ,

Edia! Edia....!? Estás arrependida?
Não! Voltaria a fazer tudo de novo. Penso até que não fiz nada, ou se fiz foi muito pouco, poderia Ter feito mais, muito mais. Sinto que a minha vida e uma obra inacabada.

Sabemos o que pensas e o que sentes acredita.
      Sabem? Ninguém sabe. Pensei comigo, só eu sabia, nunca tinha dito nada a ninguém.
Pareceu-me que ele sorria ao dizer: - sabemos e isso basta.

Depois de todas estas atribulações, aconteceu algo inesperado e bom, noa foi? Sabes quê?

Fiquei a pensar; que me tinha acontecido de bom, nada, a não ser ter conhecido Remiro! Foi realmente uma coisa boa. Eu andava nas nuvens, sentia-me ditosa, Remiro era enfim a minha alma gémea, era tudo o que eu sempre sonhara ter...!

Exactamente! Disse a voz mansa e doce é ele, mas com ele aconteceu outra coisa extraordinária, sabes o que foi?
Algo de muito importante para ti.

Já sei. Quase gritei,  André!

Sim o André. Nunca te pareceu estranha, essa vossa relação de amizade, que toca as raias de amor maternal e filial, existente entre vocês?
Sim. Já muitas vezes pensei nisso. Se o André fosse meu filho, não gostaria mais dele, não sei distinguir os meus sentimentos, entre ele e os meus verdadeiros filhos, e na verdade um sentimento muito forte. Inclusivamente, sinto quando ele não está bem, parece ate que mesmo á  distância, nos comunicamos mentalmente.
E isso aconteceu, logo, ao primeiro encontro, foi real mente muito estranho.

- Não tanto como pode parecer. Já te falei do velho duque, que tu tinhas e não quiseste? Pois bem hoje ele e o Remiro, que tu queres e não podes ter. O André é Goschi o teu menino, por isso existe esse amor entre vocês.
Fiquei atónita. Não era possível! Mas que raio de sonho eu estava a ter. Era um sonho absurdo e infundado, como são todos os sonhos.

Não! Não estás a sonhar, tudo isto e verdade. E ainda hei mais coisas que precisas de saber.

Mais coisas?!!!
Muitas mais. Vais voltar a chorar. Vais perder André, vais perder o Remiro. Porque? Agora que me foi dado encontrei-los'" Que fiz de errado desta vês"
Na verdade nada. Todavia tu pensas que sim.. e. mais uma vez vais colocar obstáculos na tua vida, de livre e expontânea vontade.
Tens consciência, de que Remiro jamais pode ser exclusivamente teu, e, não queres que seja assim, esqueces que a sociedade de hoje esta feita de modo diferente daquela em que viveste. Hoje toda a gente vive de aparências...
E antigamente também! Respondi, meio agastada com o remoque.
      Sim, mas agora não é penalizante como era dantes. As pessoas agora, todas fingem. Umas fingem que vivem um casamento saudável e duradoiro, outras fingem que acreditam, outras ainda fingem não saber o que se passa para além disso...
tu continuas a viver agarrada a preconceitos sem fundamento, estragando assim a oportunidade que te é oferecida ,por quem sabe, de seres feliz, e a tal coisa do livre arbítrio, a que ninguém pode fugir.
Por não querer aceitar a regras desta sociedade em que vivemos, vais afastar Ramiro como fizeste com os outros, só que desta vez vais sentir um desgosto diferente.
Mais desgosto, menos desgosto, já estou habituada a eles, que posso fazer? Ele tem dona! Não quero nem posso ser a outra! Para mim e degradante, pensar que podem dizer que sou uma destruidora de lares. E, depois há o André! Se ele soubesse? Perdia a confiança em mim! Isso seria a ultima coisa que eu podia desejar, trair a confiança do André? Nunca!
Louca! Vais trair a sua confian9a da pior maneira. Ao afastares-te do pai, vais afastar-te dele, e ao fazê-lo, vais cortar rente, todas as esperan9as que ele depositava em ti. Ele via-te como a mãe que ele gostaria de ter e não tem, via em ti a única hipótese de ver o pai feliz e contente, aceitava até o vosso relacionamento, fingindo não saber, sentia que eram todos felizes, assim vais estragar tudo, deitar por terra toda a confiança dele, juntamente com os seus sonhos de menino. Ele sabe, ou pressente que o vosso encontro, foi um prémio que lhe foi concedido, e, tu, com as tuas ideias, vais fazê-lo perder esse prémio. Ele vai ficar muito abalado, vais prejudica-lo muito acredita. Será?! Mas que posso fazer? Não consigo ir contra a minha consciência!!
Sabemos isso. Viemos por isso avisar-te. Ainda e muito cedo, eu não queria, mas os meus companheiros insistiram e tive de vir também.. .
Todavia, quero ainda dar-te um conselho, não desesperes continua fiel a ti mesma, garanto que vais superar esta prova. Conta com a minha ajuda, para te esclarecer. Não vais ficar sozinha, estarei sempre a teu lado, e tudo se vai resolver, da melhor maneira. Não será longa a espera, só terás de ter calma, e não te precipitares como já fizeste antes, muito embora fosse esse o teu destino, podias ter sido feliz se não fosses tão teimosa. Mas o passado é passado. Não se pode remediar, contudo o futuro pode ser construído através dos erros do passado.
Prometo que voltaremos a falar.
Reparei que os três encapuçados pareciam estar a desaparecer, parecia que estavam a entrar na parede do meu quarto, ate que fiquei sozinha.
Olhei para o relógio. Eram três horas da madrugada. So tres horas? Aquela conversa, parecia que tinha durado uma vida.
Pareceu-me ouvir uma voz dentro de mim que me dizia: - Tens razão! Foi uma vida! A tua vida!
Apaguei a luz, deitei-me e adormeci.
Arroja, 3 de Maio de 2000 Maria Isabel Galveias.
A SANTA QUE ERA FEIA
 Fisicamente feia
Tenho uma dúvida que nunca consegui entender inteiramente: que influencia a beleza física das pessoas tem  nos juízos que se fazem delas.
Um homem bem apessoado, e sobretudo uma mulher, tem meio caminho andado para nos sentirmos atraídos e apreciarmos as suas acções com benevolência. Sabemos que valorizada rectamente, a beleza é secundária e transitória, e no entanto, muitas vezes acaba tornando-se decisiva no decorrer de muitas vidas.
Confúcio dizia: “Ainda não encontrei alguém que prezasse tanto a virtude como preza a beleza física”. Temos de aceitar que na prática esta afirmação é verdadeira.
Em teoria, todos concordam que devemos analisar as pessoas pela qualidade das suas almas, pelo valor das suas acções, pelo calibre da sua inteligência. Mas no fim das contas, percebemos que na realidade, consideramos tudo isso, o espírito e o coração,     como parentes pobres da beleza.                                                               
Conforme dizia Tolstoi, que “é uma ilusão acreditar que a beleza física é o reflexo da virtude,  do amor, da bondade”, mas caímos nessa ilusão  todos os dias, com injustiça para com as pessoas feias.
E se formos sinceros, também sabemos que enquanto o feio ou a feia têm que demonstrar a qualidade das suas almas, a pessoa bonita não precisa tanto desse trabalho.
É possível que depois nos desiludamos e aí reconheceremos o vazio da beleza, mas o primeiro juízo já foi feito.  E se o bonito acaba por ser também bom, pensaremos como Virgílio, que “até a virtude parece mais atraente numa pessoa bonita”.

Tudo isto por quê é assim? Por que damos tanto valor àquilo que não o tem? E acima de tudo, por que tornamos a vida tão difícil a essa pessoa que não tem qualquer culpa na sua fealdade (feiúra)?
Todos estes pensamentos ocorreram-me ao ler a vida de Santa Joana de Valois, a santa que era feia, embora filha, irmã e esposa de reis da França.
É que até na santidade damos valor decisivo à beleza física e gostamos de ver os santos nos altares, bonitinhos.  Se o foram em vida, que o sejam também no altar, é claro.  Se não o foram, o escultor ou o pintor encarregam-se de lhes dar o que lhes faltou em vida.
Mas tudo foi  mais difícil nesta Santa Joana, feia, sardenta e aleijada, cuja santidade tanto teve a ver com a sua fealdade, e cuja vida passou-a no desprezo pelas suas nulas qualidades físicas.
Em 1464, a rainha de França, Carlota de Saboia, esposa de Luís XI, esperava o nascimento do seu segundo filho.  O rei e toda a corte desejavam um menino, depois da primogénita Ana. Mas nasceu outra menina, e alem disso, feíssima de rosto e disforme de corpo por causa de um desvio no quadril, que aumentou durante toda a vida.
O seu pai, o rei, contrariado, nem quis que a pequerrucha morasse no palácio real, e mandou que a retirassem da corte e a levassem para o castelo de Liniers, em Berry.   A pequena ali cresceu e viveu reclusa, sem ter conhecido de perto o pai e a mãe. Sofreu muitas humilhações por parte de sua família, especialmente do pai que chegava a odiá-la por ser quase anã, enfermiça e aleijada.
Foi  educada por guardiões (superiora de convento) desse  castelo distante, sem conforto, em intensa solidão, e por conta disso consagrou-se tanto e tão cedo a Deus Nosso Senhor e a Virgem Maria. Os mistérios da Anunciação e da Encarnação, como rezamos no Angelus, eram as suas devoções.
Um dia, o rei seu pai casualmente passou por Liniers para alguma caçada, comentou maldosamente com o senhor do castelo, que não sabia por que acontecimento esperava para matar essa filha indesejada que lhe nascera, em vez de um varão.
Os anos vão passando até que ela se torna uma peça útil para uma política de Luís XI. Sendo Joana ainda criança de 12 anos, o pai acertou o casamento dela com o primo e herdeiro do trono, Luís de Orleães, filho do duque Carlos de Orleães, com quem lhe convinha aparentar. Foi em 1476.
Quando Luís de Orleães, o suposto marido, conhece a disformidade da sua prometida, não quis saber dela para nada. E quando, forçado, aceita o casamento, nem sequer olha para a esposa durante cerimónia e abandona-a num calvário de uma nova e mais grave solidão. Além de odiá-la, ele a humilhava em público. Joana, ao contrário, ama sincera e ternamente o marido que a tortura com seu desprezo. E ela vai defendê-lo em juízo quando cair em desgraça, for encarcerado e condenado à morte pelo primo, o novo Rei Carlos VIII.
Mas o agradecimento de Luís, quando anos mais tarde subiu ao trono por morte de Carlos VIII seu cunhado e irmão de Joana, alegando um casamento forçado, por falta de consentimento e jamais ter sido consumado, foi obter a nulidade em Roma em 1498. E assim deixa Joana sem ser solteira, nem casada, nem viúva. Seria perfeitamente  compreensível que ela estivesse a ponto de se  desesperar.

Foi feita Duquesa de Berry, recebendo a província para governar. Indo viver em Bourges, sua capital, Joana cumpriu seus deveres e se devotou ao bem estar dos súbditos.
Mas, conforme ela mesma disse, “nesse momento Deus concedeu-me a graça de compreender que Ele , em sua Providência assim o permitia, para que eu fizesse algum bem às almas.  E agora, sem estar  sujeita a homem nenhum, posso fazê-lo plenamente”.

Esse grande bem foi a fundação da Ordem da Anunciação em 1500, juntamente com seu diretor espiritual, o franciscano Gilbert Nicolas. Ordem de oração e penitência, cuja regra principal era a imitação das virtudes de Nossa Senhora narradas no Evangelho, com que vinha sonhando desde pequena.  Assim, fez os votos, deixou a aliança de casamento e vestiu o hábito, adoptando o nome de Irmã Joana Mariana. Nela foi um exemplo de virtude e já em vida era considerada santa.
Mesmo com a saúde precária, penitenciava-se todos os dias e dedicava muitas horas à oração. Rezava incessantemente  pelas almas do pai, do irmão e do marido. E deixou como orientação à Ordem rezar por eles.                                                                                                                                                    
Faleceu em Bourges a 4 de Fevereiro de 1505 aos 40 anos, foi beatificada por Bento XIV em 1742 e canonizada por Pio XII em 1950.
                                                                                                                                                     É preciso dar graças a Deus de que pelo menos no campo da santidade, não se cometa a injustiça de super valorização da beleza física; e de que ao menos Ele, não liga para corpos desajeitados, mas sim para almas luminosas.

José Luis M. Descalzo  (em “Razões para viver”) 

MORTE E VIDA NUM SANATORIO ENTRE 1944 E 2009
Olá amigos, Feliz Ano Novo para todos. Pois é, tenho andado meio preguiçosa, mas hoje, venho aqui colocar o relato de 2 casos nada de especial, mas que são testemunhos, de fé, e de descrença, com as consequências que daí podem advir. Este tema foi sugerido pelo nosso amigo Ice, e esta é a minha história, verídica, e que eu acompanhei de muito perto, vamos lá então
Vida e morte num sanatório entre 1944 e 2009 Conheci a Milú tinha eu na altura 18 meses, e ela 12 anos. Quando digo conheci, aos 18 meses, não se pode conhecer alguém, e para mais eu, que era cega de nascença, por aquela altura. A Milú era filha única, dum casal formado por pessoas rudes, e por ventura brutas também, talvez pelo facto de que usavam e abusavam do vinho, coisa que na época era absolutamente normal. Era uma menina, muito bonita, que despertou a atenção dos meus tios, solteiros na altura. Como tudo começou, eu não sei bem, mas sei que ela, devido a uma gripe, contraiu o bacilo de da tuberculose, aos 13 anos de idade. Lembro-me de que namorou o meu tio Abílio, e que entre eles houve relações sexuais, o que na altura era um escandalo. Pois moça a quem isso acontecesse, ficava marcada para toda a vida, se o namorado por qualquuer razão não quizesse casar com ela. Foi exactam ente isso que aconteceu. Ela dizia ter sido o tio Abílio o primeiro e único, ele dizia ser mentira, e que o primeiro fora o tio Zé. Enfim como foi ou não foi, eu não sei. Só sei que a grande paixão dela, foi o tio Abílio. Bastante doente, com hemoptizes continuas, foi mandada para o Sanatório do Caramulo, onde passou alguns meses. Mandava fotografias, com outras doentes, mas ela era sempre triste. Voltou do sanatório, e como a paixão solapada, pelo Abílio era grande, e a tornava amarga, ela era por vezes mal educada e respondona para com os pais, que lhe davam grandes sovas. Eram aliaz frequentes as zaragatas naquela família. Se a Milú tossia, a mãe ralhava com ela, o pai ralhava com a mãe, e os meus avós ralhavam com os pais, era uma briga constante rsrsrsr. Depois desta explicação, realço apenas o facto de a Milú, ser uma pessoa, amarga, sem fé nem esperança. Vivia obsecada com o meu tio, e para além disso nada mais importava. Seca, desprendida, invejosa, nunca aceitou a sua condição de doente, nem nunca quis aceitar a cura, que por várias vezes se avizinhou. Ela era e queria ser, a coitadinha, a desgraçadinha, infeliz e doente. O meu tio não alimentou aquela situação, e casou com outra. Cá para nós, conhecendo bem o meu tio como conheço, penso que possivelmente, “não foi ele” rsrsrsr. Dada como curada, mais do que uma vez, não sei muito bem porquê, a doença retornava, e vinha sempre com mais força. Entretanto Milú casou. E infernizou a vida ao coitado do marido.Nessa altura eu já pouco convivia com ela. Mas sei que continuava a eterna revoltada, que não acreditava no bem, para ela só o mal existia. Até que 13 anos após ter odoecido, ela baixou ao Sanatório do Lumiar, hoje conhecido por Hospital Polido Valente, e lá, entre uma e outra hemoptize, sempre sem Fé e sem Esperança, possuida, por uma enorme revolta, acabou por falecer, aos 26 anos de idade. Por tudo isto, Milú foi a morte. O meu tio Zé, mais ou menos, em meados dos acontecimentos atrás relatados, conheceu a que é hoje minha tia, e que tinha, na altura mais 3 irmãs e 1 irmão, mais novos. Quando o meu tio casou, tinha eu 4 anos, e já via Graças a Deus, foi padrinho de casamento o meu avô paterno, nunca percebi bem porquê mas enfim. Como a senhora com quem o meu avô vivia, precisava duma criada, simpatizou com Clementina, irmã da minha tia, que era também muito bonita, e tinha na altura 12 anos. Assim, Clementina foi trabalhar para casa do meu avô. Mas este meu avô, valha a verdade, e á luz dos acontecimedntos recentes da nossa sociedade, foi também pedófilo, pois já com 47 anos de idade, seduziu a menina de 14 anos. Contudo, foi um amor verdadeiro, e juntou os trapinhos com ela, deixando a tal madama. Clementina, engravidou aos 15 anos. Durante a gravidez, e não sei como, contraiu também tuberculose. Eu era pequena, pois tenho mais 7 anos que o meu tio, filho dela, e não sei bem como tudo aconteceu. Sei que o bébé nasceu, veio para casa dos avós, e a Clementina, ficou internada no hospital. Este internamento prolongou-se por 10 meses. Durante esse longo tempo, ela nunca viu o filho. Mas nunca perdeu a Fé, nem a Esperança. Um dia, ouvi contar, depois duma radiografia, foi-lhe sentenciado um corte de costelas, termo que então se usava, para designar uma intervenção cirurgica aos pulmões. Contava ela que nesse dia, orou, orou muito, para que lhe fosse dada a graça da cura, a fim de poder conhecer e criar o filhinho. Cansada adormeceu, e dizia que, teria sido acordada com um leve afago, e que quando abriu os olhos, viu a figura da Imaculada Conceição, que a afagou, e que lhe teria deixado sobre os pés um pedacinho de tule, uma reliquia que ela guardou sempre, com toda a fé e respeito. O certo é, que ao fazerem-lhe novos exames, preparativos da intervenção cirurgica, os médicos verificaram que ela não tinha o mais leve vestígio de tuberculose. Clementina, voltou para casa, criou o filho, e foi mãe de outro 2 anos mais tarde. Muito trabalhadora, foi uma moira de trabalho toda a sua vida. Mas também foi uma mulher boa, doce, meiga,e que nunca se revoltou contra a vida. Temente a Deus, pessoa de muita fé, sempre seguiu a sua vida com muita alegria de a viver. Por esta altura, e como o meu avô era meu padrinho, eu passei a chamar-lhe madrinha, pois não me parecia berm chamar avó a quem era mais velha do que eu 8 anos rsrsrsrsr. Lembro-me que o meu avô esteve muito mal com uma trombose, Clementina, tratou-o com desvelo, apegou-se á sua Fé, fez uma promessa a Srª de Fátima, e o meu avô curou-se, sem sequelas. A Fé move montanhos, assim se diz. Só que mais tarde, levado por outra seita religiosa, o meu avô renegava aqueles acontecimentos, dizendo serem obras do demo. Mas Clementina, muito embora não o contrariasse, sempre acreditou. E foi essa sua confiança, e esse seu acreditar, que lhe deram força, para viver, e ser feliz. Faleceu há 3 meses, com 77 anos, e deixou muita saudade. Clementina, foi a vida! Quero ainda frizar, que estes 2 casos, de doença, ocorreram na mesma altura, sensivelmente, e elas tinham, pouca diferença de idade, Milú era só uns 2 anos mais velha. E conheciam-se. Lylybety
Publicada por lylybety em 9:29 PM 

Sonho?
Eram 3:30 da manhã, encontrava-me no ponto mais alto da serra da cidade onde moro. Meu espirito encontrava-se em simbiose com a natureza e o cosmos, sentindo as melodias nocturnas do vento beijando as folhas das àrvores, e a voz dos animais nocturnos.. Embora nesta paz perfeita, sentia falta de algo, olhava uma estrela “única no céu”, que aparentava dirigir-se a mim em toda a sua beleza. “senti” uma forma de luz perto de mim, olhei, e reconheci tua silhueta, dirigimo-nos um para o outro, levantaram-se nossos braços, nossas mãos tocaram-se, entrelaçaram-se nossos dedos. Olhei o céu, a estrela tinha desaparecido. Olhos nos olhos, dedos entrelaçados, “senti” que dizias: que bom tu teres vindo. Recebi tua mensagem, respondi.. Não foram precisas mais palavras, assim ficámos, em simbiose com a natureza e o cosmos, escutando as melodias nocturnas, e os sons da madrugada que se aproximava. Por quanto tempo? Um timido alvor espreitava vindo do lado do mar, separámo-nos sem palavras, mas com conhecimento, fiquei vendo afastares-te.. 06 hs da madrugada. Dormia sentada na minha sala em frente ao pc, os timidos raios matinais beijaram meus olhos, despertei, olhei pela janela, lá longe no horizonte... Uma estrela. Admirada fixei-a, vi-a desaparecer lentamente, como que escondendo-se por detrás da luz matinal. Maria isabel galveias, 23-10-001


UMA NOITE Á CHUVA
Saí de casa. Não conseguia permanecer mais tempo enclausurada dentro do meu quarto, sentada frente ao meu PC, esperando que alguém do outro lado, me dissesse: - Olá! Como vai? Meti-me no meu carro, e parti veloz. Fui como de costume arejar ideias, só, que desta vez, não fui para o meu Monte de Sonho e Magia. Sem bem saber como, dei comigo no alto dum promontório, vendo lá ao fundo o mar, que se agitava irado. Saí do carro. A brisa fria e com cheiro a mar, fustigava-me o rosto, transmitindo-me toda a fúria que transportava consigo. A Natureza estava naquela noite, tão inquieta como eu.. Eram 2h da madrugada, não se via alma viva por aqueles lados.... Apenas se ouvia de vez em quando o grito duma gaivota, que passava em voo rasante.... Eu sentia-me interiormente, destroçada.....Como se o temporal viesse de dentro de mim, as lágrimas corriam-me no rosto, em verdadeiro caudal... Não conseguia controlá-las, e, isso, contribuía para ficar ainda mais enraivecida, contra mim própria. - Porque chorava? Perguntava de mim para mim.... - Acaso sentia saudades? Mas saudades de quê? De quem? Do tempo em que vivia cativa e mal tratada? Das agressões fisicas e psiquicas a que tinha estado sujeita nos últimos anos, e, das quais tivera a coragem de me libertar? Sentia uma enorme raiva.......! Começou a chover.... Entrei para o carro e fiquei a ver a chuva a cair.... O barulho das gotas de água no tejadilho, davam-me Uma enorme sensação de tranquilidade, como se fosse uma melodia de embalar, tocada pelos elementos furiosos da Natureza.... Fiquei a ver a chuva a cair numa cortina de água, que ocultava tudo o que me rodeava.. Estranhamente comecei a distinguir as fitas de água como se estas fossem de cristal, como se a chuva fosse feita de uma cortina de contas brilhantes, com um cambiante de luzes, tão intensa que me feria a vista, obrigando-me a fechar os olhos. Assim fiz. Fui obrigada a fazê-lo. Os raios de luz eram tão fortes que, não me era possível manter os olhos abertos. Senti a porta do carro do abrir. Alguém entrava nele, quem seria? Eu estava completamente paralisada, mas contudo, não tinha medo. Aquela presença a meu lado, era tranquilizante. Senti ainda, uma mão leve que me acariciava o rosto, ao mesmo tempo que, me enxugava as lágrimas que em silêncio me saiam dos olhos cerrados. Uns lábios, quentes e macios, beijaram-me levemente....Aquele beijo suave e aquelas mãos acariciantes, transmitiam uma calma..., uma paz..., tão intensas, tão envolventes...que a própria fúria da Natureza acalmou........ Ouvi uma voz calma, doce e meiga, que murmurava ao meu ouvido: - Calma. Sossega. Já passou. Não chores mais! Porque te sentes tão infeliz? Não há motivo...! Uns braços envolveram-me. Aquela mão suave, puxou-me a cabeça e reclinou-a junto de um peito forte, onde senti bater um coração em ritmo tranquilo - És uma mulher forte, continuou a voz, inteligente. Porque pensas que ninguém gosta de ti? - Porque sinto isso! – murmurei apática - Sentes? Estás sentindo isso neste exacto momento? - S...i...m! N...ã...o! - Sim ou não? – Aí a voz foi um pouco agressiva - N...ã...o! - Assim está bem, já gosto mais, disse suavemente de novo.... - Não me conheces, eu sei. Porém eu amo-te...... - A...m...a...s? murmurei num suspiro - Sim. E muito!!! - Conheço-te? Conheces-me? - Sim!!! - Como? De onde? - Tentei ver, por entre as gotas cristalinas da chuva, o rosto de quem me falava, mas não era possível.. A voz continuou: Conheço-te de todas as noites falar contigo. Sempre á mesma hora, fielmente lá estás..... - Porque não te vejo? Perguntei... - Porque não podes....Só podes sentir-me - E tu podes ver-me, porquê? - Também não posso...Só posso sentir-te também. - Mas... Se não me vês, como podes amar-me? - Amo a tua alma, que tu desnudas completamente, sem disso te aperceberes..... - S...i...m? E como é ela? - Linda! Por isso te amo. Exactamente como tu a mim.... - A...m...o??? - Consegues negá-lo? - Sou assim tão evidente? Se nem o conheço...... - Como não conheces? Todos as noites falas comigo, me dizes tanto de ti, e de tudo o que te cerca, no meio da tua aparente leviandade......! - E que te digo? - Dizes-me nas entrelinhas, o quanto és sensível, amiga do teu amigo, meiga, carinhosa e muito, muito louquinha.....! - Senti mais terno e carinhoso aquele abraço. Mais suave e doce a boca que me beijava com uma ternura, como eu nunca sentira antes.... - Tentei corresponder. Não consegui. Estava completamente paralisada. Só podia falar, e mesmo assim parecia que o nosso diálogo era mais transmissão do pensamento, do que através da fala. - Que me dizia a voz? Cada vez estava mais diluída, Já não entendia mais nada. Longinquamente, falava-me de amor, como se soubesse que amor, era pra mim a prioridade das prioridades. Aquele abraço amigo, começou a desprender-se; aquela voz suave, estava cada vez mais longe, afastando-se lentamente..... Comecei a ouvir uma outra voz mais forte, mais rouca Que cantava: - Aquellos ojos verdes serenos como lagos.... O meu corpo, começou a ficar pesado. A chuva já não batia no tejadilho do carro...Tinha deixado de chover....... Só a luz ainda era intensa, mas consegui abrir os olhos. Vi assombrada, que estava no meu quarto, sentada frente ao meu PC, eram 6h da manhã Afinal que se teria passado? Teria sido um sonho? Abençoado sonho........ Mª Isabel Galveias, 24-3-001
Postado por lylybety em 09:48:00 Sem comentários:



AS COISAS QUE ME ACONTECEM
Eram 4 horas da manhã. Acabara de encerrar o meu PC, depois de estar, um dia inteiro á sua frente. Tinha terminado uma sessão da net, que, me tinha deixado, nem eu sei bem porquê, triste e deprimida, chorosa até. Para desanuviar fui tomar banho. Mal tinha saído do duche, quando o meu telefone da rede fixa tocou. - A esta hora? Quem será? – perguntei para mim própria um pouco assustada. Nestas alturas quando o telefone toca, penso sempre o pior. Estou? - perguntei um tanto ou quanto a medo... - Lyly? – pergunta uma voz de baixo profundo. - Sim...! Quem quer falar comigo a esta hora? - Boa noite Lyly, minha Lady e minha Queen....! - B..o..a n.o.i.te....! – gaguejei confusa . Conhece-me? - Conheço sim majestade! - ri do outro lado o meu interlocutor - Estive todo o serão a fazer-lhe companhia, minha adorada Queen, e tambem toda a tarde. - Foi? e posso saber com quem estou falando. - De certo não sou o seu King, nem o seu Duque de Copas e nem o seu Valete de Espadas. - Bom, os dois primeiros sei que não, quanto ao terceiro..... - Garanto-lhe que não sou. - Então quem é, se for dado a uma velha Queen o direito de perguntar e de saber? - Não posso dizer-lhe quem sou. Tenho muitos nicks tal como a senhora. Ah! este sabia que uso vários nicks.......Quem seria? - Conhece os meus nicks? Perguntei meio a sério, meio a brincar..... - Sim minha adorada Lyly, minha Lady e ninha Queen...... Pelos vistos era adolador......tinha voltado de novo a vontade de rir e de brincar. - Mas então quem é o sr? insisti rindo - Alguem que todos os dias a acompanha fielmente. Alguem para quem a Aldeia Lusa, ou a Lusitana Paixão, só tem graça e sabor quando a sra. lá se encontra. - Alguem que a admira, e inveja.... - Inveja? Mas inveja o quê meu caro senhor? agora já não estava a gostar da conversa, quem seria este maduro a ligar para mim a esta hora da madrugada? - Vejo que não gostou do termo, Majestade!? – riu ele - Realmente não foi, digamos muito simpático...Quem seria? perguntava eu de mim para comigo. - Digamos minha querida Queen, que sou, não um Duque nem um Valete e, muito menos serei um King, mas simplesmente um seu vassalo, que percorre diáriamente, todas as salas portuguesas, para ter o previléligo de teclar consigo, e me rir com o seu espírito sempre tão alegre, e as suas respostas tão rápidas e precisas. Sabe que ao principio eu cheguei a pensar que haveria truque e a sra e o Chuck escreviam os diálogos? - Não posso acreditar!...há cada uma, ás 5h da manhã!!!!- pensei, não disse claro. - E, ainda crê nisso? - preguntei deveras divertida - Agora já não. Pois verifiquei que a sra era ligeira a responder em qualquer sala e em qualquer assunto, daí a minha admiração por si. Bem, agora que me prestou vassalagem, disse rindo, quer dizer-me quem é e como soube o meu nº de telefone? - Quem sou? Bem digamos que sou o Conde de Espadas, sempre pronto a lutar por sua dama; como soube o seu nº de telefone? através do seu nome, pois sou participante da Aldeia Lusa, logo portanto serei alguem em quem Suas reais Majestades podem confiar, não ofereço perigo. Mas não foi certamente para me dizer todos esses piropos que me telefonou. Afirmei outra vez com seriedade. - Adivinhou mais uma vez, minha inteligente, rainha. - Então? - Notei que por qualquer coisa que lhe foi dita, ficou subitamente triste. Quando disse que seria a última vez que a Queen, abriria as portas do seu Alegre Salão, senti que estava a ser sincera, e, que a sua habitual jovialidade, tinha desaparecido. Voltei atrás no diálogo para ver o que teria sido, e, descobri. - Descobriu? foi assim tão obvio? - Para mim que estou sempre pendente das suas emoções, foi. - Sou tão transparente assim? Agora começava a interessar-me.. - Já lhe disse que para mim é. Afirmou. - Também reparei, que houve mais alguem, que sentiu medo de que não voltasse. - Quem? – interoguei. Não havia dúvida. Este admirador secreto era mesmo atento. - O Duque foi o primeiro a assustar-se, e o King também não ficou com todas na manada, como se costuma dizer. - E o sr? perguntei um pouco garridamente.... - Eu fiquei estarrecido.. A minha adorada Lady, querida Lyly, venerada Queen ia deixar de vir ao Salão da Aldeia.......? - Mas eu não disse isso!..... só disse que seria a última vez que a Queen se apresentaria........mais nada. e se viu porque foi, deve concordar comigo. - Não. Não concordo. Penso que deve voltar, voltar como Quenn. - Mesmo que seja desagradável para alguem? - Prguntei curiosa em saber a resposta - Mesmo que seja desagradável para “Alguem”...... - Mas sabe que esse alguem, tem uma força bastante grande dentro da comuinidade. - Sei. Mas quer apostar, que esse alguem se a Queen não voltar, vai solicitar a sua presença? - A presença da Queen, ou a da Lyly? - Ambas são a mesma, mas cada uma ocupa na comunidade um lugar diferente. - Sério? como é isso? - A Lyly, é você ao vivo e a cores. A Queen é o sonho a brincadeira, a fantasia..... - Tudo isso? - Tudo. Promete-me que não vai desistir? - Não prometo porque não posso cumprir...Já desisti como viu. - Não faça isso... são tantos que adoram a Queen...... - E a Lyly não presta? - Claro que presta. E sabe disso. Não esteja a ser tão radical. - Bem amigo, vou ser mais radical ainda. Não lhe parece que são horas de dormir? - Ou antes não são horas de estar ao telefone na conversa com alguem que se desconhece. - Perdão minha Queen, não queria de modo algum ser importuno. Quis tão somente ser solidário consido, e mostrar-lhe de viva voz a minha solidariedade, mais nada. - Está bem já mostrou. Agora posso ir tentar dormir um pouco? - Pode. Mas antes prometa que a Queen irá voltar....... Prometo que irei pensar nisso, e, que irei falar com ela.....Mas tenho sérias dúvidas, penso que isso teria que ser pedido por mais “Alguem”. - Se isso acontecer........ - Fico á espera, nem que tenha que fazer barulho na sala. - Barulho!? está proíbido ouviu? Proibido. Na minha sala não quero duelos nem discussões. - Certo. Mas tudo vai depender de si. Volta? Logo á noite estará lá? - Se não adormecer, concerteza que estarei.. - Então até logo, my lady, posso enviar-lhe um beijo pelo telefone? - Claro que sim. Um beijo também para si. - Uma rainha a beijar um simples vassalo? Mas é uma rainha como só existem nos contos de fadas!!!?. Boa noite. Logo espero-a na net. E esta hem? Acontece-me cada uma.!!!!!!! Bem e agora vou ver se durmo..... Arroja, 5 de Abril de 2001 Maria Isabel Galveias
Postado por lylybety em 08:06:00 Sem comentários:


UMA NOITE DE NATAL
Uma noite de Natal Rita, está só. Só, na mais completa profunda e amarga solidão. Ela sempre gostara de estar sozinha, todavia, como essa solidão hoje é dolorosa...! Recorda com alguma amargura, as palavras proféticas de sua mãe, quando ela era ainda uma garota, e se isolava do mundo... Credo rapariga! Só, se veja, quem só, se deseja.... Lembra-se ainda, de na sua curta infância, dizemos curta porque ela mal desfrutara da infância, adolescência, e até da vida, já que fora, desde muito nova, marcada pelo infortúnio, de ser filha única de pais sempre desavindos. Como sempre se sentiu mal amada, daí, o seu isolamento, o seu fugir constante de tudo e da todos, como se assim, pudesse alijar de si o fardo que era a sua vida. Pegava num livro, seu companheiro inseparável, e, lá ia sozinha para o montado...Como ela dizia, metia-se dentro do livro e viajava, pelo mundo largo e grande da fantasia. Era feliz assim. Seus pais, esqueciam-se que ela existia. Não ligavam nada ao que ela fazia, desde que não falasse com rapazes, tudo estava bem. Casara, não fora feliz nem infeliz. Entregue de corpo e alma ao marido e aos filhos, lá foi vivendo. Ás vezes, ao domingo, seu marido que gostava de jogar futebol, saía para jogar e ela deixava que os filhos também fossem, para desfrutar de duas horas de solidão, paz e sossego, já que as crianças, alegres e vivazes, faziam barulho com as suas brincadeiras e ela sentia-se por vezes cansada. Sabia-lhe bem aquele bocadinho. Contudo, sabia que não estava só. Eles chagavam alegres e felizes, contavam todas as peripécias do jogo, e era a alegria que se instalava, no lar que sempre tentou fosse feliz, dando aos filhos tudo aquilo de que tinha sentido falta. Mas a vida passa. Ao fim de 23 anos de casamento mais ou menos felizes, Rita ficou só. O marido falecera, os filhos casaram, e, seguindo o curso natural da vida, ela ficara só, definitivamente. Tentara reconstruir a sua vida, mas não deu certo. De quem seria a culpa? Dela certamente... O primeiro relacionamento, aconteceu pouco tempo depois de enviuvar... Fora uma paixão louca e desenfreada. edecA paixão que deveria ter sentido na sua adolescência talvez. Só então se deu conta de que nunca sentira pelo seu marido, o amor, a loucura que sentira por Luís. Mas...havia sempre um mas, a estragar a sua felicidade. Luís era casado, e embora quando Rita o conheceu, já não vivesse com a esposa, esta quando soube do seu romance, fez-lhe a vida num verdadeiro inferno. Luís, embora a amasse, também não lhe dava estabilidade emocional, até que um dia, sete anos após a relação, Rita se cansou, discutiram e ele saíra da sua vida. Foi muito dolorosa para ambos esta separação. Ele tentou tudo, para se reconciliarem, pediu ajuda á mãe de Rita, aos filhos, aos amigos, mas Rita fora irredutível. Melancolicamente Rita, relembra a sua vida com Luiz e lamenta a sua atitude de então. Como foi louca e orgulhosa...E como fora feliz! Junto de Luiz, Rita vivera o péssimo e o óptimo. Divertiu-se, viveu como nunca se sentira viva. Foram anos inesquecíveis, mas ela tinha de estragar tudo, convencida, de que tinha a verdade na mão...deitara tudo a perder, com o seu orgulho besta e estúpido. Louca que foi...! Agora chora a felicidade perdida, mas nada pode remediar o mal que a si própria causou... Quando soube da rotura, Madalena esposa de Luiz pediu o divórcio... Por ironia do destino, seria ironia? Ele não foi para nenhuma das duas. Mais tarde, conheceu Rui, foi uma relação curta, que chegou para colmatar a falta de Luiz, tudo parecia correr bem entre eles, mas mais uma vez o destino fez das suas, e Rui acabou preso nas redes da melhor amiga de Rita, facto que quase arruinou a vida de Rui. Rita perdeu o namorado, e perdeu a amiga.... Perante este pensamento, ela sorri, se os perdera, é porque não eram lá grande coisa, nem como amiga, nem como namorado. Só, que naquela altura Rita era ainda jovem, bonitona, cheia de energia e vitalidade. Luiz continuava a persegui-la, então, conheceu Carlos. Para fugir ás investidas de Luiz, começou a sair com Carlos, apenas como amigos, só que a amizade acabou em casamento. E que casamento! Irascível, pouco comunicativo, Carlos tornou a vida de Rita insuportável. Ela perdoava-lhe tudo. Ainda hoje se pergunta porquê. O casamento durou dez anos...E mais uma vez Rita, se fartou de ser feliz..? infeliz..? Na altura, sentia-se muito, muito infeliz. Agora, sozinha, numa casa que para ela se tornou um sepulcro em vida, sem amigos, longe da família, mais uma vez Rita chora a falta da “infelicidade” que tinha, E sente o travo amargo, da solidão mais profunda e absoluta, que alguém alguma vez sentiu. Como sua mãe vaticinou, está só. Angustiosamente só..... Restam-lhe apenas as suas tristes recordações. É Natal. Rita, recorda sem muita saudade, alguns Natais da sua infância. Não eram muito alegres, nem divertidos. Passados sempre com seus pais, algumas vezes com seus tios. Não se lembra de alguma vez ter passado o Natal com os avós....O avô vinha de vez em quando, mas avó não gostava nada destas festas em família...Só mais tarde Rita percebeu porquê. “Em tempos seu avô bebia muito, andava sempre bêbado, um dia, fez um tratamento para deixar de beber, quando fora para a fábrica dos Serrões. A avó temia que por motivo das festas, o avô voltasse a beber, era esse o motivo. Rita sempre ouvira dizer aos pais e aos tios, que a avó era má, e, não gostava da família. Ao chegar á idade da razão, Rita compreendeu que a maldade da avó era tão somente medo, medo de voltar á vida desgraçada que havia tido, contudo parece que só Rita não via maldade em sua avó. Para todos ela foi sempre má. Pobre avó, sempre tão incompreendida! Só Rita a tinha amado de verdade....” Á noite, ela colocava o seu sapatinho na chaminé, e de manhã, encontrava invariavelmente um saquinho de bombons. Jamais uma boneca ou outro qualquer brinquedo. Houve porém um ano, tinha ela oito anos, seu pai, presenteou-a com um pequeno, mas lindo presépio, que a tinha deixado encantada. A partir de então, seus presentes de Natal, eram figurinhas que foram ao longo dos anos tornando o presépio maior. Passados cinquenta anos esse presépio ainda existe em casa de sua filha, só que em vez de crescer, vai minguando, exactamente como Rita.... Com um sorriso triste, ela lembra, quantas vezes pediu ao menino Jesus uma boneca... chegou a fazer promessas, mas nunca foi atendida. Seus tios dava-lhe quase sempre algo para vestir mais nada. Em relação ás guloseimas natalícias, apenas as filhós de abóbora, e os coscorões, feitos durante a Noite do Galo, por sua mãe. Bolo Rei? Ela nem sabia o que era. Nunca ouvira falar. Nozes, pinhões, passas, que era isso? Ela não conhecia. Também não era de admirar, tinha havido uma guerra mundial, e os tempos eram de racionamento. Era tradição, a mãe fazia as filhós, o pai e ela faziam ao presépio. Nessa noite, ninguém dormia. Seu pai fazia questão disso. Havia também as morcelas de arroz, e o delicioso cacau quentinho, para acompanhar as filhós. E era tudo. Lembra-se de um Natal, teria por aí uns seis anos. Seus pais por essa altura moravam na margem sul do Tejo e ela estava em casa dos avós. Não foi Natal não. Foi Ano Novo. Seus pais vieram passar o Ano a casa do tio Zé. Como quase sempre estavam todos zangados com a avó. Rita foi também fazer a passagem do ano com os pais e tios, mas queria ir para casa dos pais, aliás ela passava a vida cá e lá. Assim sendo, seu tio Abílio, a quem Rita tinha muito respeito, e a quem obia cegamente, sim porque menina mimada por todos ela era um pouco teimosa, disse-lhe: Vai a casa da avó buscar as tuas coisas, e quando forem três horas vais ter connosco, pois nós iremos no autocarro das três. Rita assim fez. Deixou passar uns quantos autocarros, e ás três horas em ponto, aí vai ela no autocarro. Este tinha dois pisos, e Ritinha, foi direitinha ao piso de cima, sem nem mesmo ver se os pais ou o tio também iam. A confiança no tio Abílio era cega. Quando chegaram ao sítio hoje conhecido por rotunda do Relógio, o cobrador, veio pedir-lhe o bilhete, ela respondeu, que, seus pais iam no piso de baixo, e eles é que pagariam a sua passagem, na altura custava a dita 2$00. O cobrador, passado um tempo veio dizer que ninguém se responsabilizava por ela, portanto teria que a deixar na paragem da rotunda. Que tempos aqueles hem? Não havia medo nem consciência, para deixar uma criança de seis anos, sozinha num sítio descampado e ermo como aquele era nesse tempo..... Bem, não haveria, por parte do dito cobrador, porque os passageiros do autocarro, indignados, cada um pagou um bilhete á menina, ficando Ritinha com 10$00, uma fortuna.....naqueles tempos até era. (Como Rita se sentia velha ao recordar esses tempos tão longínquos....)Mais um sorriso... Chegada que foi á Praça do Chile, saiu do autocarro, convencida de que, pelo menos o tio estaria lá á sua espera. Contudo, para seu desespero não estava ninguém. Ritinha começou a chorar. Não porque tivesse medo, ou porque se sentisse perdida, Rita desde muito pequenina, se habituara a viajar sozinha, e o percurso entre a casa paterna e a dos avós, não lhe era desconhecido. Nada disso, apenas desgostosa, pensando que sua mãe havia ido embora, e não a quisera levar. Á boa maneira da nossa terra, ao verem a menina a chorar, logo se juntou um magote de gente, até que, apareceu um cavalheiro, de meia idade, cabelos brancos, que a interrogou, querendo saber se ela pretendia ir para casa dos avós, ou dos pais. Ela queria ir para casa dos pais. Então o dito senhor, pegou nela, chamou um taxi, e levou-a ao barco. Comprou-lhe o bilhete, e comprou para ele um bilhete de gare, indo dentro da embarcação, onde pediu a uma senhora que tomasse conta da menina, até ela chegar ao destino.( ao que parece, naqueles tempos não havia pedófilos, nem se roubavam criancinhas. Na verdade também ainda não se faziam transplantes de órgãos, a coisa mais moderna que havia era a estreptomicina, para a cura da tuberculose. Bons tempos.....e Rita sorri de novo) Chegada a casa, Ritinha verificou que não estava ninguém. Aí compreendeu, que tinha havido um desencontro. Expedita, Ritinha, quando viu isso, foi imediatamente telefonar para a quinta, afim de avisarem os avós, de que ela estava em casa e em segurança. Como sempre sua mãe, tinha-a subestimado, não acreditando que ela iria no autocarro das três horas. Quando deram pela sua falta, entraram todos em pânico, menos o tio Abílio que, garantia, estar a sobrinha em casa, contudo ninguém lhe dava ouvidos. Por essa altura, a única pessoa que ficou tranquila, foi a avó. De resto andavam todos como loucos á procura dela. Todos sabiam, que ela não se perdia, mas como sabiam também, que não tinha dinheiro, temiam estivesse nalgum lado, sem poder ir para casa. O tio insistia, - Vamos para casa, tenho a certeza que a minha sobrinha já lá está. Enfim, lá foi com a mãe. Quando chegaram a menina estava em casa duma vizinha amiga da mãe. O tio chamou-a com um assobio, como era seu costume. Quando ouviu o tio, ela teve medo de ser castigada, porém o tio quando chegou perto dela, abraçou-a a chorar, dizendo: - Eu sabia, eu sabia. Ninguém me quis ouvir quando eu quis vir embora. Ninguém acreditou em mim. Mas eu conheço bem a minha sobrinha....! Ao recordar a cena, Rita dá uma boa gargalhada. Ainda hoje não entende, a razão pela qual, sua mãe dizia que só lhe dava vontade de se atirar ao rio. Suporia ela que a filha estava lá no fundo!? Sua mãe e os melodramas dela. A vida tinha sido para si, um eterno e trágico romance. O pai chegou já bem tarde, triste, porque havia encontrado, nas esquadras onde procurara a filha, muitas meninas perdidas, mas feliz, porque a sua menina era demasiado esperta para se perder. Eles é que a tinham perdido....Ao constatar que o principal problema da filha fora a falta de dinheiro, e que por isso, tinha estado na iminência de ficar sozinha num sítio ermo sem hipótese de ir para casa, nunca mais deixou de lho dar. A partir dessa altura, o pai dava-lhe por semana 2$50, ela era uma menina de sorte, com tanto dinheiro...! Tinha mais sorte, do que hoje. Sozinha em casa, sem dinheiro, pouca comida, este ano nem havia as filhós da mãe, nem o cacau quentinho, nada. Curiosamente, estes pensamentos fazem-na sorrir, e, também lhe trazem aos olhos uma lagrimita atrevida. Diz o povo que recordar é viver, e, na verdade, estas recordações fazem-na sentir-se bem disposta. Lembra também dos seus amiguinhos, a Rosinha, o Manel, o Fernando, a Blandina, a Carminha, o Arnaldinho, que seria feito deles? Ainda viveriam? Onde? Lembrar-se-iam dela? Vem-lhe lágrimas aos olhos ao recordar-se deles e das suas alegres brincadeiras. Recorda, os teatros ou cinemas, que faziam, em que ela era sempre a principal intérprete, e o Arnaldinho era o galã, e não pode deixar de rir, quando se lembra dele a beijá-la á cinéfilo, como ela era a maior de todos, ele para a beijar, tinha de subir para qualquer coisa, a fim de ficar mais alto. É que os galãs de cinema, eram todos mais altos que as mocinhas...ora essa! Imaginação era o que não faltava. Havia ainda o baloiço. Ou antes, três baloiços, pendurados num tronco duma oliveira, onde ela e a Rosinha e o Manel, costumavam brincar. E onde ela costumava cantar ao desafio com as “saloias” que trabalhavam na quinta. Esse baloiço durou até a nova urbanização dos Olivais; quando ela voltara a Portugal, eles ainda lá estavam, a recordar a sua infância, e única época da sua vida em que tinha sido feliz de verdade, fora quando estava em casa dos avós. Mais uma lagrimita de saudade á mistura com um sorriso de ternura. Grandes correrias, pela cevada, alta e fresquinha, eram polícias e ladrões. Ouviam-se os tiros, das pistolas de caniço, feitas pelo Manel. Pum! Pum! Era assim nesse tempo. Agora com as novas tecnologias, e a era espacial, será Pshiu! Pshiu!...realmente a tradição já não é o que era... Como diria a avó: - Modernices! Querida avó, se ela cá voltasse, muito se iria admirar com tanta modernice, viagens de ida e volta á lua, túneis por sob o mar, telemóveis, enfim....Se bem que a avó, sempre acompanhara a evolução dos tempos, com a maior naturalidade. Ai avózinha! Quanta saudade.! Ela adorava a sua avózinha. Agora sim. Rita chora a valer. Que importa? È Natal! Assim, acompanhada pelos seus bons fantasmas já não está tão só. Pela primeira vez, passou um Natal perto de sua avó...Estranhos caminhos tem a vida Ao longe uma campainha toca. É um toque, fraco, muito fraco mesmo. Afinal, é o telefone do vizinho que a acorda. Já é dia. Rita tinha adormecido, no sofá, entregue ás suas recordações nesta noite de Natal.. Arroja, 25 de Dezembro de 2002 Maria Isabel Galveias
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sábado, novembro 25, 2006

O CASO DE HOJE
Depois de ter estado a falar com o meu querido amigo Carlos Gil, decidi abrir um blog, para nele debitar, todas as coisas ediotas ou nem tanto, que me vão acontecendo no dia a dia.Só que, para contruir este blog, não dei dois nem três passos, dei por aí uns quinhentos...Dá realmente vontade de rir. Quando disse ao Carlos que não era capaz de abrir o blog, ele, ó tristeza, ó infutunio, ó isulto vil, maior de todos os insultos, chamou-me LOIRA!!!!. Logo eu, que tenho os cabelos da cor da neve!Depois de muito fazer, apagar, refazer, lá consegui construir o blog, não é muito ao meu jeito, não era isto que eu queria, mas, seguindo o conselho de quem sabe mais do que eu nestas coisas de bloguisses, este vai dar para eu me familiarizar nestes eventos (acho que são inventos, serão?) bom seja lá o que for aqui está o meu blog, novo, acabadinho de sair da forja, ainda com um xeirinho, a talco e água de colónia, como um qualquer recem-nascido que se presa.A partir de agora, é só dar largas á imaginação, e cá vou eu, embalada nas doces e suaves ondas da net.Net, maravilha das maravilhas! Companheira de jornada já lá vão uns bons seis anitos.Jé nem saberia viver sem ela; modernices como diria a minha querida e santa Avozinha.E, como já estou aqui "agarrada" ao PC, navegando há um bom par de horas, estou cansada, e, com uma forte dor no pescoço e nas costas. Estas desbragadas noites de navegação, já não são para a minha idade, ou serão? Lylybety
Postado por lylybety em 09:36:00 Sem comentários:


COMO FOI HOJE?
Hoje foi um dia parecido com aos outros, salvo pequenas diferenças. Ontem estive por aqui até de madrugada. Enfim, chegou o João Pestana, que há alguns dias se tinha ausentado, não sei muito bem para onde, de vez em quando faz destas. Pois dizia eu, o João Pestana, chegou, muito dengoso, muito carinhoso, e catrapus, não resisti aos seus encantos, e, lá fomos muito agarradinhos pra cama. Foi uma noite tão intensa, e tão longa, que, só ás 18h de hoje, consegui libertar-me dos braços dele. Só espero que este amor, seja duradouro, e que de novo esta noite me envolva nos seus ternos e doces braços, para que fiquemos ambos bem aconchegadinhos no vale dos lençóis. Após de, ainda meio ensonada ter visto algumas séries interessantes na TV, séries que costumo acompanhar, nada de telenovelas, dessas estou mais que farta, as séries são para mim muito mais importantes, mas isso também não interessa nada. Mas já me perdi.....Ah!, pois foi, depois de ver TV vim até aqui ter com este meu amante, que, confesso é muito mais apegadiço do que o já falado João. Li o correio, enviei algum, visitei uns grupos de que faço parte, e, agora é que foram elas, onde andava o meu Blogs que tanto me custou a conseguir? Pois foi. Não sabia dele, nem como é óbvio sabia como nele entrar . Andei de déu em déu, até que lá o descobri. Então, ó milagre dos milagres, tinha cá para meu espanto duas mensagens. Uma do Carlinhos , e outra duma simpática, que não conheço, mas espero vir a conhecer. Pois é. E agora? Não sei responder.....É isso mesmo, ainda não sei como se faz. Contudo deixo aqui neste momento a minha gratidão, e, o meu carinho aos dois. Bem hajam. Lylybety
Postado por lylybety em 09:27:00 Sem comentários:


PÔR DO SOL AFRICANO
 África, é um continente lindo; cálido, envolvente, onde todo o ambiente nos parece abraçar e acariciar. Só pode corroborar esta minha opinião, quem já lá esteve, nem que fosse por breves dias. Na quente e luminosa tarde africana, o Sol de oiro começa a descer no seu ocaso, como se fora uma enorme bola de fogo, alaranjado. É uma hora mágica; os animais começam a regressar aos seus abrigos, e, nesse instante ouve-se a restolhada dos gamos, impalas, coelhos, enfim toda a fauna daquele lindo continente; os pássaros regressam aos ninhos, e com o seu chilrear, parecem felizes e transmitem-nos felicidade; as crianças que brincam nos terreiros frente ás palhotas, deixam de o fazer, e, entram nelas. De repente tudo parece parar. A Natureza, como que fica em transe, nada se ouve, nem um piar, uma corrida, um grito, um silvar das folhas das árvores, nada.... Depois, numa explosão de sons, os morcegos saem dos telhados das habitações, e, aventuram-se no céu em bandos, com grande alarido no seu chiar; ao mochos e as corujas também se apressam a acordar piam no seu piar agoirento. Toda a savana parece acordar para o trabalho dos seus habitantes nocturnos. Enquanto isso, o sol, vai-se sumindo, e já o céu parece um enorme braseiro, todo ele vermelho e alaranjado; até que subitamente, quase sem nos apercebermos, o Sol desaparece; quase em simultâneo, já a Lua espalha a sua clara luz, por aquela terna, Quente, doce e afável terra, que é o continente africano.... Lylybety
Postado por lylybety em 09:17:00 Sem comentários:


QUEM TE MANDA A TI SAPATEIRO?
Exactamente! Quem te manda a ti sapateiro tocar rabeca? Entrei para este mundo da blogosfera, é assim que se diz não é? Mas será assim que se escreve? Como ia dizendo entrei para este mundo, sem trazer nem sequer um fósforo, ou seja, completamente ás escuras. Não percebo nada disto. Primeiro foi uma trabalheira para conseguir abrir o blog agora é outra para entrar? Postar? Colocar? Sei lá como se diz, e ainda menos como se faz, os separadores ou links ou lá o que é. Bem pelo menos, dá para eu dar umas boas gargalhadas á custa da minha falta de habilidade. Também não admira, ninguém me ensinou a mexer em PCs e muito menos nestas andanças da net. Tenho vindo a gatinhar, e estou a começar a dar os primeiros passos. Ainda muito indecisos, cambaleantes Mas com o tempo eu sei que vou andar a passos firmes. Para isso conto com a ajuda de quem faz o favor de visitar esta minha palhota. É. Agora ainda é palhota, mas aos poucos vai-se transformar num palácio, ou então num hotel de 5 estrelas. Quem viver verá. Até lá, tenho que andar por aqui á pesca, a fim de encontrar alguma coisa que me ajude nesta tal história dos links. É que eu tenho umas ideias, não sei é como praticá-las. Se não divido o que escrevo, por quartos e salas individuais, vai haver aqui uma tal bagunça, que nem eu me vou entender com ela. Mas o pior, pior, pior, foi que falando eu, com uma amiga, a respeito da criação deste recanto, ela disse-me, que tinha tentado um blog aqui no sapo, mas não se entendeu, então aconselhou-me o MSN dizendo ser mais simples. Bem mandada como sou, lá fui eu. Pois fui. Mas perdi o norte, e agora não sei lá ir de novo. Para mim, o tal ainda é mais difícil do que este. Enfim logo se vê..... Lylybety
Postado por lylybety em 09:02:00 Sem comentários:


VISITA A MINHA FILHA
SABADO 20-8-005 Hoje fui visitar a minha filha, e os meus netos, mas principalmente os meus bisnetinhos. Cheguei, perto do meio dia, o Leo estava ao colo da mãe. Está tão grande, e tão esperto! Acho que gostou de mim, pois eu brinquei com ele e ela fartou-se de palrar. Só tem um mês e meio, mas já palra tanto!! Está lindo, achei-o parecido com o avô e com o tio Fábio, muito embora o achem parecido com o pai. Levei uma bola de praia ao Tomás, ficou tão contente!!!! A mãe é que não gostou que lhe tivesse dado a bola. É que ele gosta muito de bolas, mas, como é um menino muito activo, quer correr atrás da bola, e têm de segurá-lo. Acham que ele é de vidro então está super protegido, por mais que eu diga que ele tem de se defender sozinho, não me ligam importância, afinal eu já sou velha, e, não percebo nada de nada sobre crianças.... Nunca criei nenhuma....! Enfim! Almoçámos uma sardinhada. Depois do almoço o Leo adormeceu, a Teresa, sua mãe, quis ir arranjar o cabelo. Eu ainda lhe disse que o deixasse ficar a dormir, eu tomaria conta dele, mas ela teimou em levá-lo. O menino não parece gostar muito de colo, estava muito calor, e, ele não conseguiu dormir muito tempo....ficou rabugentinho. Como bebé que é, chora e leva as mãozinhas á boca. Sua mãe acha que ele tem fome e pimba dá-lhe de mamar, mas ele tinha mamado, e ainda não tinha, passado o tempo necessário entre mamadas, mama pouco, e fica ainda mais rabugento, ora na opinião abalizada da avó e da mãe, o que ele tem é mau olhado. Depois de devidamente benzido, ele continua a choramingar, a mãe acha que são gases, e enfia-lhe um supositório Bem-uron, para lhe aliviar as cólicas, que no seu entender haviam sido provocadas por duas colheres de chá de água que o menino bebeu, a meu conselho. É que o menino não deve beber água, no entender dela. Penso que, elas em vez de progredirem regridem no tempo, ou serei eu que estou velha, caduca e não sei o que digo? Sempre a choramingar no colo da mãe, o bébé em todo dia não dormiu aquele soninho que todos os bébés devem dormir. Enquanto a Teresa jantava, peguei nele, trouxe-o para a sala, deitei-o no sofá, e, acabaram-se as cólicas e a rabugice, esperneava, esbracejava e palrava comigo que era um louvar a Deus. Assim o consegui manter calmo, até perfazer o tempo regulamentar entre as mamadas. Acabou por ficar com fome, a mãe deu-lhe de mamar e ele já ficou mais ou menos, só que, durante todo o dia não dormiu, e estava muito rabugento, como é normal nas crianças de tão tenra idade. Por mais que eu lhes diga que as crianças devem ter horas certas para tudo, eu sou parva, sou antiquada, e não sei o que digo. Meu Deus! Eu fui mãe de quatro filhos, que não têm entre o mais novo e o mais velho seis anos de diferença. Sempre os eduquei a fazer uma vida regrada e de horas certas, não me deram trabalho nenhum a criar. Fui a mãe mais feliz do mundo. Sempre dormiram toda a noite, sempre fizeram o soninho entre as mamadas, e, não morreram á fome, por lhes dar de comer de três em três horas, e, nem por isso deixaram de ser uns bebés desenxovalhados, e de serem os homens bem constituidos que são hoje. Pois é! Mas isso são coisas de velha, já não se usam. Nada como dar-lhes de comer de meia em meia hora, para que fiquem gordos e anafados, no entender da mãe e da avó. Mas eu nada tenho com isso. Não sou eu quem os atura.... Estávamos a ver as notícias, quando a TV enguiçou. Deve ter sido avaria no sinal de satélite. Aí, o Cardoso, meu genro, começou a barafustar que, os nossos canais, como ele diz, não se devem ver por satélite, mas sim pela antena normal, também não entendi essa, mas não admira sou velha e estúpida. Só que ele a barafustar, não disse, mas eu percebi muito bem, que ele estava a atirar para cima de mim as culpas da avaria, já que eu tenho o péssimo costume, de ver outros canais, que não são o Playboy, a SIC, ou a Spot-TV. Fui com a intenção de lá passar o fim de semana, mas depois de ter feito mal em levar a bola ao Tomás, ter deitado mau olhado ao Leo, e ter avariado a TV, não tive ânimo de lá ficar nem mais um segundo. Assim sendo, dei corda aos pneus e vim para a minha casa. Afinal de contas, aqui é que eu estou bem. Mais uma vez, me senti personna non grata lá em casa. Era minha intenção, quando saí de manhã ao ir para lá, ficar a ajudar a minha filha, que tem sempre montes de roupa para lavar e engomar, e, bem assim, sempre montanhas de lixo para despejar, há imensa imundície naquela cozinha do lume, eu queria ajudá-la a dar um jeito naquilo tudo, pois ela é sozinha, e é uma casa de gente. Depois tem lá o Tomás, que dá imenso trabalho, porque elas querem, ele é um santo menino, mas lá está, mal habituado. A mãe, não faz nada de nada á minha filha, até inclusivamente é a minha filha quem depois de fazer quase tudo, ainda tem de olhar por ele. Mas eu sou velha e tonta...Ainda engomei uma pecitas de roupa, era minha intenção passar o resto durante a noite, quando estivesse mais fresco, pois o calor era insuportável, mas, optei por me vir embora. Trazia o coração apertado como sempre. Filha é filha, neta é neta, mas não dá. Já são demasiadas vezes que, me sinto mal lá em casa. Penso mesmo, e, não é por despeito ou maldade de minha parte, mas penso que tão cedo não irei lá. Acho mesmo que só lá irei se for convidada para alguma coisa, o que duvido que aconteça. E, assim, um dia que eu supunha, iria ser feliz acabou sendo um dia triste, em que mais uma vez me senti muito só, á margem de tudo e de todos. Mas que hei de fazer? Eu sou velha e tonta!!! Agosto de 2005 Lylybety
Postado por lylybety em 08:55:00 Sem comentários:

RECORDAÇÕES
Mais um fim de semana! Micaela detestava os fins de semana. Sabia que iria para casa, se encafuava no sofá a ver televisão, ou a dormir. Como era sozinha, nunca tinha vontade de sair de casa.Houve um tempo que ainda saía de vez em quando com sua amiga Raquel, mas esta tinha arranjado um companheiro, e já não lhe sobrava tempo para saídas com a amiga. Pelo menos Raquel andava feliz, já era algo de positivo. Olhou o relógio, 18,30h. Tinha despachado o seu trabalho cedo. Pôs em ordem os papeis, arrumou-os na gaveta da secretária, tapou o computador, acendeu um cigarro, que raio de vicio tinha arranjado, enfim alguma distracção havia de ter...esta era a desculpa que ela dava, quando lhe chamavam a atenção por fumar, ás vezes em demasia. Recostou-se na cadeira saboreando o cigarro, e sorriu para consigo, pelo facto de ter sempre a sua secretária impecavelmente arrumada. Suas colegas diziam que era mania, mas não, era tão somente a força do hábito. Fechou os olhos, e recordou com alguma saudade o seu primeiro emprego. Luísa, sua chefe era exigente, e não gostava que as empregadas deixassem as secretárias desarrumadas de um dia para o outro. Dizia e com razão que havia documentos com alguma confidencialidade e não deveriam ser expostos á curiosidade dos empregados de limpeza. Assim Micaela ficara com este pequeno defeito profissional. Talvez por isso entre outras coisas, ela era a funcionária em quem o Director mais confiava. Voltou a olhar para o relógio, faltavam cinco minutos para as sete, preparava-se para sair, quando o Director a chamou pelo interfone.- D. Micaela?- Sim senhor Director.- Ainda bem que não saiu, poderia chegar aqui ao meu gabinete? O que seria este queria agora?Bateu á porta, e, entrou.- Desculpe D. Micaela, mas preciso que me faça o favor de enviar por correio electrónico, ainda hoje, este relatório para Deutz, é que só agora o Conselho de Administração deu autorização para comprar as peças dos motores das máquinas, e sabe como é importante que as mandem com a maior brevidade.Com certeza Sr. Director. Respondeu cortesmente.Já ia a sair quando ele pergunta:Espero que não vá transtornar os seus planos, como é fim de semana... - De modo algum. Não tenho nada importante para fazer este fim semana. Não atrapalha nada.- Nesse caso, fico muito grato. Até segunda e bom fim de semana.- Bom fim de semana também para si, responde ela já da porta. Como era seu costume leu atentamente o relatório, e só depois o passou no computador. Eram 21h quando deu por findo o trabalho.Pegou na mala e saiu.Na rua estava um calor infernal, como tinha ar condicionado nem se tinha apercebido do calor que estava. Ainda bem que o carro já estava á sombra.Pôs o carro a trabalhar, e enquanto o motor aquecia acendeu outro cigarro. Apetecia-lhe sair, ir ao cinema ou a outro lado qualquer, mas sozinha? Suspirou e arrancou um pouco irritada consigo mesma.O transito estava impossível, o que contribuiu para a enervar ainda mais. Por fim lá conseguiu chegar a casa, cansada e aborrecida.Foi ver se tinha mensagens no telefone, mas ninguém lhe tinha telefonado como era usual, nunca ninguém lhe telefonava...Tomou um duche frio, e preparava-se para comer qualquer coisa, quando, milagre dos milagres, o telefone tocou. Viu as horas, era já meia noite, quem seria a esta hora? Ficou um pouco assustada, seria alguma má notícia?Um pouco a medo atendeu: - Sim?- Boa noite, responde uma voz masculina que lhe era vagamente familiar, é de casa do sr. David Falcão?Ficou um pouco indecisa, quem seria este? Pelos vistos não sabia que estavam divorciados.Mas deixou-se levar pelo instinto, e respondeu:- É sim.- Seria possível falar com ele?- E quem quer falar com ele?- Sou um amigo e antigo camarada da tropa, o Simões.O Simões? Que estranho, então ele não sabia? Cada vez mais intrigada responde:-Ah Olá sr. Simões como está? E a sua esposa como vai?- Eu estou bem, ela não sei, nós separámo-nos, já há três anos.- Sim? Não sabia. O David não me contou nada.- É natural, eu desde que vocês estiveram em nossa casa nunca mais falei com ele, por isso suponho que ele ainda não sabe.Pelos vistos fora contagioso, pois havia também três anos que ela e David se tinham separado.Contudo alguma coisa lhe soava estranho. Porque haveria o Simões de telefonar aquela hora? Aqui havia coisa. Sorriu, a desconfiança tinha sido nela inoculada por David. - Pois ele não está. Neste momento está a trabalhar.Qualquer coisa lhe dizia que não devia falar da sua separação, assim, seguiu o seu instinto que raramente a enganava. - Então a D, Micaela pode dizer-me onde ele está a trabalhar?Gostava de falar com ele. E agora Micaela? Como vais descalçar esta bota? Mentindo claro.- Pois não sei! É que ele foi para um novo cliente, e ainda não me disse onde estava.Pareceu-lhe que ele estava a rir-se. Também Micaela és uma desconfiada, pensou, apercebeu-se porém que para ela era difícil dizer que era divorciada, era como se tivesse sido marcada com um ferro em brasa...- Ah! Se ele lhe telefonar diz-lhe para ele me ligar por favor? Eu hoje estou de serviço nos bombeiros.- Com certeza, dir-lhe-ei sim. - Então boa noite, e desculpe tê-la incomodado a esta hora.- Não tem importância, boa noite! Tinha perdido o apetite. Ela que tudo fazia para tentar esquecer David, havia sempre alguma coisa a recordar-lho. E como não havia de haver, se ela tinha fotos dele espalhadas por toda a casa, exactamente no mesmo sítio onde as colocara ainda casada. Olhou para uma que estava sobre a televisão. Ele parecia sorrir-lhe, dava a sensação que queria dizer-lhe algo.Mas David nunca mais dera sinal dele. Isso entristecia-a demasiado. Tinham decidido continuar amigos, mas sem ela saber porquê ele deu o dito por não dito, e nunca mais soube dele.... Contra sua vontade, lágrimas rebeldes rolaram-lhe na face.Não fora de sua vontade a separação. Sabia que ele também não queria isso, então o que foi que aconteceu? Que foi que os separou? O orgulho, só o orgulho idiota de cada um deles.Agora ela levava uma vida vazia sem interesse por nada.Tinha alguns amigos que ás vezes a convidavam para sair, mas sabia de antemão que a intenção não era só levá-la a passear, almoçar, ou ir ao cinema.....Só que ela fazia-se desentendida, eles acabaram por desistir. Agora sozinha muitas vezes se arrependia, mas não podia fazer nada. David era e seria sempre o seu marido.... Embrenhada nestes pensamentos, nem deu pelo tempo passar, e quando viu as horas era quase dia, cinco da madrugada....resolveu tomar um comprimido para dormir, dormir, esquecer, era tudo o que lhe restava.Estava quase a adormecer, quando o telefone toca de novo.Meu Deus, pensou, quem será agora? Só temia que algo acontecesse a algum dos seus filhos, estavam tão longe dela.... E tão esquecidos que tinham mãe....- Estou?- Boa noite! Ou será bom dia? Ainda acordada?Micaela deu um pulo. Aquela voz...estava a sonhar ou era David? Não, não podia ser....- Estou sim, quem fala?- Ainda não passou tanto tempo que não reconheças a minha voz, ou já?- Na verdade não estou reconhecendo não, respondeu insegura.- Estás sozinha?- Isso interessa?- Sim. É até importante, para mim, saber.- E porquê?- Diz-me só se estás sozinha ou acompanhada.- Se é tão importante, estou acompanhada, mentiu. Lá estava o orgulho a falar mais alto. Mas que queres? Precisas de alguma coisa?- Afinal sempre conheces a minha voz. Preciso sim. Preciso de ver-te.- Lamento, mas não vai ser possível.- Está bem, sendo assim até outro dia em que estejas sozinha.- Adeus, até esse dia. Desligou o telefone e chorou, de raiva, se queria tanto vê-lo, porque respondera assim? Maldito orgulho, que falava sempre mais alto!Não foi para a cama, deitou-se no sofá e ali ficou a chorar de raiva e saudade.Pouco tempo depois era a campainha da porta que tocava. Raio! Quem seria agora, será que não podia dormir nem um segundo esta noite?- Quem é? Ninguém respondeu. Devia ser algum vizinho que se esquecera da chave, só podia.- Quando ia voltar para o sofá, ouviu um pancada leve na porta. Espreitou pelo ralo, e... era ele! Era David! Não podia ser. Não podia acreditar. Abriu a porta e lá estava ele sorrindo com ar burlão. - Posso entrar?- Claro. A casa é tua.- Posso beijar-te?- Também. És o meu marido. Podes e deves.- Ele beijou-a suavemente como era seu costume. - Micaela estava radiante. Não cabia em si de tanta felicidade.- David fora visitá-la, ao fim de tanto tempo....- Sentaram-se e conversaram imenso tempo, até que ele perguntou, posso cá dormir hoje? - Podes a cama está vazia, eu durmo no sofá.- E não queres dormir comigo?- E tu queres?- Foi para isso que vim, apesar das tuas mentirinhas...E foram...Que bem lhe sabia sentir o corpo dele encostado ao seu.- Ouviu ao longe uma melodia de Mozart...ela adorava Mozart- A melodia repetia-se uma e outra vez...até que acordou e se viu deitada no sofá, e era o telemóvel a tocar, o seu amigo Ricardo, convidava-a para ir tomar café com ele. Reparou então que era domingo, pois só ao domingo ele a convidava...O que ela julgava ser o corpo de David, eram as costas do sofá.Mais uma vez a visita de David não passara de um sonho...Porque acordou? Estava tão feliz a sonhar...E o telefonema teria sido sonho também?Efeito dos comprimidos para dormir que ela tomara....Sentiu-se mais triste e infeliz que nunca.....Mesmo assim, vestiu-se para ir tomar café com o amigo. Talvez David aparecesse por lá....Quem sabe? A esperança é a última a morrer....Quando chegou, já Ricardo a esperava. Acolheu-a com o seu costumado sorriso amigo...Entretanto, o sr. Maurício que era o dono do café, pessoa sempre bem disposta, e, que parecia gostar de Micaela, chamou-a e, disse-lhe baixinho: - Sabe quem esteve aqui ontem?O seu coração pulou-lhe no peito, mas disfarçando respondeu:- Não. Quem foi? - O sr. David. - Sim? - Sim. Vinha com pressa, mas veio cumprimentar-me. Sabe? Achei-o triste, abatido parecia mais velho...Meu Deus, pensou, todos o vêem menos eu...Afivelou um sorriso despreocupado, e lá foi tomar café, e conversar com o seu inseparável amigo Ricardo...De volta a casa, tomou uma dose maciça de sonoríferos, e dormiu até ás 7,39h de segunda feira de um só sono.Tomou o seu habitual duche, e lá foi para mais uma semana de trabalho. Arroja 2002-07-26 Maria Isabel Galveias

RECORDAR É VIVER
Hoje fui a uma entrevista a fim de arranjar um emprego, para as minhas horas livres. Foi uma autentica romaria de saudade.A entrevista era nos Olivais. Olivais Sul como agora é designado. No tempo em que lá vivi, era Olivais somente..... Teria que estar ás 13h no n.º 56 da rua Cidade da Beira. Não sabia onde era, no meu tempo por ali só havia quintas, e oliveiras.Fui cedo, para descobrir o local, e, chegar a horas á entrevista, perguntei ao motorista da Carris, onde ficava a dita rua, ele parecia não saber ao certo. Nesta bem fadada terra, se alguém souber alguma coisa vai preso, por certo.Desci do autocarro, na rua de Nampula, passei nas ruas de Quelimane, João Belo, Lourenço Marques, Inhambane.......No espaço de uma hora percorri, Moçambique do Rovuma ao Maputo, até que chaguei á rua Cidade da Beira.Esta rua fica perto do lindo Vale do Silêncio, esse sim, é do meu tempo. Para fazer tempo, pois era ainda muito cedo, entrei num café, e, quando estava tomando a minha bica, entrou um senhor, muito bem disposto e galhofeiro. A empregada começou a brincar com ele, e, ele acabou por dizer que tinha 80 anos. (Não lhe daria mais de 50) Como boa Moçambicana, logo entrei na conversa, perguntando se ele era daqueles sítios, ao que ele respondeu:- Sou aqui nascido e criado minha senhora, já lá vão 80 anos....- Então, deve lembrar-se da Quinta dos Serrões...- Se me lembro! Havia lá uma fábrica de Curtumes, trabalhei lá- Conheceu portanto, o meu avô, ele era o encarregado da fábrica.- Se conheci. Era boa praça esse sr. Paulino, era assim o nome dele não era?- Era sim. Eu fui para essa quinta, quando tinha 18 meses, vivi lá até perto dos 14 anos....- Ai minha senhora, isso é que eram tempos...!- É verdade! Sabe? Estes Olivais de hoje não me dizem nada, já nem sei onde estou.- Aqui é a quinta do Patacão, lembra-se?- Lembro sim, vim muitas vezes aqui apanhar caracóis, com a Rosita da Alaguesa.- A Rosita? A senhora conheceu a Rosita?- Sim. Fomos criadas juntas. Nunca mais a vi!- Ela mora na Rua Alves Gouveia vejo-a muitas vezes.- Quando estiver com ela, diga-lhe por favor, que encontrou a Belinha dos Serrões, e que ela lhe manda um grande abraço está bem?- Minha senhora, ainda hoje lhe vou dar esse abraço, fique descansada!- O senhor lembra-se, dos bailaricos dos Santos Populares, que havia no Rossio? (Largo da Viscondessa)- Se me lembro... Eram outros tempos. Quantas vezes lá ouvimos os Lírios, no tempo do Jacinto Lopes...- É verdade. Ele cantava tão bem! Havia também os Mensageiros do Ritmo, com o João Loureiro....Era a época do give, das rumbas, o xa-xa-xa, o tango, enfim nesses tempos não eram ainda consideradas danças de salão, dançavam-se em todos os bailaricos...- Minha senhora, nem imagina, quanto me alegro, por poder falar desses tempos, com quem os viveu...Esta mocidade de agora, tem tudo o que nós não tivemos, mas com tanta coisa, que nem sabíamos que existia, nós fomos muito mais felizes. Fala-se da fome que se passava nesse tempo...Eu nunca tive fome! Haviam tantas árvores de fruta, e fruta da boa, sem corantes nem conservantes, como a de agora. Ia-mos á xinxada, e enchia-mos a barriga. Os donos faziam de conta que não nos viam, e no fundo, era a maneira da rapaziada se divertir. Não havia droga, nem nada disto que o dito progresso nos trouxe.Eram quase horas da minha entrevista. Com alguma pena, pois havia ainda tanta coisa a recordar ,despedi-me do senhor, dizendo:- Bem tenho de ir. Talvez nos encontremos por aqui mais vezes.- Aí minha senhora. Oxalá assim seja. Hoje foi um dos dias mais felizes que tive. É tão bom recordar o passado!O senhor tinha lágrimas nos olhos, e eu também. Afinal, não sou só eu que tenho saudades, há mais quem tenha.Acrescento, que consegui o tal emprego. Fico duas vezes feliz. Uma porque o consegui, outra porque vou ter oportunidade de voltar a ver aquele senhor, que tanto gosta, como eu, de recordar o nosso lindo bairro dos Olivais, quando ele tinha realmente oliveiras, e, muitas quintas, com alegres camponesas, com quem eu cantava ao desafio.Foi um lindo dia para mim..... Arroja-21-7-2004 Maria Isabel Galveias

simbiose
tinha sido um dia daqueles...........!um dia em que tudo me fazia lembrar os bons momentos já passados, e, me fazia sentir uma enorme solidão, um enorme desejo de amar e ser amada.á noite, estive como de costume, agarrada ao meu companheiro fiel, o meu pc. porém, por qualquer circuntãncia, estava inquieta. era meia noite. .algo me impeliu a sair. ir até ao meu monte mágico, aquele onde tudo me parece perfeito, e, onde eu consigo acamalmar e retemperar forças.carregar as baterias como eu costumo dizer.como sempre tudo era calma e magia. aquele lugar tem para mim , o fascinio do sonho.fiquei dentro do meu carro a olhar as estrelas, que não sei porquê , ali parecem ser maiores, mais lindas e com mais luz.de súbito, os meus olhos fixaram-se numa, que parecia ser, de todas a maior, a mais brilhante, como se círius se estivesse a dirigir a mim.começou descendo, descendo, e quando estava já perto muito perto, tu desceste dela envolto numa luz azul incandescente. olhei-te e verifiquei que tinhas os braços estendidos para mim, como numa súplica de entendimento, de simbiose, de ternura e de sonho.aproximáste-te, demos as mãos, ficamos ambos estáticos olhando-nos, sem falar, apenas as nossas mãos se apertavam e os nossos dedos se entrelassaram, como se fossem membros do mesmo corpo. um só corpo.começas-te a puxar-me , em direcção á estrela brilhante, eu, sentia uma leveza e uma calma, como não sentia há muito tempo.só nessa altura a tua voz suave, terna e doce me disse baixinho: - vem! não receies. verás que no nosso mundo de encanto e magia,tudo é como tu gostas. lá só existe o sonho etéreo onde tudo é perfeito. vem!eu deixei-me conduzir por ti, como que deslizando no espaço, fomos os dois sem palavras, subindo........subindo, olhava para baixo e via o meu monte cada vez mais longe.... longe.....longe........de súbito uma luz mais forte me feriu a vista, fazendo-me piscar os olhos, então deixei de sentir a tua mão na minha. pareceu-me cair com brusquidão num poço, onde , sem saber como, magoei um braço. abri os olhos, era dia. o sol iluminava-me.fora ele que m me acordara, tinha passado a noite no meu carro adormecida sobre o volante, daí a dor no braço.além da dor no braço, senti mais aguda a dor da solidão, e, a tristeza de que só existe simbiose perfeita no sonho. lágrimas cristalinas corriam-me nas faces, não eram de tristeza, eram pela felicidade plena sentida nessa nóite, com o contacto amigo da tua mão, fazendo-me sentir querida e importante. pela primeira vez na vida, alguém tinha querido partilhar comigo, toda a magia , sentida numa simbiose perfeita.por esta noite mágica te ficarei eternamente grata................maria isabel galveias piedade, 12 de novembro de 2000


Uma noite de Natal Rita, está só. Só, na mais completa profunda e amarga solidão. Ela sempre gostara de estar sozinha, todavia, como essa solidão hoje é dolorosa...! Recorda com alguma amargura, as palavras proféticas de sua mãe, quando ela era ainda uma garota, e se isolava do mundo...- Credo rapariga! Só, se veja, quem só, se deseja....Lembra-se ainda, de na sua curta
DIARIO DE UMA MULHER LIVRE
E Olá meu querido!Como o prometido é devido, e como eu costumo cumprir as minhas promessas, aqui estou a escrever os acontecimentos do meu dia.Depois que te foste embora, e como sempre, entrei nas catacumbas da incerteza e da dúvida. Sou assim, que posso fazer?!É que tu és para mim uma espécie de manjar dos deuses,mas como eles são maus e desconfiados, depois do doce ,dão-me, sempre algo amargo.Tu por exemplo, és um doce muito amargo.Enfim, eles decidiram assim, ou seria eu quem decidiu? Não sei, e isso é que me incomoda bastante. Seja como for, o certo é, que tenho de aceitar as decisões, sejam elas minhas ou deles ,tenho de viver com elas.Depois da tempestade vem a bonança, não é assim?Assim aconteceu!Dormi profundamente, mas poucas horas. Acordei como de costume às 6h e 30m, meia ensonada, ainda fiquei a preguiçar durante uma hora, depois fui trabalhar.Mas muito chateada, porque tinha comprado uma tarte de frango,e,quando fui por ela, para a levar para o meu almoço, já a Mané a tinha comido!!! Assim não vale! Porque eu não mexo em nada dela. Enfim não vale a pena dizer nada. Mas fiquei aborrecida lá isso fiquei.Comecei mal o dia. Tive até, uma certa tendência para o acidente.Primeiro , o carro não queria pegar. Depois tive de dar a volta por cima da relva, porque puseram um camião a impedir-me a passagem. Como a relva estava molhada e a terra fofa, o carro atascou um pouco. Por fim lá consegui sair e chegar á escola já atrasada. Como era de esperar, levei uma rocatela da chefe, mas nada de grave já se vê.Mais tarde, quando ia a entrar no meu “parvalhão”, por artes de magia, a porta salta das dobradiças, isso mesmos literal e exactamente, sic, elevou-se no ar, e caiu com um estrondo tal, que toda gente que estava na escola, acorreu, a ver o que tinha acontecido. O vidro da dita, ficou reduzido a pedaços, ou antes pedacinhos, o maior dos quais, teria por aí 5cm. Mas não ficou por aqui, o aspirador, quando lhe peguei, partiu-se em dois, já é preciso ter azar!..Não me terias rogado alguma praga...?Tudo isto aconteceu, entre as 8.30h e as 14h. Hora a que estou a escrever. O resto do dia descrevê-lo hei logo á noite se lá chegar, a bem dizer, não é?Esqueci-me de contar, que como já vem sendo costume, lá vesti o hábito de freira, para ouvir as confissões do Duarte. A penitência que lhe recomendei, foi que jogasse na lotaria ou no totoloto; pois, para a sorte ser completa, só lhe falta um filho preto, de resto tudo lhe acontece.E pensava eu que não tinha sorte...?! Livra!!!Do resto do dia, por estranho que pareça, perdi o rascunho,Mas sei que não foi nada de especial.Até amanhã, meu amor, beijinhos, beijocas, beijufas,Da tua LUISA DAS CATACUMBAS. 6ª feira, 14 de Abril de 2000 Boa noite meu amor...!Hoje foi mais um dia que passou.Um dia igual a todos os dias. Pouco há para contar.São nesta altura 3h. da manhã de Sábado.Achas muito tarde? Pois é muito cedo!Esteve a chover, quase todo o dia. Quando cheguei a casa a Rita veio ter comigo. Conversámos, como é nosso costume.Falámos de ti, e da nossa atribulada relação. Ela acha graça, e pensa que tudo se resolvia entre nós se não houvessem tantos preconceitos, e se tivesse-mos umas mentalidades menos arcaicas. Enfim opiniões dos jovens..Entretanto, eu fiquei terrivelmente indisposta, não sei se terá sido, por causa de um pastel de nata que comi. Fomos para a minha cama, como é costume, e eu adormeci.Como a Rita ia para o Algarve, com a madrinha, despediu-se e foi-se embora, seriam umas 7h da tarde.As 21.30h. telefona-me a Joana. Disse-me que lhe apetecia sair, porque era 6ªfeira, no Sábado não se trabalhava, enfim deu-me uma boa mão cheia de razões, para irmos sair. Resolvemos ir aos fados.Fui ter com ela. Continuava terrivelmente mal disposta. Ao chegar a casa dela, e depois de beber uma garrafa de água, acabei por vomitar, e lá melhorei um pouco.Fomos para a farra. Passamos um serão agradável, naquele ambiente bom que tu conheces. Acabou ás 2.A Lucinda, esteve connosco, e no final como ela mora no Olival, trouxe-a, lá arranjei mais uma amiga.Cheguei a casa, tomei banho, vim conversar um pouco contigo, através deste meu diário, meio maluco, mas de mim nem outra coisa era de esperar. Dorme bem meu querido. Milhões de beijinhos doces e fofinhos, da tua agoniada LUISA Sábado, 15 de Abril de 2ooo My love, my sweet love, Cá estou eu de novo.Hoje é o 3ª dia do resto das nossas vidas e é Sábado. Ou antes, ontem foi Sábado. E digo ontem porque são 4h. da manhã. Como vês é bem mais tarde do que ontem. Pois é. Deitei-me eram 6h. da manhã. Grande vida! Não é?Não. Não é. Cheguei a casa ás 2.30. Mas estive a falar contigo, por isso me deitei tarde. Que é que essa cabecinha tonta estava a pensar?Acordei com o telefone, [ás 10h. era o Ribeiro. Conversei um pouco com ele. Depois foi a Joana, a dizer-me que tinha combinado com o Teixeira, encontrarmo-nos com ele no Feira Nova de Telheiras, a fim de ele nos dar os nossos cheques.Bem, lá fomos. Eu continuava indisposta. Afinal não foi no Feira Nova, mas sim no Continente, a Joana preferiu assim, porque estava lá a colega dos copos,(brindes) Aqueles que ela nos mostrou, lembras-te?Como eram horas de almoçar, comemos por lá. Viemos embora, e eu vim para casa sempre mal disposta, acabei por vomitar outra vez. Deitei-me e dormi um pouco. Melhorei.Eram 21h, lá estava a Joana a telefonar, a convidar-me para sairmos.Sair? Onde? Aos fados claro. Onde haveria de ser?Lá fomos, e lá conquistei mais um amigo e admirador, o Vilaça.Parece boa praça. Mas é um pinga amor... Sei lá os rapapés que me fez.Convidou-nos para irmos ás 6ªs feiras aos fados, ao Leão das Furnas, não sabes onde é? Nem eu.! Parece que é perto do Jardim zoológico, só pode ser, se é leão...Mas ele disse-me que telefonava na 6ª feira e iríamos com ele. Logo se verá.Disse-me ainda, que havia de me ensinar a cantar. Bonito! Agora depois de velha, vou virar Prima Dona.A noite acabou ás 2h.. Vê bem, a parva da Joana, queria que eu fosse levar o Vilaça a Sacavem, é maluca!Outra coisa. Achei piada. O Vilaça ofereceu-se para sair connosco, mas foi logo adiantando, que seriam sempre contas á moda do Porto e esta?E bem. Viemos embora, trouxe novamente a Lucinda. E depois do meu banho, vim conversar contigo, para ver se me dá o sono. Mas tu tiras-me o sono não me dás. Mas como tudo o que vem de ti é bom quando não é mau, só para poder escrever para ti, viva a insónia!Por hoje é tudo, um gran............de chicoração desta tua mal disposta e insone LUISA Domingo, 16 de Abril de 2000 Good evening my sweetness, Mis um dia passou. Sem te ver e sem te falar.Hoje para mim, foi dia não. E para a Joana também.Dormi muito pouco e esse pouco foi em sobressalto.Sinto saudades de ti. Sinto também como sempre muitas incertezas. Falta-me ouvir a tua voz a dizer-me que está tudo bem. Estará?Fiz um esforço enorme, para te não telefonar.E por via das dúvidas, tive sempre o télélé, desligado, para evitar tentações.Foi um dia muito aborrecido. A Joana, insistiu para que fosse almoçar com ela, não me apetecia sair de casa, mas lá fui.Ela estava também muito deprimida. Foi ás compras ao Lumiar, lá, encontrou o Agostinho, ele perguntou-lhe se ela queria vir com ele, como ela lhe dissesse que ainda tinha qualquer coisa para comprar, foi-se embora e não esperou por ela. Daí ela ficar muito triste com a frieza dele.Almoçámos, e resolvemos ir ao baile.Só fui para que ela não dissesse, que não a acompanho onde ela gosta de ir, mas fui de muito má vontade.Dançámos um pouco. De repente vejo-a a ir em direcção ao bengaleiro, muito agitada. Fui atrás dela. Estava com um ataque de choro, quis ir para o carro sozinha. Fiz-lhe a vontade. Porém eu também não estava bem. Fui ter com ela, e viemos embora.Propus-lhe um passeio de carro. Apetecia-me conduzir. Já te disse, parece-me, que a condução, para mim é um calmante.Fomos ao Infantado, a uma lanchonete perto das piscinas. É muito agradável.Um dia, talvez, iremos lá os dois.Depois do lanche, fomos dar uma volta saloia. Ás 20h. regressámos a penates. Vim tentar mais uma vez estragar o computador.Depois telefonei á Joana. Não falámos muito, porque estava lá o Agostinho. Aleluia! Aleluia!!!Foi Sol de pouca dura. Ela telefonou-me agora, a dizer que pouco tinham conversado. Não conseguiu falar com ele. Diz que se sente inferiorizada, e pouco à-vontade. Diz que gostaria de conversar com o Agostinho, como nós conversamos.Mas nós, somos nós, não é my love?Será que voltamos a conversar?Se isso não acontecer, fica pelo menos em mim uma boa recordação. A vida é feita de recordações não é?Estou insegura, em relação a ti. Mas ao mesmo tempo, sinto uma calma, uma tranquilidade, que me deixa assustada. É como se vivesse sem vida. Estranha, esta minha forma de viver...!Agora vou tentar dormir. Amanhã é dia de trabalho.Boa noite amor, um beijo muito grande da tua estranha (bota estranho nela) LUISA 2ª feira 17 de Abril de 2000 Olá meu bem, Sobre o dia de hoje, e porque estou tremendamente nervosa, nada tenho para contar, excepto que fui às Torres de Lisboa, á Unielert, para ir buscar uma credencial, a fim deIr trabalhar para o Manuel Nunes. Deixei o carro estacionado, e quando cheguei, tinham-lhe dado uma pancada, que lhe amolgou a porta de trás, do lado esquerdo, toda.Mas enfim. Não há de- ser nada, e se for alguma coisa, que seja uma menina para não ir á tropa, muito embora as meninas agora também irem, porém não é obrigatório, como os rapazes. E mais não digo, pois nada mais tenho para dizer. Agora só falarei perante o meu advogado.Até amanhã, um beijo da desconsolada, LUISA 3ª feira 18 de Abril de 2000 Good evening my love, Que bem que eu escrevo em inglês, não escrevo?Mais um dia passou, sem eu saber de ti.Será que ainda moras no mesmo planeta que eu? Ou já mudaste de sítio?Foi como sempre, um dia igual a todos os dias. Monótono, triste, chuvoso, nem parece Primavera.Estive a fazer promoção da Knorr no Manuel Nunes, em Famões.É uma acção sem brilho. Não há clientes. Ninguém tem dinheiro para compras.Seriam umas 11h. da manhã, quando a Joana, me telefonou. Disse-me que te tinha telefonado, só para ouvir a tua voz. Ela lá sabe. Disse-me que tinhas uma voz triste, e que lhe pareceste adoentado.Depois de sair do meu trabalho, fui á oficina com o carro, para saber quando lá o poderia pôr para arranjar. Só dia 2.Voltei para casa, cansada, e sem vontade de ver ou falar com alguém.Mas não me é possível, sentir um momento de desânimo, porque há sempre alguém que precisa dos meus fracos préstimos, e lá telefona a Joana, dizendo não saber carregar o telemóvel e a pedir a minha ajuda.De má vontade lá fui.Depois ela não quis ir para casa, pois achava que era muito cedo, apetecia-lhe ir petiscar qualquer coisa, lá fomos ao Duarte, comer umas petingas fritas, que por acaso até me souberam muito bem, mas me fizeram muito mal.A Joana insistiu, para que te telefonasse, assim fiz. Porém, se o arrependimento matasse, teria morrido na hora.Mas todo o mal tem um final passa depressa. Também assim aconteceu comigo.Seriam 21h quando o meu telélé tocou. Era o Aníbal, a perguntar se eu já tinha B.I. É que eu fiquei de lhe mandar fotocópia via fax, e ainda não o fiz.Perguntou-me onde estava, porque ele estava em Santo António dos Cavaleiros.Disse-lhe. E mais, como ele já me tinha convidado para tomar café umas quantas vezes, desta vez convidei eu.Foi ter connosco. Petiscou. Depois fomos para casa da Joana.É uma pessoa agradável o Aníbal.Conversámos até ás 2 da manhã. Falámos de muitas coisas e de muita gente, incluindo a tua pessoa, como era de prever. Falámos sobretudo de trabalho. Ele tem umas quantas ideias, mas não é idiota, e sem ser ilusionista, também tem umas quantas ilusões.Não. Não me refiro a essas. Refiro-me a ilusões filosóficas e utópicas, de como gostaria de singrar na vida.A Joana, ficou até de lhe arranjar alguns contactos com empresas.Penso que agradaram um ao outro.Depois vim para casa.Sentei-me ao computador, a escrever as memórias do dia. Bem curtas por sinal. E foi assim. Até amanhã meu querido. Um beijo da (tua?) desmemoriada, LUISA 4ª feira dia 19 de Abril de 2000 Olá, quem? Não sei bem. Depois de uma manhã, sem graça, e compartilhada com pessoas pouco agradáveis, liguei o telefone, e tinha uma mensagem tua. Milagre! No entanto, não percebi patavina do que dizias. Ouvi, tornei a ouvir, devia estar completamente estúpida, porque continuei sem perceber. Só percebi, que tinhas deixado qualquer coisa para mim com a  Manela, qualquer coisa, que eu não iria gostar. Não entendi essa, mas está bem.Mais tarde liguei para ti, para ver se me explicavas, o que querias dizer, mas tu não te mostraste muito interessado. Achei uma certa graça, quando ao atenderes, possivelmente sem te dares conta, disseste, cá está a nossa amiga, pareceu-me ver uma certa ironia na tua voz. Possivelmente estaria enganada. Possivelmente? Perguntaste-me, entre outras coisas, se eu estaria feliz com a minha liberdade, e eu respondi, que a minha liberdade, era condicionada, pela minha consciência. Parece que não percebeste muito bem, o que eu teria querido dizer. Onde andam essas tão famosas antenas? Perdeste faculdades? Tudo me leva a crer que sim. Voltei de novo a ouvir a tua mensagem. Havia nela uma acusação de que não sei ou não percebo qualquer coisa, costumo perguntar a quem sabe, voltei a ligar para ti, para que me explicasses o que querias dizer. Porém, quando ias para atender, e possivelmente, possivelmente? Sem te dares conta mais uma vez, disseste: - cá está esta gaja outra vez! Como não quero ser chata, desliguei, bastante chateada, por acaso. Depois de ter falado com a Joana, sobre este assunto, ela falou contigo em resultado dessa conversa, deixei-te uma mensagem em que te peço para que,caso possas e queiras me ligues. Veremos o que farás. É tudo por hoje. Espero que durmas bem. Um beijo da gaja. LUISA 5ª feira 20 de abril de 2000 Olá, continuo sem saber bem o quê. Hoje foi um dia mais ou menos bom. O dia. Porque a noite...Depois de acabar o stok , mandaram-me para casa, pois não se justificava, estar na loja, não havendo mercadoria. Assim, saí e fui á CGD, e depois ao CPP, fazer umas transacções, quando ia a meio caminho, telefonas tu, a dizer-me que ias a Lisboa, e a propores-me um encontro. Claro que como sempre aceitei com satisfação. Fomos a Lisboa, depois disseste-me que tinhas que ir para casa, [porque tinhas deixado arroz-doce ao lume e podia queimar-me], mas entretanto, mais tarde virias á tua lição de [violador) e passarias cá por casa e possivelmente jantarias comigo, porém não tinhas a certeza disso. Ficaste com as certezas todas depois, e decidiste não jantar. Assim foi. E tudo estava bem. Foste embora, dizendo que lá para o S. António, nos voltaríamos a ver, talvez. Concordei. Que mais poderia fazer, contra factos e decisões não há argumentos, não é?Confesso, que não me agrada muito a ideia de não saber muito bem, qual é o meu papel, mas vamos vivendo e vendo, assim, como assim...Saíste, e como eu tinha feito um esforço muito grande para me manter calma e serena, fiquei arrasada. Deitei-me e adormeci.Como sempre, Sol de pouca dura. Não me é permitido dormir.O telefone toca. Ouvi, mas não me apeteceu atender.Era a Joana. Falou com a Manela. Ficou admirada, por eu ás 22h já estar a dormir, porque eu nunca durmo. Pediu até á Manela para ver se eu estaria bem. No entanto a Manela, está-se nas tintas, para que eu me sinta bem ou mal, a bem dizer, como já não precisa de mim...O Júlio, é que não sabendo das intenções dela, não percebendo que ela atendeu o telefone, ao ouvir este tocar, pensou que eu não estaria em casa, mas reparou que eu estava deitada e chamou-me. Aí, não tive outro remédio senão acordar claro.Alguns poucos minutos mais tarde, ligas tu, aflito por causa da tua irresponsabilidade de pai, em relação ao Ricardo.Pobre Ricardo, no meio de desmiolados como vocês, que não sabem ser gente, quanto mais pais...!O resto da história já sabes, não preciso contar mais nada.Só que depois de terem saído, me senti bastante mal. Mas não morri infelizmente, ainda tenho muito que chorar e rir. Boa noite. Luisa 6ª feira 21 de Abril de 2000 Depois de uma noite bastante atribulada, em que não dormi, e me senti bastante mal, em que me lembrei bastante do meu marido, mais velho, e de como ele se sentia antes de falecer, pensei até, que idiotice, se não seria ele a avisar-me do que me poderia acontecer, se eu teimasse em me relacionar contigo.Nunca uma noite foi tão grande. E uma manhã tão comprida. Telefonei á Joana que , nesta altura do campeonato, é a única com quem posso contar por enquanto, já se vê.!Aos trancos e barrancos, lá consegui ir ás compras para o almoço, e lá fui almoçar com ela.Depois dos acontecimentos de ontem, de ti não mereci nem um telefonema a dizer-me como estariam as coisas contigo!Soube que estava tudo bem, porque telefonei ao Ricardo. Pareceu-me calmo e sereno. Pobre Ricardo, já está habituado, coitado.Depois de almoço, senti-me pior do que durante a noite, uma dor forte no peito e nas costas, que me provocava vómitos, e se alongava para o braço,Fez-me pensar, se não iria ter um enfarte, a Joana assustou-se, e teve a infeliz ideia de te dizer, é burra todos os dias, podia ser só aos fins de semana, mas não é aos feriados e tudo.Depois de ir ao Catus, e ter sido medicada, voltei para casa, e graças a Deus, fiquei boa. Decidi então sair com a Joana, e a Regina.De ti nem uma palavra. Muito bem, aplaudo de pé.E este foi mais um dia do resto da minha vida.Espero que durmas bem, e sem cuidados.Só te peço, tem um pouco de respeito carinho e ternura pelo Ricardo, que não pediu para nascer, nem para ser castigado ao Inferno, pois ele não tem culpa se os pais não sabem ou não querem resolver os seus próprios problemas, e não vêm que ele é ainda um menino, que se sente só, e sem saber muito bem ao certo, para onde vai. Por favor cresçam. Já vão sendo horas de deixarem de olhar só para o vosso umbigo! Neste mundo cão, mas que também é de Deus, há mais pessoas, que também têm sentimentos, respeitem-nos. Por hoje é tudo. Estou como deves sentir, indignada. Luisa Sábado, 22 de Abril de 2000 Hoje é Sábado, depois de mais uma noite atribulada, consegui dormir, e durante esse pouco tempo, fui feliz.Também, eu só sou feliz a sonhar. Mas é preciso que esses sonhos me levem para bem longe, até á minha África, e a tudo o que de bom lá deixei, sobretudo a minha juventude. Mas sonhos são sonhos, e a realidade, é bem mais dura e ruim.Acordei ás 11h. De ti, nem sinal. Que é que eu poderia esperar? Nada!!!Telefonei á Joana, é só ela quem me resta a bem dizer. Ás 14.30h. fui arranjar o cabelo. Até a Cristina achou que eu não estava nos meus dias.Ao sair de lá, tive a (grata?) surpresa de te ver. Pouco falámos, tinhas como sempre a roupa no cloreto.Fui até à Joana, sempre a Joana, benza-a Deus!Decidimos, ir á nossa habitual noite de fados. Parece que aquela tonta, resolveu enquanto eu fui á casa de banho, convidar-te a ir também.Apareceste, e foi bom. Sobretudo porque me consegui livrar do melga que é o Vilaça, coitado, lá se foram as suas ilusões!...Foi uma noite morna, sem grandes acontecimentos, o maior dos quais, foi que, não sei porquê, toda a gente desafinou, a cantar, até a Rosinha e o Zé.Ficaste connosco até ás quatro da manhã, ou seriam 5?Eu tive que ficar em casa da Joana, porque burra que sou, esqueci-me das chaves em casa e a Manela só vem 2ª feira á noite, esta burricoide, chegou a lamentar não te ter dado já uma chave da minha casa, assim não teria que ficar na rua. Sou parva, porque dadas as circunstâncias, ficava na rua na mesma, já que, a roupa que tinhas na lixívia, podia estragar-se, e por isso não me virias trazer a chave.Ainda bem que não dei. Não dei nem darei, não mereces nem vale a pena. Porquê? Ainda tens a ousadia de perguntar? E foi assim o Sábado. Curto e sensaborão, veremos como será o domingo. Até lá. Luisa Domingo, 23 de Abril de 2000 Hoje foi Domingo de Páscoa. Fiquei em casa da Joana, como já era do conhecimento geral.Acordámos cedo. Fomos ás compras, ela estava esperançada em que o Agostinho viria almoçar, mas como eu, e tu, calculámos não veio. Homens...! Fomos até ao Infantado tomar café. O Zé Luiz foi connosco. Muito chateadas as duas, porém ela mais do que eu. Eu ainda era suficiente ingénua, para pensar que te lembrarias de mim, antes do dia acabar, parvoíces...! Ainda fomos tentar abri a minha porta, mas não conseguimos.Lembro-me que a Joana, te perguntou, se irias ficar sem dar notícias muito tempo, como tinhas feito, a semana passada, tu garantiste que não. Disseste que telefonarias. Mas o certo é que passou todo o dia, e de ti nem um sinal, o que a ela incomoda mais do que a mim. Á noite depois do jantar, a Joana pediu-me para lhe cantar um fado, cantei mais do que um,. Fomos deitar era quase 1h. da manhã. Ela dormiu logo. Eu como sempre fiquei de plantão a fazer versos á Lua.Ainda te mandei uma mensagem, não sei se a recebeste. Também não estou muito preocupada com isso. Sinto até, que os nós que me atavam a ti, estão muito mais lassos e fáceis de desatar.São nesta altura 5h da manhã de 2ª feira, que será mais um dia que passarei, fora da minha casa. Por hoje é tudo. Espero que passes muito bem. Até amanhã. Luisa 2ª feira 24 de Abril de 2000 e como eu prometi, não sei ainda porquê, nem se valerá a pena, cá estou a contar mais algumas coisas dos meus dias sem sabor, nem cor.Acho que não tenho mais nada a dizer.O meu diário finda aqui, Luísa Autora, maria Isabel Galveias (Lylybety)
COISITAS
Hoje foi um dia de saudade. Assisti na TV memória á grande noite do fado. Vi o Fernando Maurício a cantar. Senti uma enorme saudade. Saudade dele, que já partiu há alguns anos, e, saudades de mim, pois já há bastantes anos, que com ele estive no Luso. Nesse tempo, era eu uma jovem de quarenta anos. Pergunto a mim mesma, para onde foi o tempo? É irritante, tenho um espirito muito jovem, acho que terá por aí uns vinte anos, contudo, ao ver-me no espelho, vejo um corpo velho, disforme, em nada correspondente ao espirito, não é para dar raiva? Como o espirito, o corpo não devia envelhecer..... Fiquei também inquieta. É que dou muito valor aos provérbios , raramente me engano, e, pelo que vi, este ano vai ser mais um ano de seca. Porquê? Foi Lua Nova ontem, dia 3, e diz o povo, que, Lua Nova Setembrina, sete meses determina. É verdade! Nunca falha! Os incêndios, voltaram. A falta de água agrava-se. A coisa está a ficar feia. Porque será que a água do mar não apaga os incêndios? Coisas da Natureza.... O que não é da Natureza é o fogo posto, ou será? A natureza humana é tão estranha.... Por uns patacos queima-se um país. Ainda não entendi onde estará o ganho. Enfim, mentalidades, e falta de lei e de ordem, é o que é!. Penso que, se deveria fazer como fizeram os Israelitas, filtrar a água do mar, e, torna-la potável. Mas num país como o meu, só se fosse para arranjar outro ás do futebol no mar, é que se faria alguma coisa..... Olho para a situação deste Portugal, dos pequeninos, e não vejo ninguém capaz de tomar as rédeas deste País. Só existe politiquice, nada de boa política assim não vamos longe não. Estou adoentada. Vou parar por hoje, também, nada disse. E tenho tanto para dizer. Mas hoje não posso, estou muito mal disposta, agoniada, e com vertigens. Será da tela do monitor? Pode ser. Eu não uso óculos, pode ser falta de vista. Mas não há um oftalmologista que acerte com os meus olhos... Já fui a vários, receitam-me óculos que me custam um dinheirão, e na volta não vejo com eles. Vejo melhor sem eles. mas não admira, eu sou mesmo é do contra.... Amanhã haverá mais... Lylybety

sábado, janeiro 06, 2007
SILENCIO, PAZ OU SOLIDÃO?
Chegou do emprego cansada, afinal era o fim de uma semana de trabalho com um horário extenso e cansativo. Pensou para si própria que apesar do cansaço poderia ler todos os mails que não tinha lido, abrir todas as cartas que se foram amontoando ao longo da semana, ver televisão ou simplesmente não fazer nada e ir dormir cedo. Por volta das dez horas da noite, já estava a semicerrar os olhos e pensou que não tardaria muito em ir deitar-se e ler até adormecer. Aquele livro pousado na sua mesa de cabeceira à cerca de dois meses já a incomodava. Até era interessante, caso contrário já o teria posto de parte, simplesmente nos últimos tempos, só conseguia ler duas ou três paginas por noite. No entanto, ao ler um mail que um amigo lhe enviara, reparou num link de um site de musica. Não resistindo ao apelo implícito, foi ao PC , abriu o site indicado e com um sorriso pensou que este seu amigo de longa data sempre tivera bom gosto e a conhecia bem. Deliciada, não sentiu mais o sono e o cansaço e enquanto escutava a música, pegou numa caneta e em várias folhas brancas e começou a escrever. Era noite já alta e ela ouvindo musica de um site da Internet e a escrever os seus pensamentos mais íntimos, foi invadida por uma sensação de conforto e de paz, como há muito não sentia. De tempos a tempos, parava de escrever, fechava os olhos e languidamente deixava que a musica a invadisse, transportando-a para mundos de sonhos e fantasia, de amor e sensualidade. Pensava nele, mas estranhamente não se sentia sozinha ou triste. A solidão por vezes fazia-se sentir, mas ela ao contrário de muita gente, até gostava de alguns momentos em que se sentia afastada de tudo e do silencio que a rodeava. Lembrou-se de uma grande amiga, que se lamentava muitas vezes, por não ter um minuto que fosse, só para estar com ela própria, sozinha e em silêncio total. A noite avançava e ela pensava em todas as pessoas que tinham feito parte da sua vida. Teve saudades dos amigos que não abraçava havia tempo, dos amigos que já tinham partido prematuramente, dos amores que tivera, nas oportunidades não aproveitadas. Sentia que grande parte da sua vida já tinha passado, no entanto isso não a entristeceu, pelo contrário, fez com que ela entendesse, naquela noite de primavera e de repentina insónia, que queria continuar a viver intensamente todos os momentos, como aquele em que sozinha e em silencio apenas lhe chegavam baixinho os sons da musica. Bem haja o seu amigo, por lhe ter lembrado que a música Era uma grande companheira. Tranquilizante e sadia. Quem se sentia só? Ela? Não jamais. Arroja, 20-12-1999 Maria Isabel Galveias -


Á NOITE, DEBAIXO DO VELHO PINHEIRO

No concelho de Sintra, existe lá bem no meio de nenhures, um monte onde fica uma capelinha, dedicada á Senhora da Piedade. É um vulgar monte, para a maioria das pessoas que por lá passam. Nada tem de especial, a não ser a paz que irradia, e a belíssima paisagem que se estende perante os olhos do vulgar visitante. Contudo, para quem tem alma de poeta e sonhador, aquele monte tem algo de fascinação e magia. Só um sonhador, pode ver o maravilhoso pôr de Sol, com cambiantes que vão do violeta, ao vermelho, numa variedade, que inclui todas as cores do Arco Íris. Só uma alma de poeta, para ouvir e entender todos os sons, desde o restolhar da brisa, até ao pipilar dos pássaros. Só um poeta sonhador, para ver as estrelas, cuja luz parece ser mais cintilante. Há até quem diga, que até os extraterrestres, por lá gostam de poisar as suas naves. Será? Quem sou eu, pobre sonhadora, para o desmentir? Uma noite, em que estava em plena contemplação das estrelas, ouvi um ruído fora do usual. Apurei o ouvido e a vista. Que estaria a acontecer? Estava uma noite enluarada, calma, nem a brisa suave se fazia sentir. Só a Lua, cheia, sorridente lá no alto, como que dando as boas vindas, a quem vinha instalar-se na sua linda sala e visitas. Vi então uma velha coruja, que, se instalou no cimo de um ramo do velho pinheiro, que fica perto da clareira. Chegou depois um mocho, que, se instalou ao lado da coruja. Começaram então a conversar. Sim! Não se admirem. Eu ouvia-os conversar, e, entendia tudo o que diziam, talvez porque eu sou daquelas poucas pessoas, que, entendem a magia e o fascínio daquele lugar. Querem que lhes conte o que diziam? Vou contar: Mocho:- Boa noite comadre Coruja, como tem passado? Coruja:- Olá compadre. Eu tenho passado menos mal, com toda a chuva que tem havido, tive até algumas inundações no meu ninho, e o senhor? Mocho:- Sim. Tem chovido bastante, mas é época da chuva não é? Estou muito curioso! Parece que as rolinhas têm algo para contar, e, estou ansioso para ouvir. Coruja:- Sim também sei disso. Foi por essa razão que convoquei todos os animais do monte, para uma assembleia geral. Devem estar a chegar. Novo ruído, este maior que o primeiro. Eram os coelhos, os ratos, as doninhas, os gatos vadios, e, até o Sultão, cão de guarda do casal que fica no monte lá estava. Depois, como se fosse uma lufada de vento, chegaram as aves, pardais, toutinegras, rouxinóis, milhafres garças e também lá estava dona gaivota, em representação da sua aldeia, para tomar nota, do que se iria passar. Por fim, como convidadas de honra, um pouco atrasadas, como é do protocolo, chegaram em voo rasante, duas lindas rolas. Cumprimentaram todos os presentes e instalaram-se no ramo central do velho pinheiro, como figuras principais da assembleia. Boa noite! – disseram, sabemos que estão á espera da nossa história, com interesse e alguma curiosidade. Devemos dizer-lhes, que é uma bonita história, a que hoje lhes trazemos......
AS ROLAS CONTAM A SUA HISTÓRIA .
...Esta tarde, quando fomos beber á fonte das Aranhas, estavam duas meninas conversando. Comentavam entre si, um caso que se passou, faz tempo. Conheceram elas, uma jovem, que muitas vezes vinha á fonte, beber água. Naqueles tempos, a fonte jorrava água cristalina, e fresca. A jovem costumava sentar-se no tanque da fonte, e, começava a cantar com voz dolente, o que seriam talvez as suas mágoas. Tinha uma voz maviosa e linda que encantava quem a ouvia. Um dia, a menina, ouviu o trote de um cavalo, e, resolveu esconder-se. Aproximou-se então um jovem cavaleiro, que, também veio beber água, e dar de beber ao seu belo cavalo. Aquele lugar era tão fresco e acolhedor, que o jovem resolveu, sentar-se á sombra, onde acabou por adormecer. Durante o sono, sonhou que havia ali uma bela menina, que cantava uma linda canção de amor, onde falava dum marinheiro, que em tempos partira, e, que nunca mais voltara, deixando a sua amada á espera sem notícias. Lembrou-se então o jovem, de que, ele também fora marinheiro, e que também ele, estava ausente há muitos anos, sem dar notícias a ninguém. Estava precisamente de regresso da sua longa e aventurosa viagem, em terras desconhecidas, das quais voltava, rico e famoso. No seu sonho, o jovem viu a sua velha mãe, triste e chorosa, por não saber se seu filho era ou não vivo, viu também que, seu pai havia já falecido, na ignorância, da sorte que seu filho havia tido, seus irmãos, também haviam emigrado, só estava junto da mãe, a jovem muito bonita que cantava. Embora não soubesse quem seria, o belo cavaleiro, mesmo em sonho ficou apaixonado. E, tão embrenhado estava em seu sonho, que, não deu pela tarde chegar ao fim. Só quando o frio apertou, ele enfim acordou. Contudo, foi á vila comeu, dormiu, e, no dia seguinte voltou á fonte, nem ele mesmo sabia porque lá voltava. Apenas sentia uma enorme vontade de lá voltar. Era ainda manhã. O jovem sentou-se de novo debaixo do velho pinheiro, e ali ficou a ver a paisagem, maravilhosa que todos conhecemos. O seu cavalo afastou-se, deliciando-se com a erva verdinha e fresca dos campos. Já perto do meio dia, veio a jovem de novo á fonte. Ao vê-la o cavaleiro, reconheceu a menina que havia visto em sonho. Não quis deixar passar a oportunidade, de a conhecer, e logo se dirigiu a ela, perguntando? - A menina é de cá, destas paragens? - Como se chama? - O meu nome é Margarida. Sim vivo aqui perto, com uma velha amiga. - Não tem família então? - Não! Só a senhora Berta, que me acolheu, quando eu era pequena. Ela costuma dizer, que de certa forma, eu, vim apaziguar a saudade, dum filho que partiu, e nunca mais voltou nem deu notícias. - A menina sabe o nome desse filho? - Sim. Chamava-se Miguel. Era marinheiro. Se calhar estará no fundo do mar. Tenho muita pena da sra. Berta. Já o marido morreu também com este desgosto.... - A menina tem noivo? - Não senhor. Quem é que quereria casar com alguém como eu? Nem sei quem foram os meus pais.... - E se eu quisesse casar consigo? - Ó meu senhor. Só por brincadeira me diria isso. Alem de que eu também não quero sair de pé da minha velha amiga. Ela não tem mais ninguém. Pobrezinha... e dito isto saiu correndo estrada fora. - O mancebo, chamou o seu cavalo, tomando-o pela arreata, seguiu também pela estrada, que levava ao povoado. - Chegado ali, dirigiu-se a uma velha casa, onde na soleira da porta estava uma idosa senhora, lendo. - O jovem cumprimentou: - Boa noite minha senhora. É por acaso a sra. Berta? - A pobre senhora levantou os olhos e respondeu. Sou sim senhor. E o sr. Quem é? Eu conheço-o? - Ninguém como a senhora, para me conhecer. Eu sou Miguel. O filho que julgava perdido. - A velha senhora, nem queria acreditar nos seus olhos e ouvidos. Comovida abraçou o filho dizendo: - Meu filho querido, porque nunca escreveste? - Minha mãe, na terra por onde andei, não era possível escrever, ou dar notícias. Mas aqui estou. Desta vez para nunca mais partir. Venho muito rico. Vou tirá-la desta pobreza, dar-lhe tudo o que merece, e recompensa-la daquilo que não pude dar-lhe. - Meu filho, sabes, tenho comigo uma donzela, que tem sido a minha alegria, na tua ausência. - Ele fez um ar carrancudo e disse: - E essa donzela, é lhe mais querida do que eu, que sou seu filho? - Não. Mas não a posso abandonar. Foi ela quem me acompanhou sempre. Foi ela quem sustentou esta casa, quando eu deixei de poder trabalhar. Para me levares daqui, terás que a levar também. - Sempre carrancudo ele responde: - Até pode ser. Também preciso de alguém para tomar conta de mim. - Mas meu filho. A Margarida não é uma empregada. É uma filha para mim. - Verdade? Se assim é. Então será mesmo filha. Pois tenciono casar com ela, minha mãe - Mas se tu nem a conheces..!? - Conheço sim. E digo-lhe minha mãe, assim que a vi, disse para comigo: - Esta vai ser a minha esposa e a mãe dos meus filhos... E assim foi. Casaram. E hoje as netinhas desse casal, vêm á fonte beber água, na esperança de que por ali passe algum cavaleiro, que queira com elas casar. O sr. Mocho, diz então: Vai ser difícil. Nos tempos que correm, só se for um motoqueiro.... Mas a D. Coruja, contestou: Cavaleiro, motoqueiro, marinheiro, pouco importa. O importante na vida é o Amor..... tudo o resto virá por acréscimo e a seu tempo.... Bem meus amigos, depois deste belo serão, são horas de cada um regressar ás suas casas. De novo se ouviu o restolhar, lá foi cada um para seu lado. Eu olhei o relógio, e, eram quase 4horas da madrugada... como o tempo tinha passado. A fazer-me companhia, só um rouxinol ficou a cantar, a sua eterna e solitária melancolia..... Digam lá, que este monte não tem magia.... Piedade, 19 de Dezembro de 1999 Maria Isabel Galveias.


Exactamente! Quem te manda a ti sapateiro tocar rabeca? Entrei para este mundo da blogosfera, é assim que se diz não é? Mas será assim que se escreve? Como ia dizendo entrei para este mundo, sem trazer nem sequer um fósforo, ou seja, completamente ás escuras. Não percebo nada disto. Primeiro foi uma trabalheira para conseguir abrir o blog agora é outra para abrir? Postar? Colocar? Sei lá como se diz, e ainda menos como se faz, os separadores ou links ou lá o que é. Bem pelo menos, dá para eu dar umas boas gargalhadas á custa da minha falta de habilidade. Também não admira, ninguém me ensinou a mexer em PCs e muito menos nestas andanças da net. Tenho vindo a gatinhar, e estou a começar a dar os primeiros passos. Ainda muito indecisos, cambaleantes Mas com o tempo eu sei que vou andar a passos firmes. Para isso conto com a ajuda de quem faz o favor de visitar esta minha palhota. É. Agora ainda é palhota, mas aos poucos vai-se transformar num palácio, ou então num hotel de 5 estrelas. Quem viver verá. Até lá, tenho que andar por aqui á pesca, a fim de encontrar alguma coisa que me ajude nesta tal história dos links. É que eu tenho umas ideias, não sei é como praticá-las. Se não divido o que escrevo, por quartos e salas individuais, vai haver aqui uma tal bagunça, que nem eu me vou entender com ela. Mas o pior, pior, pior, foi que falando eui, com uma amiga, a respeito da criação deste recanto, ela disse-me, que tinha tentado um blog aqui no sapo, mas não se entendeu, então aconselhou-me o MSN dizendo ser mais simples. Bem mandada como sou, lá fui eu. Pois fui. Mas perdi o norte, e agora não sei lá ir de novo. Para mim, o tal ainda é mais difícil do que este. Enfim logo se vê..... Lylybety


CARA OU COROA


Vá lá saber-se porquê, hoje lembrei-me de um episódio que, considero tragicómico. Tragicómico, porque mais tarde daria aso a momentos quase trágicos, momentos em que eu me sentia indignada e tristérrima, e quase perdi a vida. Cómico porque hoje ao lembrar-me dele, me dá vontade de rir.Foi há sensivelmente dezassete anos. Eu vivia com o Jorge há relativamente pouco tempo. Nesse serão estava cá em casa, um casal amigo, Sérgio e a Fátima,. Após uma longa dissertação sobre o casamento, eu acabei por dizer que não queria casar, pois não seria um papel que me daria a felicidade. Aliás penso que uma certidão de casamento não faz ninguém feliz, mas, pode tornar alguém muito infeliz.Conversa puxa conversa, o Jorge zangou-se e acabou por dizer que se tivesse carro, se iria embora para não mais voltar. Sérgio e Fátima, que não viam com bons olhos o meu “namoro” com o Jorge, pois este era um bêbado,  Assim, Jorge gritou irado:-Vai arrumar as minhas coisas, para mim chega,  vou-me embora de vez.Contente, já que o Jorge não tinha casa própria. o Sérgio prontificou-se logo a ir levá-lo a casa dos pais,  Um pouco triste, porque não era essa a minha vontade, eu e a Fátima lá fomos emalar a trouxa. Logo após o Sérgio saiu com ele a fim de o ir levar .Eu fiquei de lagrimita no olho, enquanto a Fátima me animava, dizendo ser o melhor que me podia acontecer, pois ele era muito violento (bota violento nisso) e eu não merecia os maus tratos verbais que de vez em quando me eram infligidos. Ao demais o Jorge estava desempregado, acho que ele não quer é trabalhar, dizia ela, e tu estás aqui a consumir-te. És uma mulher jovem ainda, isto se aos quarenta e três anos se pode considerar alguém jovem, bonita, podes arranjar alguém que te estime de verdade, etc. etc. etc. Subitamente, Fátima olha pela janela dá um pulo no sofá, e diz agitada, eles vêm aí, que terá acontecido?Na verdade, o que aconteceu? Teriam percorrido uns duzentos metros, quando Jorge diz para Sérgio: Para o carro, vamos voltar, eu não posso ir embora sem falar com ela de novo. Sérgio ainda o tentou dissuadir, mas Jorge insistiu e lá voltaram. Ao chegarem á entrada da minha casa, Jorge hesita, achas que deva ir? Pergunta.? Sérgio diz-lhe que será melhor ele ir-se embora de uma vez por todas. Mas Jorge, é do tipo que, se queremos virar para a esquerda, fazemos sinal para a direita, e teima, não, tenho de falar com ela. De repente, puxa duma moeda de 2$50 e diz, vou jogar a moeda ao ar, se sair cara vou embora, se sair coroa, e se ela me quiser fico.Saiu cara ou coroa? Não sei. Sei que ele voltou. Sei que fui jogada de cara ou coroa. Sei que me senti muito infeliz. Sei que o saber que tinha sido jogada assim me magoou. Sei que já passaram quase 18 anos, e hoje isso me faz rir......Lylybe

QUANDO BATE A SAUDADE




Hoje foi um dia de saudade. Assisti na TV memória á grande noite do fado. Vi o Fernando Maurício a cantar. Senti uma enorme saudade. Saudade dele, que já partiu há alguns anos, e, saudades de mim, pois já há bastantes anos, que com ele estive no Luso. e cantámos juntos. Nesse tempo, era eu uma jovem de quarenta anos. Pergunto a mim mesma, para onde foi o tempo? É irritante, tenho um espirito muito jovem, acho que terá por aí uns vinte anos, contudo, ao ver-me no espelho, vejo um corpo velho, disforme, em nada correspondente ao espirito, não é para dar raiva? Como o espirito, o corpo não devia envelhecer..... Fiquei também inquieta. É que dou muito valor aos provérbios , raramente me engano, e, pelo que vi, este ano vai ser mais um ano de seca. Porquê? Foi Lua Nova ontem, dia 3, e diz o povo, que, Lua Nova Setembrina, sete meses determina. É verdade! Nunca falha! Os incêndios, voltaram. A falta de água agrava-se. A coisa está a ficar feia. Porque será que a água do mar não apaga os incêndios? Coisas da Natureza.... O que não é da Natureza é o fogo posto, ou será? A natureza humana é tão estranha.... Por uns patacos queima-se um país. Ainda não entendi onde estará o ganho. Enfim, mentalidades, e falta de lei e de ordem, é o que é!. Penso que, se deveria fazer como fizeram os Israelitas, filtrar a água do mar, e, torna-la potável. Mas num país como o meu, só se fosse para arranjar outro ás do futebol no mar, é que se faria alguma coisa..... Olho para a situação deste Portugal, dos pequeninos, e não vejo ninguém capaz de tomar as rédeas deste País. Só existe politiquice, nada de boa política assim não vamos longe não. Estou adoentada. Vou parar por hoje, também, nada disse. E tenho tanto para dizer. Mas hoje não posso, estou muito mal disposta, agoniada, e com vertigens. Será da tela do monitor? Pode ser. Eu não uso óculos, pode ser falta de vista. Mas não há um oftalmologista que acerte com os meus olhos... Já fui a vários, receitam-me óculos que me custam um dinheirão, e na volta não vejo com eles. Vejo melhor sem eles. mas não admira, eu sou mesmo sou do contra.... Amanhã haverá mais... Lylybety


CRONICAS DO NADA

Escrever sobre o nada. Sentir-me livre para escrever.Sem metas, sem temas, os dedos escolhem as teclas e perseguem as palavras que nunca são as desejadas e a luta contra o silêncio obriga a um matraquear, a um perseguir do texto que alcance as emoções. Tento recordar coisas que substituam a amargura sentida por dias sem sentido, busco e não encontro as palavras que não há. E sobretudo emerge este silêncio, este teclado que me mantém de olhos baixos e há também aquela janela que está fechada. Para lá haverá um mundo que vivo como duplo de mim mesmo. É aqui que eu renasci, é aqui que comungo momentos de nada e de tudo. O fascínio da palavra acumulada inebria e, disparatadamente e ao acaso, derramo folias enquanto quero é falar deste silêncio e daquela janela fechada. Conseguirão os poetas esse nirvana mítico quando lhes explode a rima e em cascata as palavras soam como música e o coração estremece ao lê-las? Que gazua é essa que arrombou as vossas janelas? Sim, este mundo não precisa de engenheiros da palavra, mas sim de poetas que a avivem com a cor do sentimento. Com ternura. A tecla 'teclada' com a decisão de quem escolheu no seu íntimo aquela palavra que será a definitiva.Parida. Parida e sempre com amor. Obrigada por teres lido. Falo do nada, mas falo também de mim. Lylybety


TER OU NÃO TER NAMORADO


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, doce de côco, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, namôro, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo protecção. A protecção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem faz sexo sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Roberto Carlos, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afectivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases subtis e palavras de galantaria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.  e ENLOU-CRESÇA. Lylybety







































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